Lembro perfeitamente do dia em que cheguei ao escritório e a grande maioria das mulheres que trabalham comigo estavam em verdadeiro frenesi. O motivo era o trailer de Babygirl, novo filme estrelado por Nicole Kidman e Harris Dickinson.
Devo confessar que, quando assisti ao trailer, pensei que o longa seria só mais um sexual thriller em que a mulher é completamente sexualizada e que grande parte da bilheteria do filme se deveria ao fato de ser estrelado por Kidman e pelo crush quase generalizado da Geração Z em Dickinson — me incluo nessa parcela da população. E descartei, logo de primeira, minha ida ao cinema.
Mas minha opinião mudou quando tirei alguns minutos para pesquisar um pouco sobre o filme. Babygirl foi escrito e dirigido por uma mulher — Halina Rejin, que foi bastante aclamada por trabalhos anteriores. Além disso, Nicole Kidman ganhou o Volpi Cup de Melhor Atriz por sua atuação no longa, e sua presença na temporada de premiações me convenceu a correr para a sala de cinema mais próxima.

Se você não conhece a premissa do filme, calma que vou te atualizar: Babygirl conta a história de Romy (Nicole Kidman), uma brilhante e poderosa CEO de uma empresa de tecnologia. Ela é casada com Jacob (Antonio Banderas), um diretor de teatro que atualmente ensaia uma produção de Hedda Gabler. A indireta aqui não é nada sutil: a personagem principal da peça é uma mulher entediada e infeliz, que se sente sufocada em seu próprio casamento.
Apesar de aparentar uma vida perfeita, feliz e completa, Romy não consegue se satisfazer sexualmente com o marido e, mais à frente no filme, descobrimos que, em 20 anos de casamento, ela nunca alcançou um orgasmo. Tudo muda quando o novo estagiário da empresa, Samuel (Harris Dickinson), desperta seu interesse, e os dois embarcam em um caso.
A premissa pode parecer familiar, mas o que diferencia Babygirl de tantos outros filmes do gênero é a maneira como Halina Reijn aborda a sexualidade feminina de forma honesta e livre de tabus. O que me impressionou não foi a infidelidade em si — longe de mim passar pano para casos extraconjugais —, mas sim a forma como o filme coloca a mulher no centro da narrativa sobre desejo, prazer e consentimento. Romy se permite explorar novas experiências, expressar o que gosta e o que não gosta, mergulhar em seus fetiches e, acima de tudo, entender que o sexo pode (e deve) ser uma troca.
A premissa pode parecer familiar, mas o que diferencia Babygirl de tantos outros filmes do gênero é a maneira como Halina Reijn aborda a sexualidade feminina de forma honesta e livre de tabus.
Ao contrário da maioria dos thrillers eróticos, que transformam o prazer feminino em objeto de fetiche ou submissão forçada, Babygirl discute abertamente o que acontece quando as mulheres param de suprimir seus desejos para acomodar os de outra pessoa. A dinâmica entre poder e submissão é essencial aqui, mas dentro de um contexto em que a escolha e o consentimento são os verdadeiros protagonistas.
Em uma das cenas que mais me marcou no filme, Samuel menciona a palavra "consensual", e Romy, sem hesitar, pergunta: "O que isso significa?" Nesse momento, ela fala por todas nós, mulheres que, tantas vezes, abriram mão do próprio prazer para satisfazer o outro.
Ainda hoje, a experiência sexual feminina é um tabu. Muitas mulheres não sabem exatamente do que gostam e, quando sabem, têm dificuldade em expressar isso, especialmente em relações heterossexuais. A "lacuna do orgasmo" (orgasm gap) é uma realidade documentada há mais de 20 anos na literatura científica. Segundo um estudo publicado no The Conversation, com mais de 50 mil pessoas, 95% dos homens heterossexuais disseram que geralmente ou sempre chegam ao orgasmo em uma relação sexual. Entre as mulheres heterossexuais, esse número cai para apenas 65%. O mesmo estudo indica que entre 53% e 85% das mulheres já fingiram ter um orgasmo.

Entendem por que saí da sessão de Babygirl realmente impactada e impressionada com o que tinha visto? Deixei o cinema com um vislumbre de esperança de que talvez possamos encontrar uma maneira de comunicar nossos desejos e tê-los realizados, sem nos colocarmos em perigo — tanto física quanto emocionalmente.
A verdade nos libertará. E, depois de assistir ao filme, sinto que estou pronta para começar a contá-la.