Depois de Demna na Gucci, Louise Trotter na Bottega e Pierpaolo na Balenciaga, chegou a vez de outro nome de peso dar o ar de sua graça em uma maison que, para muitos, já parecia sem salvação — boring e demodê (essas palavras não são minhas, mas repercutiram por aí). Matthieu Blazy chega à Chanel como uma das estreias mais aguardadas da temporada e, como já era de se esperar, trouxe um novo ar para a casa francesa sem abrir mão de seus códigos originais. Afinal, essa não é uma grife na qual se pode dar uma de John Galliano na Dior — é preciso cuidado aonde se pisa, mas sem perder o gingado. Deu para entender como é difícil essa missão?
Por sorte, Blazy sabia exatamente onde estava pisando. E chegou com os dois pés bem firmes, mostrando que não veio para brincadeira. Bom, não sabemos com quantos paus se faz uma canoa, mas sabemos que com algumas peças de tweed, bolsas felpudas e bons ternos, se faz uma nova Chanel.
O desfile de estreia de Matthieu Blazy na Chanel mostrou um olhar minucioso sobre contrastes — de textura, volume e intenção. Há um equilíbrio calculado entre rigidez e fluidez, com saias super volumosas, felpadas ou plissadas dividindo cena com camisas de alfaiataria e blusas mais contidas. Esse jogo cria movimento e dramaticidade sem pesar, sustentado por composições que alternam entre o artesanal e o preciso. O mesmo se aplica à paleta: o vermelho vibrante surge como ponto de energia entre neutros clássicos — branco, preto, bege e tons terrosos — num diálogo entre tradição e ousadia que reflete o desafio de reinterpretar o legado de uma maison tão codificada quanto a Chanel.
Nos detalhes, Blazy faz o luxo falar mais alto através do trabalho manual e da densidade dos acabamentos: bordados ricos, aplicações de penas e texturas que lembram bricolagem refinada. As proporções chamam atenção — casacos longos, saias amplas, tops estruturados — em um equilíbrio visual que reforça a ideia de poder sutil. Ainda que se veja inovação, as silhuetas permanecem fiéis aos pilares da marca: jaquetas de tweed, cortes precisos, saias plissadas e uma alfaiataria firme. É nessa combinação entre respeito ao passado e desejo de atualização que Blazy começa a escrever sua própria versão da Chanel — mais moderna, tátil e emocional.

a trajetória de matthieu blazy antes da Chanel
O estilista franco-belga, formado pela tradicional escola La Cambre, em Bruxelas, carrega no currículo passagens por algumas das casas mais influentes da moda: começou com Raf Simons, passou pela Maison Margiela (onde trabalhou na linha Artisanal), e depois fez parte da equipe de Phoebe Philo na Céline — sim, na era de ouro da marca. Também esteve na Calvin Klein e, mais recentemente, foi o nome responsável por devolver o brilho à Bottega Veneta, equilibrando design autoral, desejo comercial e o que hoje chamamos de quiet luxury.
Agora, sua chegada à Chanel marca um novo capítulo para uma maison que há tempos parecia buscar fôlego criativo — e se tem alguém capaz de reinterpretar o clássico sem desrespeitá-lo, esse alguém é Blazy.
a locação do desfile
No Grand Palais, cenário tradicional da Chanel, o estilista transformou o espaço em um verdadeiro cosmos high fashion. Sob a icônica cúpula de vidro, planetas gigantes flutuavam pelo salão, criando uma atmosfera quase onírica — um universo próprio onde moda e imaginação orbitavam em perfeita harmonia. A ambientação cósmica parecia traduzir visualmente a proposta do novo diretor criativo: olhar para o infinito, reinterpretar os códigos da casa e projetá-los em um novo futuro. Entre luzes suaves e tons galácticos, o desfile ganhou uma aura de espetáculo, mantendo a grandiosidade que sempre marcou as apresentações da Chanel, mas agora com uma energia mais curiosa, experimental e contemporânea.
Como disse Blazy, “para este primeiro desfile da CHANEL, queria criar algo universal, como um sonho, fora do tempo, e fui fascinado pelo universo das estrelas, um tema tão querido para a maison. Todos nós observamos o mesmo céu, e acredito que ele provoca as mesmas emoções em nós.” Uma declaração que ecoa a própria filosofia de Gabrielle Chanel: “Amo tudo que está acima: o céu, a lua, acredito nas estrelas.”
os convidados
Entre a extensa lista de convidados para o debut estavam Pedro Pascal, Kendall Jenner, Margot Robbie, Becca Armstrong, Nicole Kidman, Ayo Edebiri, Jennie e Tilda Swinton — um front row de peso, não?

as novas embaixadoras
Em sintonia com essa nova era, a Chanel anunciou duas novas embaixadoras globais: Nicole Kidman e Ayo Edebiri. Kidman, que já estrelou a icônica campanha do perfume Chanel No. 5 em 2003, retorna à marca com grande entusiasmo por parte do público. Por sua vez, Edebiri, conhecida por seu estilo jovem e sofisticado, foi nomeada embaixadora logo antes do desfile de Blazy, consolidando sua conexão com a marca. Ambas as atrizes marcaram presença no desfile de primavera 2026, sentando na primeira fila ao lado das outras celebridades.
