A estética cowboy nunca esteve tão em alta e podemos apostar que ela não vai embora tão cedo. Depois das western boots dominarem as passarelas, o street style, as redes sociais e o fast fashion nos últimos cinco anos, bem quando parecia que elas iam embora, dois grandes nomes da indústria provaram que o estilo country não vai a lugar nenhum. Beyoncé e Pharrell Williams são com certeza os grandes responsáveis por renovar a tendência por mais algumas temporadas.
Se em 2019 surgiram os primeiros sinais de que os elementos western fariam parte dos looks do dia, os próximos dois anos confirmaram — e talvez até saturaram — a estética através das botas em todos os lugares, agora ela parece ser reinventada para ser mantida no topo. E vem de um lugar de inspiração das próprias origens, celebração de grupos invisibilizados e contando uma história que vai muito além da imagem, perpassando não só pela moda, mas pela música e cultura texana no geral.
Apesar de nunca estar totalmente fora dos holofotes na moda, principalmente por ser muito tradicional, a estética cowboy teve seu retorno mais recente com as western boots em meados de 2019. O sapato, que surgiu em 1850, mas se popularizou como um item fashion só 100 anos depois, com os filmes western, voltou aos holofotes graças ao rapper Lil Nas X. Com seu single de estreia, “Old Town Road”, ele viralizou no TikTok, gravou um clipe com Billy Ray Cyrus e adotou o estilo country de forma autêntica em todos os eventos que ia.
A partir daí, as western boots viraram febre no aplicativo e dominaram a moda, tendo seu auge durante os anos de 2021 e 2022. Não por acaso, Beyoncé lançou uma coleção da Ivy Park x Adidas chamada Rodeo em agosto de 2021. Com elementos que iam além das botas, como o chapéu, calças largas, estampa de vaca, vários tons de marrom, cintos com fivelas grandes e jaquetas jeans, ela já antecipava o que viria a seguir.
Em 2022, a tendência ganha um novo capítulo — e roupagem. Com as primeiras imagens do filme Barbie, de Greta Gerwig, a versão rosa, chamativa e lúdica da estética cowboy virou febre. O chapéu de cowboy e as botas invadiram os festivais, o look da Margot Robbie foi copiado no mundo inteiro em fantasias de Halloween e Carnaval, unindo o country ao mundo rosa da boneca mais famosa do mundo.
A partir daí, o western ganha uma imagem mais trendy. A vibe da vez era mais cowboy glam, bem no estilo Dolly Parton. A cantora foi pioneira na estética desde os anos 1970, através de suas roupas que evocavam suas origens, mas com muito mais brilho, cor e autenticidade. O que faz todo sentido, já que Dolly tem até um álbum chamado “Backwoods Barbie”, que significa algo como Barbie do Sertão.
Em julho do mesmo ano, Beyoncé estreia o seu álbum Renaissance. Inspirada no house, ritmo criado e difundido na cultura negra e nos ballrooms, a cantora trouxe uma estética retrofuturista, com muito prateado, glamour, e, é claro, o icônico chapéu de cowboy espelhado. Já dando um spoiler do que estava por vir, ela adicionou pitadas da estética country em toda a parte visual da turnê.
Naturalmente, todos esses elementos de Beyoncé, Barbie e Lil Nas X ficaram extremamente populares nos últimos anos, em versões que pouco lembravam o marrom e jeans típicos da imagem western, indo mais ao encontro de outras tendências atuais que deixariam Dolly Parton orgulhosa.
Com o fim da Renaissance World Tour e a febre Barbie já tendo atingido seu auge na metade de 2023, parecia que a tendência natural era que a estética de cowboy fosse se encaminhar para o fim do ciclo. No entanto, era só o começo. Em janeiro deste ano, na Semana de Moda Masculina de Paris, Pharrell Williams fez da passarela um rodeio da Louis Vuitton. Resgatando a cultura western como pertencente aos povos nativos e à comunidade negra, a coleção trouxe franjas, jeans, couro, chapéus, gravata bolo tie, xadrez, cintos maximalistas e botas de cowboy no melhor estilo velho oeste, mas com uma pegada fashionista e nada datada.
E foi com um look Louis Vuitton sob medida, inspirado nessa coleção, que Beyoncé compareceu ao Grammy de 2024, um mês depois. Com conjunto de couro preto, camisa branca, cinto com a logo da grife e chapéu de cowboy, a cantora intensificou os rumores de que seu próximo trabalho envolveria música country de alguma forma.
No Super Bowl os rumores foram confirmados quando ela anunciou, após o show do intervalo, que o "Act II", continuação do projeto que começou com o Renaissance, seria um álbum country. Com as imagens de divulgação das duas músicas já lançadas, uma coisa já está clara: Beyoncé traz de volta a estética cowboy raiz, mas com toques de glamour. É quase como se ela estivesse invertendo o que fez na era anterior. Agora, é mais country, mas sem abandonar totalmente a pegada futurista.
E isso parece se manter ainda mais depois de sua aparição na New York Fashion Week. Ela prestigiou o desfile da Luar usando um look todo cinza com aplicações de pedraria, da coleção de alta-costura da Gaurav Gupta. Para arrematar, um chapéu de cowboy da mesma cor. O acessório, inclusive, esteve presente em todos os looks recentes da cantora.
Assim como no Renaissance — e como Pharrell fez na LV — o objetivo de Beyoncé é resgatar o que foi criado pela população negra, mas popularizado como se fosse branco. Trazendo sua própria estética, referências negras, futurismo e até uma pegada sexy nos looks, ela mostra que o estilo cowboy vai se manter relevante.
Ao que tudo indica, viveremos uma nova era do western na moda. Desta vez mais tradicional, sem deixar de ser atual, e com protagonismo de elementos para além da bota, como os cintos, as gravatas, o couro e o jeans. Seria essa a consagração do country como uma estética atemporal e longe de estereótipos? Parece que é o que vamos descobrir em breve.