Escolhendo os tipos de cerveja com a ajuda de uma beer sommelier
por Bia Amorim
Se a moda está se tornando mais acessível e democrática, a cerveja também está. E falar sobre cerveja não é mais apenas sobre marcar encontros para beber, é sobre criar novas experiências para o seu paladar enquanto se diverte com os amigos. Nos últimos 50 anos o mercado cervejeiro passou por muitas transformações e muitos tipos de cerveja surgiram. Os países com tradição cervejeira como Alemanha, Bélgica e Inglaterra compartilharam com o mundo suas técnicas e seus ingredientes, e isso permitiu um novo renascimento de sabores e possibilidades em outros lugares.
Na década de 80, um escritor inglês chamado Michael Jackson (!!!), viajava o mundo e provava cervejas e uísques, ele então resolve publicar um livro belíssimo e bem organizado, com design e fotos de alta qualidade. Quando chega aos Estados Unidos, encontra uma faísca de inovação e ajuda, com seu conteúdo e forma de narrar histórias cervejeiras, o mercado ganhar escala na criatividade e liberdade sem limites dos norte-americanos. Neste momento temos o nascimento da cultura cervejeira contemporânea e com isso uma nova forma de beber e estudar as cervejas.
No Brasil a história cervejeira artesanal é recente, temos um caso ou outro mais antigo, porém, podemos afirmar que foi na década de 90 que nasceu o que hoje chamamos de mercado artesanal, e fomos muito influenciados pelos norte-americanos. Após o ano de 2010, as coisas ganharam um pouco mais de corpo e a mídia se interessou sobre as curiosidades das novas tendências cervejeiras. Quando foi mesmo que você ouviu falar pela primeira vez sobre uma IPA? De repente a gente descobriu que não sabia quais eram os ingredientes da cerveja e nem sequer como ela era feita. Como é mesmo que o álcool vai parar lá dentro?
Então, se você gosta de cerveja e está querendo se enveredar pelos sabores possíveis e plurais deste mercado, fiz uma lista com alguns estilos interessantes de provar. Se formos contar pelos guias oficiais que organizam as categorias, temos mais de 120 estilos reunidos e divididos conforme a escolha da levedura que vai fermentar (olha o álcool aqui!), entre diversos parâmetros usados como potência alcoólica, cor, adição de adjuntos e uma enormidade de detalhes.
Separamos primeiro em Ale (cerveja de alta fermentação) ou Lager (cerveja de baixa fermentação). Podemos também brincar com a mistura de técnicas e ingredientes e ter as versões Híbridas (por exemplo fermentar com levedura Ale, mas com temperaturas de Lager). Parece complicado, mas se você está aqui apenas para provar, é interessante saber dessas diferenças. Cada família de levedura vai trazer diferentes percepções sensoriais e terão diversas categorias que chamamos de estilo.
Vamos ao que interessa, falar sobre estilos. Escolhi 10 tipos de cerveja para comentar um pouco mais:
_witbier
Cerveja Ale, bem clarinha, meio turva, tem trigo, casca de laranja e especiarias. Sabor muito leve, fácil de beber ótima para quem quer começar e se refrescar. Combina com dias quentes, papo solto, isca de peixe;
_catharina sour
Cerveja Ale, pode ter muitas cores pois sempre tem adição de uma fruta brasileira. Também são turvas, com trigo e levemente ácidas, apenas elevando a sensação de refrescância. São experiências muito deliciosas com um estilo muito versátil. Combina com praia, vento, papo leve e vários petiscos de boteco;
_vienna lager
Como o nome já diz é uma Lager, límpida, com uma cor mais acobreada, aromas de maltes e panificação. Baixo corpo, fácil de beber e muito gastronômica pois combina com diversos queijos e inúmeras possibilidades de pratos;
_neipa
Cerveja Ale, é a moda da moda do momento, este estilo é uma sub categoria de IPA, mas com alta turbidez, muito aroma e pouco amargor, sendo que sua característica é ser extremamente tropical em seus aromas e sabores. O estilo ganhou uma receita em 2016 nos Estados Unidos. Aqui os lúpulos são os protagonistas. Muito leve e fácil de beber, combina com hambúrguer, tacos e guloseimas como essas;
_belgian blonde
Cerveja Ale que arrega traços de sabores belgas. Tem cor dourada, um amargor presente, mas muito equilibrado, corpo médio e aromas de maltes e condimentos, notas que trazem identidade para este estilo. Também sempre convidada à mesa, podemos combinar com carnes brancas, pato agridoce ou só uma batata frita estilo belga com maionese;
_saison
Cerveja Ale ou Híbrida, com cor que vai do dourado ao âmbar e tem como característica ser bem complexa, traz notas de fermentação, maltes e lúpulos, em camadas de aromas e sabores que vão de ervas e condimentos a terrosas e florais. Cervejarias centenárias produzem essas delícias na Bélgica, mas encontramos versões nacionais. Combina com muitos pratos, mas o equilíbrio é sempre a busca para a melhor harmonização;
_rauchbier
Cerveja Lager, é um dos grandes estilos que causam amor ou indiferença ou uma careta! Esta cerveja utiliza maltes defumados e pode ter em diferentes intensidades, sabores de fumaça, amadeirados. Tem baixo amargor e corpo leve. Faz um casamento perfeito com churrascos e sanduíches de queijo;
_stout
Cerveja Ale com maltes torrados, tem coloração escura e pode ter diferentes intensidades. Notas de café, cacau e chocolate são facilmente encontradas. As versões mais potentes, chamadas de Russian Imperial Stout são as queridinhas do momento, elevando o álcool, corpo e sabores a níveis altos, mas em equilíbrio. Vão bem com charcutaria, queijos azuis, ostras e sobremesas a base de leite e chocolate;
_fruited sour
Cerveja Ale que só de escrever sobre ela eu salivo, pois, a acidez aqui pode e deve ser mais acentuada. Sempre traz fruta na receita e tem diferentes intensidades e propostas. Combina bem com diferentes momentos e pratos, e traz novas experiências ao paladar que com o tempo se acostuma com a acidez;
_barley wine
Cerveja Ale que assim como em nossa lista, pode finalizar bem uma refeição, uma degustação. Tem teor alcoólico elevado, sabores de maltes muito presentes, um dulçor residual e bastante encorpada. Uma cerveja que pode ser guardada como vinho e apreciada com moderação.
_beba com moderação
Depois dessa lista grande de tipos de cerveja, vamos agora falar sobre moderação. Temos as opções ZERO ÁLCOOL e SESSION (menos álcool). Este é um momento que estamos falando muito sobre o assunto temperança e moderação. Tivemos grandes marcas trazendo para a mesa os assuntos sobre consumo. Beber com moderação é a forma mais inteligente de se beber, pois não adianta saber tudo e cada detalhe da bebida, se não sabemos como usufruir.
É tendência mundial o consumo de álcool passar a ser mais moderado, mas com melhor qualidade, e as grandes marcas já estão atentas a essa moda (que nem é tão recente, mas o discurso melhorou muito nos últimos séculos!). Ir dirigindo a um evento, festa, show e afins e curtir com uma cerveja em mãos é possível, mas apenas se for totalmente sem álcool. O sabor, textura e sensações estão todos lá. Genial e necessário, pois os avisos sobre beber e dirigir continuam precisando de uma ajuda e muita consciência.
As cervejas com o termo Session antes do estilo, são referências que mostram que dá para beber com sabor e pouco álcool, o que deixa a bebida com maior drinkability. A leveza é a grande prerrogativa aqui, aromas, sabores e corpo, tudo muito ligeiro.
Você também pode ler Imperial em alguns rótulos, é o estilo que potencializa todos os sabores e também aumenta o volume de álcool que a cerveja tem. Para essas cervejas tão intensas, o consumo já é mais demorado, o perfil sensorial pode ser apreciado em toda a sua complexidade e tempo que precisamos para desvendar as camadas de sabores de uma receita como esta. São cervejas para serem compartilhadas e anotadas.
paladar é situação, circunstância, experiência, relação estética
Talvez o mais importante aqui seja saber de qual estilo você gosta, pois cada pessoa tem um paladar que é muito único e construído. Um filósofo italiano, Nicola Perullo, diz: “Paladar é situação, circunstância, experiência, relação estética.”. Ou seja, tem muito papo para tomar cerveja e ir descobrindo com as novas experiências. Sermos curiosos e estarmos abertos a novas descobertas nos conecta com diferentes culturas e pode trazer um prazer gastronômico que vai muito além da ebriedade que o álcool nos traz. Não é porque está na moda, mas porque queremos potencializar o paladar, com cultura e consciência e curtir a evolução que a bebida passa nesses milênios todos de sua existência. Beba menos, mas beba muito melhor e sempre brindamos à vida, saúde!