Basta uma reflexão rápida para pensar em mulheres que tiveram impacto gigantesco na moda, ajudando a mudar o curso da história e influenciando para sempre a maneira que nos vestimos. É impossível, por exemplo, não citar Coco Chanel e seu novo guarda-roupa feminino; Mary Quant e a ousadia do comprimento mini; Vivienne Westwood e sua anarquia estética; Diane Von Furstenberg e o empreendedorismo por trás do vestido wrap; e Miuccia Prada com suas criações de apelo intelectual chique.
Mas, além desses nomes consagrados, existem outras tantas que também merecem ser celebradas e reconhecidas por seus papeis importantíssimos. Aproveitando a simbologia do dia oito de março, nossa proposta para comemorar a data é destacar aqui alguns desses exemplos e suas contribuições essenciais com uma lista de cinco mulheres que revolucionaram a moda e que talvez você não conheça.
(1890- 1973)
Expoente do movimento surrealista, Elsa Schiaparelli era a representante do conceito dentro da moda. Sua maison, fundada em 1927, era baseada em criações que exaltavam o fantástico e desafiavam noções de realidade, porém rigorosamente cortadas e com qualidade e acabamento ímpares.
Entre suas marcas registradas, a técnica trompe l’oeil e seu efeito de ilusão de ótica; acessórios irreverentes como chapéus em formato de sapato, luvas com unhas pintadas em vermelho; peças estampadas com figuras inusitadas de animais, a lagosta era uma de suas favoritas; a anatomia humana destacando partes do corpo como olhos, mãos e boca - costume recorrente no surrealismo - além da predileção por rosa choque, tom que ela ajudou a popularizar.
Ousada e criativa, seus designs se tornaram best-sellers e ela foi a primeira estilista a ser capa da revista Time. Visionária, foi pioneira em colaborações ao juntar forças com artistas como Meret Oppenheim e Salvador Dáli. Seu nome perdura até hoje e a sua maison foi revivida na última década com o atual estilista, Daniel Roseberry, referenciando constantemente a obra inesquecível e única da fundadora.
(1903-1993)
Apelidada de "esfinge da moda” por seu ar misterioso e persona discreta, a parisiense Germaine Emile Krebs - também chamada de Alix Barton (até eleger o nome Madame Grès) - não gostava de aparecer, nem de dar entrevistas. Porém, o talento enorme garantiu que seu nome ficasse para sempre gravado na história com papel de destaque entre as mulheres que revolucionaram a moda, já que muitos dos elementos célebres do armário feminino podem ser creditados à francesa, que sonhava em se tornar escultora e acabou realizando o desejo de forma alternativa, praticando a arte e utilizando tecidos como matéria-prima. Daí o título de "escultora da moda", que é muito usado para descrever seu talento e habilidade.
Se você é fã de plissados, drapeados, peças sem costura ou de detalhes como recortes estratégicos pode agradecer a Grès, responsável por introduzir e popularizar todos eles. Adepta da técnica de moulage, com criações moldadas diretamente no corpo e do corte viés, esculpia silhuetas impecáveis com formas deslumbrantes tipo seus icônicos vestidos drapeados inspirados em estátuas greco-romanas. Buscava pureza em todas suas criações para que elas tivessem apelo atemporal, objetivo atingido com louvor através de seus designs inesquecíveis que realmente nunca saíram de moda.
(1905-2001)
Essa estilista autodidata começou sua carreira como vendedora, eventualmente se tornando a primeira pessoa negra a abrir uma loja na Broadway (NY) e, posteriormente, evoluindo para a abertura de um atelier/boutique chamado, Chez Zelda, adjacente à lendária casa de espetáculos Carnegie Hall. Nesse ateliê, Waldes atendia suas clientes de roupas sob medida e atraiu nomes célebres como Marlene Dietrich, Nat King Cole, Ella Fitzgerald e Mae West.
Consciência social e preocupação com inclusão sempre figuraram entre seus grandes trunfos e contribuições. Vestia mulheres de todos os tamanhos de forma impecável, adaptando as peças às formas naturais de cada uma e sua primeira incursão no mundo da costura foi na criação de um vestido para a avó, que tinha dificuldade em encontrar looks que caíssem bem na silhueta considerada “muito alta e muito grande”. A tentativa foi um sucesso e determinante na decisão de transformar o talento em profissão.
Como mulher negra ocupando espaço raro, Waldes teve participação decisiva na luta racial, sendo uma das fundadoras da National Association of Fashion and Accessory designers, coalizão criada com o objetivo de proteger e divulgar estilistas negros. Em 1970, começou a desenhar os figurinos do Dance Theater of Harlem, onde optou por ignorar os protocolares tons rosados e passou a tingir meias-calças e sapatilhas de acordo com o tom de pele de cada bailarina. Um gesto simples, mas incrivelmente poderoso na busca por representatividade.
Waldes celebrava as formas femininas e adorava exaltar curvas. Essas características ajudaram a registrar seu nome também na cultura pop: ela prestou consultoria à Hugh Hefner, fundador da Playboy, na criação dos icônicos uniformes de coelhinhas, aqueles clássicos com body de cetim, gravata borboleta e tiara. Esquecida por muitos anos, recentemente passou a receber o destaque merecido e é sem dúvida uma das mulheres que revolucionaram a moda.
Essa estilista, nascida em 1942, é fundadora das marcas Comme des Garçons (iniciada em 1969) e Dover Street Market, e seu legado é tão relevante que, em 2017, foi tema da super conceituada exposição anual do Metropolitan Museum of Art, famosa por ser sempre inaugurada com o evento de moda mais glamouroso do ano, o Met Gala. Esse é um feito raríssimo para designers ainda vivos.
A escolha, no entanto, não causou estranhamento justamente graças ao respeito conquistado por Rei e seu talento único para mesclar influências orientais e ocidentais, resultando em uma estética autoral e revolucionária. Esse olhar começou a ser reconhecido mais de perto na década de 80 com a sua participação no Japonismo, nome que foi dado ao movimento de estilistas japoneses em Paris, do qual Kawakubo foi destaque ao lado de nomes como Yohji Yamamoto. Esses designers ajudaram a popularizar uma moda urbana e genderless, de apelo intelectual com roupas de proporções e silhuetas ousadas predominantemente em tons de preto.
Mestre da reinvenção, ela transformou a ideia de varejo com a criação da loja conceito Dover Street Market. O espaço físico lembra uma galeria de arte com instalações especiais e intervenções artísticas que mudam a cada temporada, planejada para vender produtos das suas próprias marcas, mas que também oferece em sua curadoria, outras grifes e itens de design que conversam com o universo da Comme. A DVM conta com flagships espalhadas pelo mundo em lugares como NY, Londres e Tóquio. Assim como a loja, suas criações são um mix de inspirações radicalmente inovadoras permeadas por uma atitude punk e não-conformista, surrealismo e alfaiataria desconstruída traduzidas através de materiais diversos, silhuetas amplas e volumes inesperados que provocam conceitos de beleza clássicos e desafiam estereótipos de gênero e elegância.
Você certamente já ouviu esse nome, seja em perfumes mega famosos ou na marca homônima com sua linha mais acessível, a DKNY. Mas, você sabia que o conceito de armário-cápsula pode ser atribuído à Donna Karan? Lançada em 1985, com o título de Seven Easy pieces ou sete peças fáceis, a mini coleção contava com itens básicos e clássicos - um body/collant preto servindo como ponto de partida acompanhado por saia traspassada, vestido simples, blazer de alfaiataria, suéter de cashmere, camisa branca e jaqueta de couro. O objetivo era oferecer looks profissionais e femininos apropriados para o ambiente de trabalho e a ideia era ser uma alternativa às opções disponíveis na época, que variavam entre terninhos oversized extremamente masculinos ou propostas exageradamente românticas com shapes bufantes e em tons açucarados.
A sacada genial foi precursora da ideia de roupas versáteis para serem usadas em momentos diferentes do dia, também introduzindo o conceito de athleisure bem antes de virar tendência, já que ela era adepta de materiais maleáveis, como Jersey, priorizando mobilidade e conforto, sem abrir mão de uma estética com sensualidade despretensiosa, criando a imagem de uma mulher prática e poderosa, mais atual e relevante do que nunca.
Uma de suas campanhas mais famosas, de 1992, contava com uma modelo posando como presidente da república em sua cerimônia de posse, o look de terninho risca de giz e pérolas se tornou clássico instantâneo - Kamala Harris é adepta do estilo - não só pela imagem forte, mas também pela escolha de tema, algo ainda pouco explorado na época. Com o passar do tempo, Karan manteve sua posição de liderança feminina na moda, hoje se dedicando à marca Urban Zen, que além de produzir roupas inspiradas pela paixão de Donna por Yoga - atividade que ela começou a praticar aos 18 anos - também funciona como iniciativa filantrópica, com foco em educação, cultura e saúde.
Agora me contem, vocês já conheciam a histórias dessas mulheres que revolucionaram a moda?