Precisamos falar sobre: a cultura do glow up

por The Look Stealers

Texto escrito e enviado por Anne Almeida

O ano é 2005. Você liga a TV da sala e uma versão dublada de “uma linda mulher” está passando na sessão da tarde. Você quer dar um berro com aquela cena da Julia Roberts humilhando a vendedora da loja que não quis vender pra ela (“BIG MISTAKE! HUGE!”). Sinceramente, eu sempre fui cadelinha de uma boa makeover. Entretanto, dói ter que dar essa notícia: não é porque você fez escova no cabelo e trocou os óculos de grau por lentes que você vai virar a princesa de Genóvia, meninas. Infelizmente, isso só acontece nas comédias românticas mesmo.

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Foto: Anne Hathaway (Reprodução)


Passa-se algum tempo. O ano é 2020. Você alterna entre passar álcool no pacote de batata palha, surtar com a situação atual do Brasil e aprender as coreografias do TikTok. As redes sociais viraram o antro da autopromoção e, de uns anos pra cá, o termo “glow up” começou a aparecer direto na timeline.

A verdade é que, se antes as super transformações eram uma ferramenta visual para representar a evolução de um personagem, agora todo mundo pode compartilhar seus “glow ups” nos seus perfis. O que, por sinal, virou uma trend bem divertida no TikTok e Instagram. Os feeds estão cheios de jovens compartilhando sua evolução pessoal ao som de “Oh, she passed away??”, que geralmente consiste em pessoas que mudaram fisicamente depois que a senhora puberdade cruzou seus caminhos (quando Deus fez os hormônios ele tava namorando).

O que tem relação também com as transformações impressionantes que algumas celebridades (Kylie Jenner, estou olhando pra você, gata) do nosso tempo sofreram de uns anos pra cá. Embora muita gente ache que essas pessoas foram abençoadas por Deus com uma beleza divina, elas na verdade usaram uma coisa mágica pra ficarem assim. Uma coisa mágica chamada: dinheiro. Esse é o primeiro requisito que você tem que ter pra ser como elas, então show, já estamos fora.

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Foto: Bella Hadid (Reprodução/Twitter)

O que me leva ao meu ponto principal: o meu problema com a cultura do glow up é que o que poderia ser uma oportunidade para inspirar as pessoas a viverem a melhor vida delas, mas virou só mais um incentivo para gastarmos o dinheiro que não temos com qualquer procedimento que a Kim Kardashian diga que está fazendo.

Não me levem a mal, eu sou uma grande fã do ácido hialurônico, a questão é que estou muito cansada dessa mentira criada por uma indústria que te faz acreditar que só quando você for uma réplica exata da Bella Hadid você vai ser feliz. Não vou ser hipócrita e ignorar como a nossa autoimagem influencia a nossa vida. Tem algo muito satisfatório nessas montagens de makeover, que fazem com que acreditemos no poder da determinação e autoconfiança. Basicamente, nos projetamos nos personagens/celebridades para suportar de ideia de que aquela melhora de vida também esta disponível para nós.

E ela está.

Só não do jeito que estamos acostumadas a ver no Instagram. O chamado “glow up” é um processo geralmente lento e penoso que requer encarar as suas dificuldades e traumas para ressignifica-los e te devolver uma confiança sólida. Não é de forma alguma tão glamouroso quanto sair do salão de beleza outra pessoa, mas é muito mais duradouro e substancial.

Essa transformação (que muitas vezes vem acompanhada de muitos socos na cara, cientificamente dados pela sua psicóloga) se traduz na forma como nos enxergamos e agimos e, consequentemente, como nos vestimos e apresentamos externamente – o caminho contrário dos filmes. Não tem nada de errado em querer se sentir mais bonita. Mas veja bem, você tem que construir sua confiança interna antes de conseguir externalizar para o mundo.

O jeito como você se veste e se maquia pode ser uma ferramenta incrível de autoexpressão e um exercício de autoconfiança que reflete de dentro. A forma como nos apresentamos passa uma mensagem que deve ser genuína desde o início, caso contrario ela não dura muito.

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