Cursos de graça, lives no Instagram de exercícios e celebridades ensinando francês. Todo mundo uniu forças nessa quarentena para preencher nosso tempo da melhor forma possível. E tudo isso é incrível, porque temos a oportunidade de aprender coisas novas e manter a mente ocupada para não enlouquecer nesse período de isolamento. Porém, também é preciso entender que não, você não precisa ser a mais produtiva do mundo durante a quarentena. Você não tem que ser igual a ninguém. Você não tem que aprender uma língua nova, meditar todos os dias e malhar também. Cada um tem que viver a quarentena da forma que for mais leve pra si. E enquanto ter uma rotina é muito importante - ter seu tempo para tomar café, trabalhar, almoçar, ler um livro etc - também é essencial adicionar um tempo de ócio nessa programação. Com toda essa enxurrada de conteúdo online que estamos recebendo, você já experimentou parar e fazer nada?
O isolamento forçado pode sim ser uma ótima oportunidade para adquirir conhecimento, afinal, qual foi a última vez que tivemos tanto tempo livre? Mas a cobrança de produtividade em tempos caóticos como esse não é nada saudável. São notícias ruins de todos os lados, então é normal que a ansiedade aumente e, principalmente: é normal que você não lide com isso com tanta positividade assim. Haley Nahman, ex redatora do Man Repeller, publicou há alguns dias em seu Instagram uma foto com uma legenda que merece uma tradução livre aqui:
Você não precisa "fazer o máximo" dessa quarentena. Então se você está se sentindo mal com o excesso de informações, saiba que:
1. Cada um lida com ansiedade de jeitos diferentes. Algumas pessoas ficam super produtivas, outras não. Qual das duas você vai ser não é uma escolha sua.
2. Estamos isolados e presos em uma situação de caos, com uma enxurrada de notícias ruins o dia todo. A idéia de que você TEM QUE TER uma rotina organizada e produtiva - malhar, trabalhar, cozinhar, fazer skincare - em casa não é realista pra todos. E tudo bem se você se sentir com medo, sem foco e paralizado durante esse período.
3. Não tem problema em ter necessidades que vão contra o que todo mundo está falando. Escute suas necessidades pessoais, elas podem ser diferentes das outras pessoas.
4. Está tudo de cabeça para baixo e infelizmente você não pode fazer muita coisa para melhorar essa situação. Pensar que você pode consertar o mundo só coloca mais pressão em um momento que já é estressante para todo mundo. Saber que você está de mãos atadas é essencial.
5. Você não vai entender toda essa situação até que se distancie dela. Só vamos realmente compreender tudo o que está acontecendo quando acabar.
6. Toda energia que você gasta se martirizando por não estar fazendo o máximo de uma pandemia mundial é energia jogada fora. Não devemos romantizar a doença e fazer da quarentena um retiro, então tudo bem se você não quiser usar esse tempo para ser um profissional melhor, fazer yoga ou aprender uma língua nova.
7. Por fim, mas não menos importante: tenha mais auto compaixão. Se perdoe. Aceite que tá tudo bem você agir da forma que você bem entender.
A Perestroika também trouxe o assunto a tona e bate em um ponto pertinente: está acontecendo uma aceleração da produtividade graças ao acúmulo de conteúdo gerado para cobrir a sensação de ansiedade causada pelo momento. É inevitável passar mais tempo nas redes sociais e assim que acordamos já temos pessoas de todos os lados dizendo "assita a minha live", "leia esses livros", "faça esse curso". E ninguém pensa em de fato PARAR.
De ter um tempo para desligar de tanta informação e deixar o cérebro descansar. Muitas vezes, são nesses momentos de ócio que nossa criatividade nos surpreende, que as melhores ideias surgem. Entendemos que a produtividade serve como uma fuga da realidade, mas lembre de que todos nós somos frágeis diante dessa situação mundial.
A pesquisadora e professora de educação, psicologia e neurociência na Universidade do Sul da Califórnia, Mary Helen Immordino-Yang, escreveu um artigo que traz um levantamento científico do que acontece quando nosso cérebro está em "repouso'. O estudo aponta que, quando estamos descansando e focados somente na nossa mente, o cérebro entra em um "modo padrão", que está ligado aos componentes do nosso funcionamente socioemocional, como autoconhecimento, desenvolvimento do raciocínio e julgamentos morais. Outras pesquisas também concluem que ter devaneios e "fazer nada" melhora a produtividade e ajuda na resolução de problemas.
Mas o fato é que estamos vivendo um verdadeiro FOMO (fear of missing out) digital. Ao invés de se sentir mal por ver os Stories dos amigos que estão na balada enquanto você está vendo Netflix, nos sentimos mal e para trás por não conseguir acompanhar tanto conteúdo e produtividade. E toda aquela história de detox digital vai por água abaixo. Durante esse tempo, vale a leitura de Minimalismo Digital, de Cal Newman, que consiste na filosofia da tecnologia de que, se você foca seu tempo online em pequenas e seletas atividades, tudo se torna mais valioso e aquilo que você está perdendo não é mais tão importante.
Então vale colocar tudo na balança e experimentar uma rotina que seja produtiva, mas que tenha momentos ociosos. Seja para desligar das notícias ruins ou para tentar se entender. Vai dar tempo de fazer tudo o que você quer, tá?