“Autocuidado é sempre prazeroso” e outras mentiras sobre autoestima e amor próprio

por Giulia Coronato

Quando se fala de autoestima e amor próprio, principalmente quando o foco é autocuidado, é normal relacionar essa avaliação que fazemos de nós mesmos com a nossa aparência. Existe uma crença que liga o autocuidado à práticas vaidosas, como fazer uma rotina de skincare, uma hidratação no cabelo, pintar as unhas e por aí vai. Mas o autocuidado não é só isso e nem sempre é prazeroso. Na verdade, ele pode ser bastante desconfortável. 

Mas por que um cuidado tão íntimo pode ser algo que nos incomoda? Bom, quando tiramos o autocuidado do âmbito da vaidade e paramos de associar autoestima e amor próprio à nossa aparência, vemos que há muito mais a ser feito do que simplesmente cuidar do corpo. Por exemplo, cuidar do nosso bem-estar emocional é uma tarefa diária, trabalhosa, que deve ser desenvolvida através de hábitos e práticas cotidianas que, cá entra nós, muitas vezes causam cansaço e incômodo. Mas, a longo prazo, vêm também os benefícios e satisfações, e é assim que devemos ver o autocuidado, como um processo para uma "eu do futuro" melhor.

E até por ser parte de um plano futuro mais positivo, o autocuidado é pauta recorrente desde o início da pandemia. Afinal, com a instabilidade e a incerteza do contexto mundial, tomar conta de nós mesmos e fazer o que está ao nosso alcance se tornou uma forma de nos manter sãos. A busca pelo termo triplicou desde março do ano passado e a hashtag #autocuidado já possui mais de um milhão de publicações no Instagram. Mas, a pergunta que fica é: até que ponto o que vemos nas redes sociais como autocuidado é real e útil?

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"autocuidado é sempre prazeroso"

Relembrando: autocuidado não é só skincare. É claro que cuidar da pele é gostoso, dá um ânimo e faz bem à saúde mental, mas só isso não basta. É preciso pôr em prática ações não tão prazerosas assim e manter compromissos consigo. Por exemplo, se você nunca praticou uma atividade física, mas precisa implementar algum tipo de exercício na sua rotina, saiba que o começo não será fácil. Antes da prática esportiva se tornar um hábito prazeroso, você terá que se esforçar em dias que não existe vontade alguma. É incômodo, mas faz parte do processo. 

"se priorizar é egoísmo"

Se priorizar é o principal pilar da autoestima e amor próprio. Infelizmente, ainda existe, de maneira muito forte, a crença misógina de que o papel da mulher é servir à família e aos demais, cuidar de tudo ao seu redor, se tornando sempre a última na lista das prioridades. Perpetuar essa ideia é colocar o nosso autocuidado no chão e nos faz sentir culpada todas as vezes que fazemos algo só por nós, para nos agradar e para nos priorizar.

"o autocuidado se mostra na aparência"

É comum associar beleza à autocuidado, e é ainda mais comum acreditar que nossa saúde se reflete na nossa aparência. Mas não deveria ser assim. Traços de envelhecimento, sobrepeso ou cansaço, por exemplo, são muitas vezes associados ao adoecimento e falta de cuidado. Essa noção é um pré-conceito equivocado. Uma ideia que exclui a realidade de que grande parcela da população não possui tempo, acesso ou dinheiro para ter uma boa alimentação, uma rotina de exercícios físicos saudável, um plano de saúde preventivo, além de não considerar fatores como genética e predisposição.

"autoestima = amor próprio"

Enquanto o amor próprio fala de um sentimento legítimo de apreciação por você mesmo, a autoestima está mais ligada a como nos avaliamos. É importante não confundir ou até maquiar uma falta de amor próprio com um falso senso de autoestima. O amor próprio acaba sendo resultado de um trabalho em cima da autoestima e do autocuidado, sempre caminhando lado a lado com o autoconfiança, a autoaceitação e o autoconhecimento.

O autoconhecimento, por sua vez, implica em ter consciência de nós mesmos e de todos os aspectos da nossa personalidade. A autoconfiança é acreditar em nossos decisões e julgamentos, e a autoaceitação é acolher nossos erros, acertos e defeitos.

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