Mesmo com as mudanças e discussões sobre a importância da inclusão e do respeito em todos os setores sociais, ainda percebe-se uma resistência que impõe padrões estéticos e comportamentais, principalmente no que diz respeito à indústria fashion. Além das pressões sofridas por modelos, casos de abusos sexuais em ambiente de trabalho estão sendo cada vez mais denunciados e reforçam a importância de uma reconstrução no setor - os fotógrafos Terry Richardson, Mario Testino e Bruce Weber foram só alguns dos acusados de assediar sexualmente modelos.
E exatamente para ir contra esse fluxo, nasceu a ANTI Management. Uma agência de modelos que tem como objetivo valorizar as características únicas de cada modelo e seus interesses particulares. Por trás da ideia? Gabriel Ruas, agenciador há mais de 15 anos que sentiu a necessidade de um novo modelo de negócio após acompanhar o boicote à Trump Management Models, local onde trabalhava, em plena semana de moda de NY. Gabriel reuniu uma equipe e investiu todo o seu tempo e capital na criação da ANTI, que saiu do papel em março de 2017.
Atualmente, Gabriel Ruas reúne doações através de um fundraiser online para permitir que a ANTI continue levando a sua causa à indústria fashion, já que a agência não contou com nenhum investidor inicial. Todo o capital é revertido para fortalecer o propósito da empresa. E o mais legal, é que de acordo com o valor da doação, a pessoa ganha em troca uma visita à agência e pode até participar de photoshoots.
Quer saber um pouco mais sobre esse projeto? Nós conversamos com o Gabriel e ele contou vários detalhes sobre a ideia. Vem por aqui:
"Trabalho como agente de modelos há mais de quinze anos, comecei nesse ramo por acaso quando fui levar uma amiga na Agência Marilyn, em Porto Alegre. Algumas semanas depois, a diretora da agência, Simone Lopes, me ligou me chamando para uma entrevista. Eu fui para essa entrevista sem saber nada sobre esse mundo de modelos, mas depois de uma semana de trabalho, eu não tinha mais como largar, amei a energia das modelos, da agência e achei o trabalho muito mais interessante que o estagio em marketing que eu estava fazendo para faculdade na época."
"Eu procuro sempre encontrar as características únicas de cada modelo e quais seus interesses que, em particular, a destacam do resto. Trabalho com essas peças chave para desenvolver um plano de carreira. Depois disso, tento sempre colocar as modelos em frente aos clientes que fazem sentido com o seu plano em particular. Ao mesmo tempo que faço a promoção direto com os clientes, trabalho em criar marcas individuais para cada modelo, uma relação entre elas e o público alvo que faça sentido com seus objetivos pessoais."
De acordo com Gabriel, a ANTI também tem como objetivo auxiliar os modelos além da carreira no universo fashion. A agência tem o cuidado de se preocupar com as outras paixões de cada um. "Represento chefes de cozinha, atores, engenheiros de música, dançarinos, etc. Se no futuro eu puder ajudá-los a desenvolverem marcas de roupas, produtos para cozinha, comidas congeladas, que recebam seus nomes e focados em seu público, teremos mais chance de abrir mercado duradouros e com mais seguidores que, por coincidência vão trazer uma carreira mais longa e lucrativa como modelos.", contou.
"Estávamos em uma situação muito negativa na Trump Models - onde eu trabalhava - e enfrentando um boicote geral da indústria depois que o Donald Trump venceu as eleições nos Estados Unidos. Ao invés de me deixar ser abatido pela situação, decidi abrir uma agência com pontos de vista mais positivos e com uma visão mais globalizada e inclusiva, já que estamos em tempos de tanta divisão. A discussão sobre sexualidade, raça, religião, politica, e outros pontos é importante mas não pode ser dividida, no final das contas é importante ser inclusivo, é uma discussão sobre igualdade - todos devem defender não apenas os seus iguais, mas todos os outros que sofrem com qualquer tipo de discriminação."
"Nós estamos 100% focados nos direitos e bem-estar das modelos, enquanto o foco da maioria das outras agências está em agradar os clientes das modelos. No final das contas, eles acabam colocando suas modelos em trabalhos menos importantes e de menos qualidade do que deveriam estar fazendo, sem falar que os pagamentos têm sido cada vez menores. Em outras agências, ninguém batalha pelos direitos das suas modelos, pois têm muito medo de perder os clientes sendo que, na realidade, os clientes precisam das modelos e, 90% das vezes, vão aceitar negociações propostas pelas agências."