Fetiche Core: a tendência polêmica do mundo da moda retorna aos holofotes
Ela não chegou abruptamente, mas foi reconquistando seu espaço aos poucos, primeiro com a volta da estética sexy e tudo o que envolvia o sex appeal — g-strings, bodycon e cut-out são apenas algumas das tendências que vimos ao longo desses últimos dois anos. Depois, foi reaparecendo em alguns desfiles e, agora, passou a ser adotado por inúmeras celebridades — especialmente em tapetes vermelhos. De quem estamos falando? Do fetiche core.
De tempos em tempos, o fetichismo volta para a moda, e se engana quem pensa que ele é coisa da “nova geração”, afinal, desde que as vestimentas passaram a ser usadas e vistas como uma forma de sedução e jogo de poder, o mundo pareceu entender que o termo “sex sells” é inegável.
Apesar de ser um taboo para muitos, essa ideia do fetiche core é algo pautado desde o início da década de 20 e não parece ter data de validade quando o assunto é flertar com a moda:
Não podemos dizer com extrema precisão, no entanto, ao que tudo indica, o termo “fetiche” foi criado no século 18 e popularizado na década de 1920, com a ajuda da marca francesa Yva Richard, que, na época, vendia lingeries e sapatos voltados para o fetishwear. A marca atingiu um sucesso absoluto naquele ano e ficou muito conhecida pelo seu sutiã em formato de cone — sim, o mesmo que, anos depois, foi usado de inspiração para a cantora Madonna.
Kim Kardashian e sua relação com a Balenciaga é uma das maiores amostras do fetiche core mais atual. As peças feitas em látex, macacões justos, luvas de couro e botas de cano bem longo são alguns dos códigos adotados pela empresária ao longo dos últimos anos. As máscaras faciais que cobrem todo o rosto e possuem spikes também são uma marca registrada dessa estética. O uso dessas roupas, especialmente pelas Kardashians, pode ser visto como a mulher “dominatrix” — que domina e se autodenomina como dominante.
Na última semana de moda de Londres, o designer Richard Quinn apostou em uma peça bem interessante para o seu desfile. Ele convidou a drag queen Violet Chachki para entrar na passarela com um one piece feito de látex bem justo e segurando outro modelo por uma coleira. O figurino usado por ambos é bem característico da moda fetichista, especialmente pela presença dos harness.
De forma mais sútil, mas ainda assim brincando com a ideia de um clímax envolvendo o fetiche core, o ator de Gossip Girl, Evan Mock, compareceu ao MET Gala usando uma máscara preta com spikes assinada pelo designer Thom Browne.
No último final de semana (27), na festa pós Oscar da Vanity Fair, Julia Fox marcou presença usando um vestido longo de couro assinado por Han Kjobenhavn e Naomi Gilon. A produção tinha tudo para ser mais "sútil", no entanto, um detalhe na peça chamou toda a atenção. A mão envolvendo o pescoço da atriz, apesar de poder ser relacionada com uma estética mais gótica, também possui forte influências do fetiche core.
Em um último ensaio para a revista Wonderland, a atriz Zoë Kravitz e o ator Robert Pattinson mergulharam em uma vibe mais sensual e que nos fizeram lembrar um pouco uma estética fetichista.
Thierry Mugler teve um papel importantíssimo na moda fetichista, afinal, foi ele quem trouxe uma visão hardcore para o universo fashion durante a década de 70. Seus corsets ficaram registados na história e, mais tarde, seu olhar livre de taboos envolvendo a sexualidade, fizeram com que mais pessoas prestassem atenção no fetiche core nos anos 90.
De acordo com a matéria do site FFW, Vivienne Westwood e a contracultura punk também fizeram parte desse movimento. Em 1971 ela e seu parceiro, Malcom McLauren, abriam uma boutique intitulada “Sex” — aliás, foi lá que a famosa banda Sex Pistols surgiu. Com muitos artefatos inspirados no fetiche, nas subculturas londrinas e em motociclismo, a designer também foi uma precursora do fetishwear e rapidamente chamou a atenção de muitos jovens chegados em látex e couro na época.
Quando falamos em moda BDSM, também não podemos deixar de mencionar um dos maiores precursores dessa estética. Jean Paul Gaultier também incorporou o fetishwear na moda durante os anos 90. O uso de acessórios bondage, couro e outros elementos foram usados em várias de suas coleções e serviu como fonte de inspiração para diversas outras marcas, como a Versace, por exemplo.
Além disso, é impossível não se lembrar da Madonna. A cantora foi uma das responsáveis por abordar a libertação sexual de muitas mulheres, não só na indústria musical, mas também no cotidiano. Sua turnê “The Girlie Show”, foi recheada de produções relacionadas ao fetiche core e ficou consagrada como uma parceria inesquecível e super erótica entre a cantora e o designer.
Gianni Versace também apresentou coleções com inspirações no BDSM, tais como o corpete com harness de couro usado por Naomi no desfile de 1992. A coleção era provocativa e foi intitulada como “Miss S&M”, naquele ano, o conceito do desfile chegou a dividir opiniões, teve quem acreditou que aquelas roupas foram uma forma de objetificar sexualmente as mulheres, no entanto, muitas gostaram e enxergaram aquilo como uma forma de poder escolher livremente o que usar e como se sentir.
De certa forma, a moda fetichista pode ser vista como provocadora e libertadora, já que uma das maiores “lutas” dessa estética é contra o ultra conservadorismo — e isso é visto em qualquer lugar do mundo e durante todas as épocas, especialmente nas que os problemas econômicos, sociais e políticos falam mais alto.
Atualmente, a Dion Lee também vem chamando a atenção de muitos famosos — incluindo das estrelas de Euphoria —, inclusive por seus designes cheios de sensualidade, couro e detalhes mais ousados. Suas últimas coleções incluem peças com aberturas, harness mais grossos, fivelas e metais.
Aqui no Brasil, a marca Bold Strap foi, inclusive, uma das responsáveis pelo figurino de Verdades Secretas 2 — já que a continuação da novela abordou bastante a ideia de fetiches. Além disso, eles vestem personalidades como Anitta, Marina Sena, Karol Koncá e Pabllo Vittar. Inicialmente dedicada às jockstraps, hoje, a Bold Strap apresenta peças de fetiche, acessórios, underwear e streetwear. A marca celebra a diversidade da comunidade gay e todas as suas diferentes fantasias.
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