A importância de As Visões da Raven como referência para meninas negras
Os anos 2000 são repletos de filmes e séries icônicos, que marcaram uma geração e são ovacionados até hoje, principalmente com a nostalgia tão em alta entre millennials. Mas se tem uma produção que foi referência para meninas negras, era “As Visões da Raven” — sitcom estrelada por Raven-Symoné. Na série, a protagonista pode ver o futuro e tenta mudar o destino, mas acaba se atrapalhando toda vez.
Mas a personagem não se resume a isso. Ela tem talento para moda, faz suas próprias roupas e sonha em ser estilista, algo que até pode ser comum nas produções, mas não com protagonistas negras. Muito por conta disso, a série foi uma grande referência para as mulheres pretas, em especial as que também queriam trabalhar com moda.
No time do STL não é diferente. Várias de nós tivemos a Raven como alguém que aspirávamos ser e que, ao contrário das personagens de outras produções, era como a gente. Por isso, era como se o sonho de trabalhar com moda fosse mais possível, como contou Rafaela Lopes, nossa stylist: “Eu amava assistir 'As Visões da Raven' porque queria ser estilista, e esse era meu grande sonho da infância. Não tinha muitas referências de mulheres negras na moda e ela se tornou a minha primeira. Amava como ela customizava e fazia suas roupas e montava looks icônicos”.
Além de ser uma figura positiva na moda como profissão, a personagem também ajudou muitas meninas a descobrirem seu estilo, como foi o meu caso. A Raven tinha esse lugar de protagonista super cativante, o que era (e ainda é) incrível. Além disso, o estilo dela — colorido, criativo e até lúdico — é com certeza uma referência para mim ainda hoje.
Acho que porque ela existiu eu soube que podia me divertir com a moda. Sou apaixonada pelas cores, estampas e combinações que ela fazia.
É claro que com essa pegada fashionista, muitos looks dela ficaram guardados com muito carinho na memória de quem assistia o seriado, como a da nossa editora de beleza, Inaê Ribeiro: “Eu lembro da alegria que eu e minha irmã sentíamos ao sentar no sofá e assistir à série. Finalmente conseguimos nos ver em um personagem e para mim era ainda mais forte ver todos os looks coloridos e extravagantes da Raven. O casaco rosa com plumas nas mangas está guardado na minha memória até hoje. Com ela, eu aprendi o quanto as roupas são capazes de expressar nossa personalidade e levo isso comigo até hoje”.
Toda essa liberdade criativa também inspirou a criatividade de quem a assistia. "Quando adolescente, adorava ver alguém parecido comigo na televisão. Amava os looks divertidos da Raven e tentava reproduzi-los com o que tinha em casa. Me lembro de como ela criava suas próprias roupas, e eu achava isso incrível. Isso só alimentou ainda mais minha paixão por moda", disse Mayra Souza, do time de design.
Outro ponto muito importante sobre “As Visões da Raven” é que ela não passou apenas na TV fechada, porque foi exibida também pelo SBT. Isso faz toda a diferença, pois sabemos que o acesso a um canal pago era muito mais limitado e era um cenário onde a internet era inexistente para a maior parte da população.
“Hoje temos as referências na internet, mas, antigamente, quando eu era mais nova, não era muito comum ver protagonistas negras e fashionistas como a Raven. Eu, que sempre amei moda, achava incrível ver as produções e espontaneidade da personagem, e como ela criava suas roupas. Ver isso na TV aberta era muito legal, pois era muito comum em brincadeiras e conversas com amigas o clássico ‘eu sou fulana’, e eu nunca me via em ninguém. Ter a Raven fez muita diferença e realmente me identificava com ela e amava isso. Acho que ela ajudou muito no meu desenvolvimento dentro do mundo da moda e me fez ter cada vez mais vontade de estar nesse meio e querer ser única”, explicou Claudiana Ribeiro, community manager do STL.
Por todos esses motivos, o impacto de “As Visões de Raven” foi muito além dos ótimos números de audiência. Ela inspirou, emocionou e mudou a vida de milhares de meninas negras, como nós, que entenderam que podiam trabalhar com moda, se vestir do jeito que quisessem, abraçar as próprias características e se expressar através do estilo. E, principalmente, trouxe uma imagem positiva de uma adolescente negra que nos fez enxergar que também podemos ser protagonistas da nossa história.