Você já parou para pensar em como será o futuro da moda daqui pra frente? Foi fazendo essa pergunta e pesquisando diversos artigos sobre o tema que me deparei com aquilo que eu já sabia e esperava encontrar: um consumo mais consciente e menos acelerado.
Diversos estilistas e grandes marcas já estão pensando lá na frente e refletindo sobre a quantidade das suas coleções num momento pós-pandemia. Como exemplo, Giorgio Armani que declarou que a sua coleção que seria apresentada na semana de moda de Paris esse ano, foi transferida para o começo de 2021 e não será focada em uma só estação do ano. O estilista também comentou que esse vírus deu uma oportunidade para a indústria da moda se reinventar e começar a produzir em uma escala menor. Isso, é claro, não significa que deixaremos de comprar, mas mudará a forma de como vamos consumir as tendências daqui pra frente.
Quando falamos sobre consumo consciente na moda, logo vem em nossa mente o famoso e "hypado" brechó, certo? De fato, as lojas de second hand podem ganhar ainda mais força entre os brasileiros. Mas hoje, eu trago um outro ponto de vista que tem tudo a ver com a futurologia fashion. Se você já precisou alugar um vestido de festa (seja para um casamento, formatura ou qualquer outro eventos formal), deve saber que o aluguel de roupas é uma forma sustentável e super prática - inclusive, financeiramente acessível.
Mas o que lojas de aluguéis tem a ver com o consumo do futuro na moda? É simples, diversas empresas especializados no ramo já estão de olhos bem atentos para esse "novo" (mas nem tão novo assim) modelo de negócio. E não, eles não se limitam apenas à vestidos mais refinados. As pessoas estão percebendo que alugar uma roupa casual pode ser uma maneira rápida, acessível e totalmente sustentável de consumir grifes e as mais quentes tendências da estação. Você deve estar se perguntando "mas qual o sentido de usar uma roupa de marca e depois devolvê-la?", eis que entra um outro exemplo da vida real. Em uma conversa com a minha melhor amiga que mora em Nova York, ela me contou que por lá, essa prática já é muito comum entre os americanos, principalmente nas grandes metrópoles. Por trabalhar em uma empresa de fotografia onde atende as maiores companhias do mercado fashion e onde a estética é o cartão de visitas nas reuniões presenciais, ela viu no aluguel de roupas uma oportunidade de estar sempre pronta para impressionar. E não estamos falando sobre futilidade, estamos falando sobre passar uma impressão de que você realmente pertence e entende aquele lugar e isso de fato, passa mais confiança para os seus clientes e sem precisar gastar todo o seu salário para comprar apenas uma peça de roupa nova. Ela vai na loja focada nessa proposta, aluga uma quantidade de peças por uma semana e paga bem menos por isso. Por outro lado, ela contribui com um consumo mais sustentável e ético, onde uma só peça pode ser usada diversas vezes, em várias ocasiões e por uma quantidade maior de pessoas.
Mas agora, com toda essa questão de uma pandemia global e um vírus que se transmite facilmente, será que está seguro investir em aluguel de roupas? Fomos atrás para descobrir como as lojas dessa área estão fazendo com a higienização das peças e quais os próximos passos para elevar essa "nova" onda para o mercado da moda de vez e torná-lo ainda mais popular. Por isso, convidamos a dupla Daniele Ribeiro e Flavia Nestrovski da Roupateca, uma empresa especializada daqui de São Paulo, para nos contar melhor sobre o futuro desse modo de consumo pós-pandemia, vem ver:
"A Roupateca surgiu em outubro de 2015(!). Ela surgiu a partir de uma forte percepção da sócia fundadora Daniela Ribeiro de que muitas mulheres tinham o mesmo problema: muitas roupas em seus armários e sempre a sensação de nada para vestir. Ela começou a se questionar se não existia uma forma de aumentar a vida útil dessas peças que já estavam produzidas. A partir dai começou a estudar economia compartilhada e em uma viagem para Amsterdam conheceu a Lena - uma loja de produtores locais onde se podia alugar, comprar ou acessar as peças através de um esquema de pontuação. Quando ela voltou para o Brasil entendeu que era uma coisa parecida com essa que queria fazer e em questão de 2 semanas a Roupateca nasceu! Aluguel de roupa ainda não era uma forte tendência - era apenas uma percepção de que o caminho futuro era esse."
"Achamos que é mais uma forma de consumir, mas que não necessariamente venha a substituir os brechós. Ambos os modelos de negócio fazem um esforço necessário que é aumentar o ciclo de vida útil das peças. Hoje se sabe que a média de vezes que uma pessoa usa uma peça adquirida em uma fast fashion é de 2 a 3x. É um uso muito baixo se comparado a todo o esforço de produção (uso de recursos naturais + toda mão de obra da cadeia envolvida). Sem contar ainda que mais de 70% dessas peças vão parar em lixões e aterros sanitários. Então, é sim necessário fazer com que as peças sejam mais usadas antes de ser descartadas e ambos os modelos de negócio tem essa finalidade também."
"Temos 2 formas de compor nosso acervo: através de marcas parceira (marcas com produção local, design autoral e cadeia de produção justa) e peças que nossas assinantes nos trazem. Essas passam pela nossa curadoria (temos algumas regras de peças que aceitamos ou não). Em troca as assinantes ganham créditos para usar para dar upgrade de assinatura. Ou seja - ela deve ser assinante, ainda que seja do plano mais básico. E com os créditos ela usa para migrar para um plano maior."
"Sim. Para nós a assinatura/aluguel não é uma tendência, é a nossa realidade."
"Reuniões, jantares, dates, festas, trabalho (prévias a pandemia). Hoje em dia muito para ficar em casa quentinha/confortável e para fazer reuniões de trabalho online, encontros de zoom..."
"As clientes devolvem as peças já higienizadas dentro dos padrões solicitados para o momento. Ainda assim, quando as peças chegam na casa, ficam separadas por uma semana de quarentena até que circulem novamente depois de claro nossa supervisão cautelosa."
"Na Roupateca funcionamos por assinatura mensal - não temos (ainda) aluguel de peças avulsas. Mas, também não temos um número mínimo de meses necessários, se a pessoa quiser assinar apenas por um mês ela pode. Queremos estimular mesmo o uso do guarda roupa compartilhado - muitas vezes assinar um plano mensal sai mais em conta que o aluguel unitário de uma peça em outros lugares."
"Entendemos que para uma parcela das mulheres sim. Muitas já vinham se questionando sobre o consumo de moda, de fast fashion e com certeza agora com mais tempo em casa fizeram boas limpas nos armários e notaram que muito do que elas têm de fato não é necessário. Para outras entendemos que não - que vão querer voltar a consumir como antes para voltar a "normalidade" - como vemos com a reabertura do comércio em algumas partes do mundo."