Criar uma coleção de joias é o sonho de muitos apaixonados por moda, e Luciana Ceratti realiza esse sonho desde 2014 quando lançou sua marca homônima. Designer de produtos, ela adora cada etapa do processo de criação das joias, com gemas (pois, ela diz que aprendeu na faculdade que o termo pedras não é o mais correto e nem o seu favorito) lindas e coloridas.
Embora a inspiração venha principalmente do Brasil, que é um país rico em belezas naturais, Luciana sabe que seu estilo pessoal influencia muito. Como ela mesmo se define com um estilo moderno, as peças só poderiam ser incríveis opções para quem vive na correria do dia a dia, mas não deixa de apostar num acessório diferente e sofisticado para compor o look.
Confira o bate-papo que tivemos com Luciana sobre a marca, o trabalho e o dia a dia dela:
As minhas inspirações vêm de diferentes meios, mas em especial, adoro o que a natureza e o nosso país em si nos oferece: cores, curvas, movimentos, arquitetura, fauna e flora. Gosto de refletir essas nossas qualidades nas peças.
Eu sempre penso nos materiais antes de desenhar, até para saber as minhas limitações para executar as peças. O tipo de gema a ser usada influencia no desenho por diversos motivos, como a sua resistência, a sua durabilidade, se pode molhar ou não, por exemplo.
Mas, não tenho regra para começar a criar, às vezes eu parto da escolha das pedras primeiro, para então criar a partir do seu formato. Se o fornecedor aparece com novidades e me oferece formas diferentes do tradicional eu me jogo e no momento que estou escolhendo já fico imaginando o que fazer com elas! Ou então, primeiro defino o tema de inspiração para o desenho e depois procuro as gemas que se conectem a isso, até mesmo crio as minhas próprias lapidações, como fiz na minha última coleção, Seiva.
O processo criativo para mim é a parte mais demorada da coleção. Para definir a escolha do tema eu gosto de trabalhar com mood boards para me atualizar não só no mercado de joias e da moda, mas nas tendências do mundo como um todo. No meu mood board aparecem texturas, palavras, acontecimentos, cores, art nouveau, Elsa Schiaparelli. Enfim, todo um conjunto que me ajuda a abrir a cabeça e viajar nas formas das peças.
A partir daí que eu risco e rabisco mil vezes, desenho a peça genial e depois já não gosto mais e apago, o tema que era um acaba virando outro e por aí vai! Até minha última coleção eu mesma desenhei todas as peças. Já a nova coleção, Seiva, foi pensada e criada em conjunto com a Trender, que é uma empresa de pesquisa de moda e comportamento. Foi uma experiência incrível para eu poder explorar ainda mais o meu potencial e segmentar mais o meu mercado.
Difícil! Não tenho uma preferida que eu me lembre, mas em geral amo criar brincos. Adoro poder brincar com o efeito de movimento que a peça pode ter quando pendurada na orelha, sem contar que acrescenta muito a um visual.
A minha maior dificuldade é no processo de criação, quando muitas vezes tenho que adaptar uma ideia mirabolante com um olhar mais crítico para o mercado, e isso é muito chato! Mas, claro, imagino que isso não aconteça só comigo. Às vezes, as peças mais conceito, dependendo do mercado que estamos inseridos, não serão as mais vendáveis.
Não existe alguma peça que eu não goste de desenvolver. Acho que a produção personalizada sob encomenda me deixou bem versátil quanto a isso, afinal é o cliente que manda!
Até agora foram lançadas duas coleções, uma por ano e mais uma coleção cápsula ano passado. A minha ideia daqui para a frente é continuar com uma coleção principal por ano e lançar coleções cápsulas entre uma e outra coleção principal até mesmo em conjunto com outras designers ou marcas de moda.
O design de joias nunca havia passado pela minha cabeça até o final da faculdade, mas alguns dos motivos que me motivaram a optar pela profissão foram que eu sempre gostei de trabalhos manuais, da estética das coisas, das cores e das formas. Ao somar estes detalhes ao meu perfil mais tranquilo e detalhista, achei que teria jeito para o negócio! Ainda, durante a minha infância eu tive contato com o mundo das joias pois o meu avô materno tinha uma loja que vendia artigos de joias e relógios, esse ambiente de certa forma me ajudou a criar um olhar estético para as coisas.
Outro motivo é que eu gosto de agradar as pessoas e é muito gratificante para mim, ver o cliente feliz com algo que eu criei.
Sim, acho que cada vez mais o meu estilo pessoal está aparecendo nas peças. Para mim, foi difícil criar a marca e conseguir transportar um estilo bem marcante e único já de começo, afinal era um mundo novo com muitas opções e inspirações. Hoje eu reparo que o meu estilo, independente do tema escolhido, flui naturalmente nos desenhos.
Identifico algumas características minhas nas peças, como o fato de que não gosto de nada muito tradicional, adoro o moderno, o contemporâneo. Ou que não tenho medo de ousar na mistura de cores e formas, e acredito que junto a essa mistura de ousadia as peças da Luciana Ceratti transmitem também o meu jeito delicado de ser.
A musa inspiradora de todo o Brasil: Gisele. Imagino ela usando a coleção Seiva, que tem um tema bem parecido com o estilo dela. Ela é pura essência e natureza, sem contar a elegância que a deixa ainda mais interessante.
Eu escolhi fazer design de produto meio sem saber o que a profissão me traria. Eu sempre gostei de desenhar e "inventar moda” então acho que esses foram os motivos pelos quais acabei optando pelo curso. Desde criar objetos domésticos até carros ao longo da faculdade, produzir joias nunca havia passado pela minha cabeça até os últimos semestres, quando eu tive aulas de gemologia. Foi aí então que começou a despertar o meu interesse por joias.
Do meu curso de design, eu trago comigo habilidades manuais, que somadas à minha calma e paciência (características minhas), me ajudam muito no trabalho. Também, o conhecimento sobre materiais e processos de produção que são fundamentais para eu criar qualquer peça e saber se o que eu vou desenhar é executável, isso me permite ousar mais nas formas.
Nossa eu me viro nos 30! Como faço também peças personalizadas sob encomenda eu me divido entre atender o cliente, produzir e entregar no prazo. Mais de um trabalho ao mesmo tempo por vezes. Quando junto às encomendas ainda estou criando coleção nova então é uma correria! Como a empresa é de uma pessoa só, ainda, me desdobro para ser designer, ourives, contadora e RP.
Eu diria colocar a mão na massa sem medo! Sentar na bancada de ourives e estragar os dedos para aprender os processos de produção e ter conhecimento dos materiais que usa. Acho fundamental que um designer de joias ou comerciante/empresário do ramo de joias tenha todo esse conhecimento para passar segurança e credibilidade ao cliente.
Outra coisa, muita calma e paciência, que se não são características suas, troque de profissão! Pois, é um trabalho meticuloso, feito por etapas, sem pressa. Enfim, é uma área com inúmeras possibilidades de estilos e materiais a serem explorados assim que não se deixe abalar pela concorrência. Concorrência é ótimo para o mercado!
