“Como eu posso ser antirracista?” por Rita Carreira

por Rita Carreira

É importante a conscientização das pessoas nesse momento e entender que isso não tem que ser só uma fase, que esse movimento realmente sirva de aprendizado e faça mudanças na prática das pessoas. O que mais vimos nesses últimos dias foram as pessoas falando sobre momentos de reflexão e perguntando "Como posso ser antirracista?". É importante que essas pessoas se conscientize de que toda pessoa branca nasce racista, mas que ela está disposta a se desconstruir. O racismo é estrutural, ele está em todas as bases, acaba passando despercebido. Por isso, na maioria das vezes falam que nós (pessoas negras) somos chatos, que é "mimimi", mas só estamos procurando uma maneira de sermos escutados. 

O que eu mais ouvi nos últimos dias foi "Ah, mas não é meu lugar de fala, então não posso abordar esse assunto", mas para ter lugar de fala é preciso ter lugar de escuta, então a gente precisa falar, mas as pessoas também precisam ouvir. Muitas vezes me falam que sou muito agressiva, que eu grito, que minha fala é grosseira e que isso não é necessário. Mas as pessoas também precisam entender que nós temos ressentimento, que temos uma fala de dor e pensar que apenas três gerações para trás, nós ainda vivíamos na escravidão, então é muito doloroso e é isso que as pessoas não entendem.

Então a maneira de você, pessoa branca, ser antirracista e ensinar as crianças a entenderem o racismo desde pequenas é falando sobre isso, e não fingindo que as coisas simplesmente não estão acontecendo só porque não é com você. Eu vejo que as pessoas têm uma certa dificuldade em falar sobre isso, em falar que existem pessoas pretas e que elas são diferentes mas que são iguais ao mesmo tempo - o que muda é a cor da pele e as oportunidades, justamente por conta do racismo. Isso precisa ser falado e não ser mais velado pela sociedade. Precisa ser estudado, as pessoas precisam aprender, procurar saber e não apenas perguntar "Como posso ser antirracista?". Você não aprende sobre racismo em um ou dois dias, ele é muito profundo e complexo e é preciso de uma real dedicação, e entender que você não vai aprender em pouco tempo. É preciso levar muita porrada, é preciso aprender e vivenciar, conversar, conhecer pessoas, ler livros, assistir filmes e procurar entender ao máximo para você poder se colocar em nosso lugar.

Acredito que a empatia é um dos pontos principais nisso. É você pensar "Poderia ter sido meu irmão morrendo, poderia ser meu tio, meu pai, minha mãe, meu filho" e a partir daí você começa a sentir um pouco da dor que é ter sempre que trabalhar três vezes mais, ter que lutar dia e noite para não ser silenciado e não ser invisibilizado, além de sempre rezar para que sua família volte para casa viva. É uma luta muito complexa e eu espero de verdade que as pessoas entendam isso e que não silenciem isso daqui a pouco. Essa luta precisa continuar relevante para que haja mudança no mundo.

"Eu luto pela representatividade de mulheres, mas principalmente mulheres negras e fora do padrão. O meu maior propósito é o resgate da autoestima de mulheres negras, mostro que é possível realizar todos os sonhos e chegar a lugares que pareciam ser inalcançáveis."

Rita Carreira

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