Toda primeira segunda-feira de maio, as maiores celebridades do mundo se encontram em Nova Iorque para a noite mais importante no calendário anual fashionista: O Met Gala. A importância é tamanha que o evento ganhou o apelido de Oscar ou Super Bowl da moda. O baile marca a abertura da exposição anual de moda do Museu Metropolitan e ocorre para angariar fundos para as operações do departamento da instituição, o Costume Institute. Mas como tudo começou? É essa trajetória de jantar íntimo restrito à alta sociedade de Manhattan à fenômeno de interesse global que a gente compartilha a seguir. O incomparável Met Gala é o tema da nossa #STEALTHECLASS.
a origem
Na década de 1920, em meio à efervescente cena cultural nova-iorquina, a produtora de teatro, Irene Lewinsohn e a designer de palco, Aline Bernstein, decidiram começar uma coleção de figurinos de fontes e épocas variadas com intuito de criar um arquivo de peças que serviria para consulta e pesquisa de outros profissionais do mundo teatral. Em 1946, a coleção já contava com mais de 8000 itens e passou a integrar o acervo do Metropolitan Museum of Art, ganhando um departamento próprio, batizado de The Costume Institute. Hoje em dia, ele conta com mais de 33 mil objetos cobrindo o período desde o século XV.
o início do met gala
O primeiro baile do MET ocorreu em 1948, e foi fruto da mente genial da relações públicas Eleanor Lambert, responsável também pela criação da NYFW, da lista internacional de mais bem-vestidos e do CFDA. Originalmente chamado de Costume Institute Benefit, ele foi criado como festa beneficente para ajudar a sustentar as operações do departamento já que o museu não conseguia mantê-lo sozinho. Lambert utilizou de toda sua valiosa lista de contatos para eleger os seletos nomes que estariam presentes. O evento, ao qual ela se referia como “a festa do ano", acontecia em Dezembro à meia-noite e o convite custava meros 50 dólares por cabeça. Frequentado pela nata da alta-sociedade de Manhattan, o gala era itinerante, mudando sua locação a cada ano, indo do Central Park ao Rainbow Room.
a era diana vreeland
O evento como conhecemos hoje começou a tomar forma em 1973, quando a lendária editora de moda Diana Vreeland, recém-saída de seus anos comandando a Vogue US, passou a prestar consultoria especial ao departamento. A chegada de Vreeland, cuja personalidade era tão grandiosa quanto sua importância na história de moda, revolucionou o Costume Institute como um todo: O Met Gala foi transportado para as dependências deslumbrantes do museu e além de servir para angariar fundos para o departamento, também passou a funcionar como chamariz para as exposições anuais idealizadas por ela como mais uma forma de arrecadação. Como? Através do dress code que se tornou temático e sempre inspirado pelo assunto de cada uma das exposições.
Graças a ela, o baile virou pop! Além de membros da high-society, artistas, políticos e celebridades passaram a integrar a lista de convidados, enriquecendo e transformando a festa em um acontecimento imperdível. Ela também instaurou a tradição de co-hosts e Jackie Kennedy, que já era membro do conselho, foi uma das primeiras a exercer o papel.
Vreeland era famosa pelos gostos igualmente extravagantes e cheios de glamour e sua atenção a cada detalhe transformou o gala em experiência inovadora, a decoração temática era levada ao pé da letra e até o perfume do local era alterado de acordo com o tema. Com o falecimento da editora em 1989, a socialite Pat Buckley passou a organizar o evento.
a era anna wintour
Em 1995, o Met Gala se tornou responsabilidade da editora-chefe da Vogue America, Anna Wintour. Desde que assumiu a posição, Wintour já angariou mais de 50 milhões de dólares para o museu. Tamanha dedicação rendeu homenagem, em 2014, após uma grande reforma, o Costume Institute batizou suas galerias de The Anna Wintour Costume Center, consagrando o papel fundamental de Wintour na evolução do departamento. A jornalista já era habitué do MET há anos e seu grande trunfo foi conseguir unir a tradição da festa à todo glamour do universo Vogue, elevando o baile a novos patamares.
a primeira segunda-feira de maio
A tradição de realizar a festa no início de Maio, durante a Primavera do hemisfério Norte, é relativamente recente. Até 1999, o Met Ball continuava ocorrendo em Dezembro e foi apenas com o falecimento do curador do Costume Institute, Richard Martin, que o calendário sofreu alteração. O primeiro, com a data que virou sinônimo com o evento, foi em 2001.
os temas
O gala sempre tem um tema relacionado à exposição atual do Costume Institute, que desde 2002 conta com a curadoria impecável de Andrew Bolton e vem quebrando recordes de público consagrando o status da moda como forma elevada de arte.
De acordo com o curador, a proposta é variar os assuntos e emprestar um olhar novo a tópicos de interesse que aproximem o grande público ao universo da moda. A lista passada inclui desde mono temas celebrando a obra de designers extraordinários como Coco Chanel e Alexander McQueen, conceitos como Camp, movimentos culturais como punk e surrealismo, lúdicos como super-heróis ou períodos históricos como a França do século XVIII.
O tema do baile de 2022, que ocorrerá no dia 2 de Maio, é continuação do ano anterior, que em função da pandemia da Covid-19 foi excepcionalmente realizado em Setembro. Focando na moda Estadunidense, a escolha visa homenagear a história do país através das criações made in USA.
Em Setembro passado, a primeira parte “In America: A lexicon of fashion” serviu como uma espécie de retrospectiva destacando passagens marcantes da história da moda Americana. Já para a parte 2, chamada de “In America: An anthology of fashion”, o dress code ganhou o nome de "Gilded Glamour, White Tie" algo como "Glamour da era de ouro" em tradução livre.
Gilded Glamour é clara referência à "gilded age", período que cobre de 1870 a 1900, era de grande crescimento e expansão pós guerra civil dos EUA que ficou marcada pela industrialização e o nascimento das grandes fortunas de famílias tradicionais como os Rockefeller e Vanderbilt. Os looks da época refletiam essa riqueza através do uso de materiais nobres, muitas vezes misturados na mesma composição, corselets, detalhes de laços e babados, acessórios de pérolas e uma predileção por excessos. Com essa premissa, dá para esperar muita opulência e looks elaborados dos convidados que cruzarem a escadaria do Met no dia 2 de Maio.
O filme "A Época da Inocência" (1993) de Martin Scorsese é ambientado na Nova Iorque de 1870 e é uma ótima referência para entender a moda predominante do período:
os anfitriões
Todo ano, Anna Wintour conta com a companhia de co-anfitriões para receber os convidados da noite. O time é normalmente composto por um representante da marca patrocinadora, pessoas influentes que fazem parte do universo Vogue e celebridades dos mais diversos campos.
Em 2022, o time é formado pela atriz e diretora Regina King, o casal Blake Lively e Ryan Reynolds, o compositor e diretor Lin-Manuel Miranda, o designer Tom Ford e Adam Mosseri do Instagram, liderados por Wintour.
os convidados
A lista de convidados do baile, com média de 600 pessoas, é sempre motivo de especulação. Mega exclusiva, hoje em dia é possível comprar convites para festa, porém não basta ter disponível a quantia proibitiva de 35 mil dólares, ele precisa ser oferecido a você. A outra alternativa para comparecer é através de uma das grandes marcas ou conglomerados de luxo que desembolsam 275 mil doláres por mesa e a preenchem com seus convidados especiais. Mas é importante reforçar que a toda-poderosa Anna faz questão de aprovar cada um dos nomes presentes.
Compõem a lista uma seleção de nomes notáveis do mundo das artes, esportes, cultura e política em um grupo cada vez mais diverso. Nos últimos anos, influencers e youtubers passaram a integrar também a disputada guest list ampliando ainda mais a variedade de atendentes. Um dos maiores desafios é o mapa de assentos, já que Wintour faz questão de supervisionar detalhadamente quem ficará sentado lado a lado. Pós-jantar, a festa fica mais animada contando com shows dos maiores nomes da música, pelo palco do MET já passaram Rihanna, Madonna, Kanye West, Cher e Bruno Mars.
o dress code
O tema das exposições define o dress code sugerido da noite, mas para quem prefere não se aventurar nas produções de inspiração específica, pode optar pelo black tie.
os looks mais inesquecíveis
Uma chance para vestir as criações mais fantásticas e deslumbrantes possíveis, a escadaria do Metropolitan é o lugar perfeito para os convidados exibirem seus looks, a maioria de alta-costura e feitos especialmente para a ocasião. Durante os mais de 50 anos da festa, incontáveis momentos memoráveis foram protagonizados e abaixo destacamos alguns deles.
O ano de 1974, contava com o tema ""Romantic and glamorous Hollywood design" e foi cenário para dois dos looks mais icônicos já usados no MET. Cher à bordo de um naked dress adornado por plumas assinado pelo seu designer favorito, Bob Mackie.
Bianca Jagger ao lado do então marido Mick Jagger, usando um Halston inteiro de paetês acompanhado de boina igualmente bordada.
Nos anos 90, as supermodelos dominaram o red carpet do Met e Naomi Campbell é belo exemplo, normalmente usando um modelo Versace.
Sarah-Jessica Parker é presença garantida sempre levando a sério a proposta de cada edição. Em 2016, com o tema "Anglomania", foi umas das co-anfitriãs da noite ao lado de Alexander McQueen e os looks de influência escocesa assinados pelo estilista são sempre mencionados.
Porém, a musa não oficial do Met é sem dúvidas, Rihanna. A estrela multifacetada não decepciona nunca! Como esquecer dela em 2015, quando o tema era "China: Through the Looking Glass", usando uma criação amarelo-gema assinada por Guo Pei, estilista chinês ainda pouco conhecido no ocidente? O look deslumbrou e inspirou incontáveis memes.
De um irreverente Comme des Garçons, passando por Maison Margiela à alta-costura da Balenciaga, ela continua fugindo do lugar comum e elegendo produções surpreendentes e interessantes para suas aparições no baile.
Uma das co-anfitriãs do gala desse ano, Blake Lively, é outro nome sempre aguardado. Vale destacar sua escolha em 2018, um Atelier Versace que levou mais de 600 horas para ser confeccionado. Digno de realeza, ele representava perfeitamente o tema "Heavenly bodies":
Figura conhecida pela autenticidade e versatilidade, Lady Gaga foi uma das anfitriãs em 2019 e transformou o red carpet em cenário para performance artística realizando trocas e demonstrando quatro versões dos looks idealizados por Brandon Maxwell ao vivo no tapete vermelho.
quer mais?
Ao vivo: O tapete vermelho do Met Gala desse ano, que ocorre no dia 2 de Maio, vai ser transmitido ao vivo pelas mídias sociais (Instagram, Twitter e Facebook) da @vogue a partir das 19h.
Para seguir: @metcostumeinstitute, conta oficial do departamento de moda do Met.
Para assistir: O documentário “The first Monday in May” que cobre os preparativos e bastidores do Met Gala de 2016.
Para escutar: O episódio 2 "The Met Gala: A Global Celebration" da série In Vogue: The 2000s, do podcast da Vogue US.
Para explorar: Arquivo do Costume Institute completo
Para visitar: Se você estiver pela Big Apple entre 7 de Maio e 5 de Setembro de 2022, pode conferir ao vivo a exposição atual.
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