Fashion at work: Bruna Erhardt
Todas nós já sentimos na pele a pressão que um ideal estético ou um padrão de beleza pode exercer, já sentimos o desconforto que ser um ponto fora da curva pode ocasionar. Uma indústria fashion agressiva e um mundo regulado pelas mídias sociais, isto é, pela aparência do outro, é não só perigoso, como prejudicial, e todo esse cenário torna-se ainda mais difícil de ser enfrentado quando nos colocamos no lugar de quem trabalha com a própria imagem: a modelo.
Ao folhear uma revista ou ao assistir um desfile é inevitável nos questionarmos sobre a naturalidade daqueles corpos ultra magros que estrelam campanhas e que riscam passarelas. Bruna Erhardt, modelo há mais de 14 anos, lidou com os exigentes parâmetros da indústria fashion desde muito cedo (o peso ideal, segundo as agências, para os seus 1,78m de altura, era cerca de 52 kg, por exemplo) até que, recentemente, decidiu aceitar seu biotipo, revelar suas curvas e amar o seu corpo como ele é, deixando para trás uma rotina de dietas cruéis e padrões para ela impossíveis.
Com respostas sensíveis, Bruna nos contou passo a passo da sua trajetória: do início da carreira até o ponto de virada em que sua vida profissional recomeçou do zero como modelo plus size. A Bru nos inspirou com seu relato super importante e valioso sobre padrões de beleza, auto-aceitação e empoderamento, lições que sem dúvidas nos fazem refletir a respeito desse momento de transformação e consciência pelo qual a moda está passando, e agora queremos dividir tudo isso com você! Vamos lá?
Sou modelo há quase 15 anos, comecei a modelar com 14 e hoje tenho 29.
Uma das minhas tias, sabendo que eu sempre me interessei por teatro, dança e afins, descobriu que teria uma seletiva na cidade dela e me avisou.
No dia seguinte já estava lá, passei pela primeira fase e meses depois vim para São Paulo fazer castings nas agências. Fui aprovada e no início do ano seguinte me mudei para a capital paulista.
A primeira delas foi sair de casa aos 14 anos e ficar longe da família em uma fase que considero super importante. Acredito que nesse período de adolescência precisamos de muito amor, compreensão e limites.
As demais dificuldades começaram quando participei da primeira seletiva e logo já fui orientada a perder peso.
Com 14 anos cheguei nas medidas exigidas rapidamente, mas foi muito difícil manter aquele peso que não era naturalmente meu.
Quanto mais velha eu ficava, mais eu encorpava e mais difícil era manter as medidas exigidas, que se me lembro bem era algo em torno dos 52 kilos, número que nunca correspondeu com a minha estrutura corpórea, que tenho 1,78m de altura.
Estar dentro dos padrões ideais exigidos pela indústria sempre foi um dos maiores desafios durante toda a minha carreira.
Eu morava em NY, mas voltei para o Brasil para participar de alguns desfiles e assim que eu cheguei meus agentes me chamaram para uma reunião para discutir sobre o meu peso, dizendo que estava acima do "normal".
Nessa época eu tinha acabado de ser capa de uma revista super conceituada por aqui e eles ressaltaram que aquela era uma temporada extremamente importante para mim e que por isso eu teria que ficar em shape o quanto antes.
Eu, completamente desesperada, fiquei uma semana comendo somente uma maçã por dia, me matando na academia e em procedimentos estéticos.
Foi mais ou menos nessa época que comecei a tomar por conta própria remédio para emagrecer, laxantes e diuréticos.
Isso foi a maior crueldade que já fiz comigo. Ataquei meu corpo, comecei a rejeitá-lo e a fazer qualquer coisa para ficar magra: dieta da sopa, da proteína, não tive limite algum para entrar nos padrões desejados.
Após tentar por muito tempo permanecer dentro das medidas exigidas e nunca conseguir mantê-las, cheguei a um ponto onde minha cabeça e meu corpo não aguentavam mais tanta cobrança e pressão. Tudo estava sendo muito frustrante.
Decidi então parar com aquele sofrimento e deixei a carreira de modelo de lado.
Não foi por falta de foco, de determinação, ou por preguiça, meu biotipo simplesmente não era daquele jeito e foi aí que tomei a importante decisão de aceitar meu corpo como ele realmente é.
Mesmo assim, ainda me sentia muito diferente das pessoas que me cercavam e de tudo que via nas mídias. Nas lojas em que estava acostumada a comprar roupas, por exemplo, já não existia mais peças para o meu tamanho.
Cheguei até a pensar que o erro estava em mim, pois não era normal ter um corpo diferente dos outros, mas resolvi buscar na internet por algo que se aproximasse da minha realidade. Comecei a pesquisar sobre modelos plus size e descobri um universo novo e possível.
Vi então que algumas agências trabalhavam com esse perfil e agora estou começando minha carreira novamente.
Não, a partir do momento em que me propus a assumir meu corpo da maneira que ele realmente é, com todos os defeitos e qualidades não voltei atrás na decisão.
Quebrei muitos paradigmas e hoje me aceito como sou, decidi ser íntegra e verdadeira comigo mesma, deixei de lado o medo de qualquer julgamento que pudesse acontecer e está sendo extremamente libertador respeitar meu corpo e minha essência.
Hoje como modelo curves ainda estou aprendendo como o mercado funciona, mas sinceramente ainda não me vejo encaixar em nenhum dos lados com precisão, pois não me considero muito magra, nem muito gorda.
Será que essa classificação precisa ser tão restrita? Acredito que a indústria fashion precise de mulheres semelhantes às suas consumidoras, sobretudo aqui no Brasil onde existe uma diversidade enorme!
Assim como na vida real, os corpos plus size não têm um biotipo único e acho que essa é exatamente a maior dificuldade da indústria da fashion: aprender a aceitar e incorporar perfis diferentes aos padrões que já existem.
Cada mulher tem suas próprias características e já passou da hora de diversificar o mercado, a grande maioria das consumidoras brasileiras não se identifica com o padrão ultra magro e elas também consomem moda!
Acredito que estejamos passando por um verdadeiro despertar em relação a essa causa tão importante e que um olhar bem mais amplo esteja se formando em relação aos corpos femininos.
Acima de tudo é importante perceber que é um movimento pessoal de auto-conhecimento e amor próprio, de aceitar que cada corpo é único cada beleza é única.
Estamos vivendo em uma era na qual somos estimulados o tempo todo a ter a vida perfeita dos outros e isso se estende aos padrões de beleza.
Acredito que a partir do momento que cada mulher se empoderar de sua beleza natural não haverá mais tantos preconceitos.
Eu sou bem otimista, aos poucos estamos vendo modelos plus size nos desfiles de semana de moda e também já existem algumas agências em NY que não diferenciam modelos pelo tamanho, por exemplo.
Com a internet e as redes sociais muita gente legal tem tido voz ativa pra expor suas ideias e mostrar que existe espaço para todo mundo na moda.
Ser modelo não é tão simples como parece.
A dica que eu dou pra quem quer começar a ser modelo regular ou uma modelo curves é se respeitar, respeitar seu corpo, suas vontades e seus limites. E se essa for sua vontade genuína se dedique, tenha muito foco e determinação pois é um mercado super competitivo.
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