Algumas pessoas, quando crescem e ganham um certo poder aquisitivo, sentem a necessidade de comprar tudo aquilo que elas não podiam quando eram mais jovens. O resultado é uma série de objetos acumulados em casa e que por muitas das vezes nunca foram usados. Esse foi o caso da minha avó paterna, mas não o meu, e sei que sempre fui muito privilegiada em ter muitas coisas, incluindo um armário cheio as roupas desde bebê. Porém me surpreendi nessa quarentena ao descobrir que eu havia me tornado uma versão mais nova e muito mais consumista do que a minha querida dona Maria e que sim, eu era uma acumuladora de roupas.
Quando eu saí da casa da minha mãe e fui morar com o meu namorado, a primeira coisa que ele me disse quando eu cheguei de mala e cuia foi: "Nossa, quanta roupa você tem!" - na real eu nunca achei que tivesse tanta coisa assim. Inclusive, eu usava sempre os mesmos looks e sapatos favoritos. Então 8 anos se passaram e até hoje ele insiste em dizer que eu tenho muita coisa no armário, ou melhor, no meu quartinho separado especialmente para as minhas peças.
E bastou alguns meses trancada dentro de casa para a minha ficha cair e, de fato, eu tenho um certo problema como acumuladora de roupas. Mas será que eu sou a única pessoa no mundo que guarda um shortinho de quando tinha 9 anos de idade porque ele tem um certo valor sentimental? Ou que tem um vestido nunca usado e com a etiqueta pendurado na arara esperando algum momento certo para usá-lo? Ok, já faz 3 anos que ele está lá e sim, isso pode ser um problema. E acho que vale dizer também que esse momento de isolamento social me fez refletir ainda mais sobre o meu estilo e foi aí que eu percebi que estava acumulando peças de roupas que nem me agradavam mais porque o meu estilo pessoal estava mudando. Camisetas, shorts e saias que eu amava usar na adolescência, não fazem mais parte da "nova Aline", mas elas ainda estavam lá no meu closet. E você deve estar pensando: "mas nossa, imagina quanto dinheiro ela não gastou com todas essas roupas". Sim, de fato gastava praticamente todo o meu salário com isso, mas eu também recebia quase todos os dias roupas de marcas que queriam divulgar no meu Instagram e, mesmo que eu não amasse, eu ficaria com a peça guardada e achava que em algum momento eu poderia gostar e precisar dela. Outro ponto que me fez perceber essa obsessão por acumular peças era quando eu ia em brechós beneficentes, onde cada peça pode custar menos do que 5 reais, e eu comprava sacolas e sacolas gigantes com roupas que eu nunca nem iria usar, mas que tinha achado bonito.
Digo com orgulho que nem precisei assistir Marie Kondo para tomar uma iniciativa e certo dia eu resolvi mudar (como diria Rita Lee), mas não era uma simples tarefa de colocar metade do meu armário em malas e doar. Era um momento de me desapegar do passado e entender que eu realmente não precisava mais daquilo. O primeiro passo foi dado, o de reconhecer que eu não preciso de tudo aquilo e muito menos de 20 calças mom jeans - até porque eu sempre uso a mesma. O segundo passo, de separar para doar e até vender algumas peças online também já foi dado. Tirei metade de tudo o que eu tinha entre roupas e sapatos, mas ainda sim me sobrou muito e sei que daqui uns meses ou a qualquer momento farei uma nova "limpa". Isso não significa que parei de comprar, mas sim que mudei a minha forma de consumir e entendi que se uma roupa nova entra, outra antiga sai. Agora eu penso na versatilidade que uma peça pode ter, se ela é confortável e quais as possibilidades que eu tenho de usá-la em diversas situações. A qualidade também conta e ela fica pelo menos algumas semanas na minha wishlist, assim eu consigo pensar melhor e saber se eu realmente quero comprá-la.
Entendi que não adianta ter um milhão de roupas no armário se eu não tenho para onde ir e quando eu tenho uso sempre as mesmas. Entendi que o short que eu não uso há anos não precisa continuar só ocupando espaço na gaveta. E o aprendizado mais precioso como uma ex acumuladora de roupas foi que desapegar muda as energias e te deixa leve.