Bill Cunningham: o que você precisa saber sobre o pai do street style
O fotógrafo mais querido da moda tinha cabelos grisalhos, uma bicicleta, sua fiel jaqueta azul e almoçava lanches na rua com apenas três dólares. Claro que não era isso que o configurava como um exímio profissional da moda, mas sim a sua humildade, profissionalismo e paixão pelo o que fazia. Bill Cunningham marcou toda uma geração sendo praticamente um antropólogo da moda.
Conhecido também como um “cronista visual”, Bill Cunningham passava o dia fotografando tudo que o impressionava nas ruas de Nova York, e em contrapartida, quando não estava subindo e descendo as ruas com sua bike, estava cobrindo eventos luxuosos nas grandes capitais da moda - e era tão focado nisso, que se recusava a colocar uma gota de bebida na boca - Bill queria manter as coisas separadas para poder focar apenas nas suas imagens.
_a rua vs o luxo
Foi o olho clínico do fotógrafo que mostrou para todos as correntes penduradas nos bolsos das calças jeans, as pochetes e a febre das bolsas birkin pela primeira vez. Bill sabia transitar perfeitamente entre as ruas do Harlem e os bairros mais excêntricos de Hamptons, por isso suas imagens traziam consigo tantas riquezas visuais e vindas de todos os lugares e “tribos” possíveis.
E apesar de alguns problemas de saúde que veio a ter aos 87 anos, passava todos os dias com sua câmera pendurada no pescoço e sua bicicleta. Sua jaqueta azul icônica? Veio de um bazar! Pagou 20 dólares na época e era o casaco dos varredores das ruas da França, porém, era prática, e de acordo com Cunningham, dava para guardar todos os filmes da máquina fotográfica nos bolsos.
“Não me dizem se vão usar as saias nos joelhos. Eu vejo. Aqui não há atalhos. Você tem de ficar na rua para que a própria rua lhe diga.” - Bill Cunningham
Entretanto, o início da sua carreira não foi diretamente nas ruas, e sim como designer de chapéus - chegou até ter Joan Crawford e Marilyn Monroe como clientes. Passou pelo conceituado jornal de moda Women 's Wear Daily e até que em meados dos anos 50, finalmente ganhou uma câmera fotográfica profissional, o que foi o pontapé inicial para o começo de uma trajetória marcante.
Trajetória essa que foi marcada por, também, democratizar a moda. Enquanto alguns de seus colegas fotógrafos focavam em muito glamour, Bill era despretensioso e mostrou como mulheres comuns usavam acessórios e roupas de passarela nas ruas, ou seja, no dia a dia.
Por isso Bill Cunningham procurava pessoas diferentes, fora do comum. Pouco se importava com poses, tanto é que as melhores condições climáticas, de acordo com o fotógrafo, eram os dias de neve e chuva, já que ali ninguém se preocupava em posar para ele e as coisas fluíam naturalmente. Além disso, chegou a trabalhar de graça para alguns veículos de comunicação, por exemplo, quando estava na revista Details, para que tivesse total liberdade criativa, o fotografo chegava a rasgar todos os cheques que chegavam para ele no final dos meses.
Eles não são meus donos, o dinheiro é o mais barato, a liberdade é o mais caro”
E uma curiosidade incrível é que Iris Apfel, designer de interiores e ícone da moda, atribui seu sucesso a Bill. Ela diz que ele a fotografou muito antes de todos saberem quem ela era, e se hoje ela é "capa de revistas aos 99 anos" é graças a ele, que soube olhar para ela com seus olhos visionários.
_devoção e rebeldia
Bill Cunningham era devoto e muito fiel a suas ideias, era um fotografo rebelde e que lutava contra o establishment - ou seja, contra os padrões impostos na época. Sabia apreciar o estilo de mulheres mais velhas, prestava atenção às desconhecidas nas ruas e encontrava inspiração no movimento queer da cidade. Pouco se importava com status quo e celebridades, apesar de que muitas delas tinham um imenso carinho por ele. Bill era apaixonado por roupas e por fotografá-las, ele sabia captar a vida de Nova York com maestria.
E se hoje, nós temos o street style como referência, se existem inúmeros blogs que falam sobre isso e pessoas que se dedicam aos seus looks diariamente, é graças a ele: Bill Cunningham, o pai do street style. Que inspirou, e continua inspirando, gerações, revistas, editores e fotógrafos.
_para ver mais
E se você quiser saber mais sobre essa história incrível, nós indicamos o documentário "Bill Cunningham New York" e o livro "Bill Cunningham: on the street: five decades of iconic photography".