Luísa Sonza, Urias e Mateus Carrilho falam sobre a relação que têm com a moda
Sabemos que os artistas musicais - e de todas as outras formas de arte - sempre gostam de se expressar, de alguma maneira, através de seus trabalhos. E não é diferente com Luísa Sonza, Urias e Mateus Carrilho, nomes do novo cenário musical brasileiro, que entendem que a música combina muito bem com a moda.
A estética visual, para eles, é de extrema importância, porque complementa o trabalho sonoro criado. Em entrevista, Luísa Sonza, Urias e Mateus Carrilho nos contaram como começaram a ter interesse pelo mundo da moda, além de apontarem muitos outros fatos sobre a relação deles com o tema. Quer saber tudo? É só continuar lendo.
luísa sonza
você foi uma das precursoras do corset de tênis, como foi o processo?
L.S.: Nós já tínhamos comprado essa peça antes do clipe de 'Sentadona'. Eu e o Victor, meu stylist, já estávamos atentos a essa tendência, e aí a gente encomendou um corset que veio de Londres, pensando em usar em algum projeto futuro. Daí surgiu 'Sentadona', e percebemos que era o momento perfeito para usar essa peça, porque casava muito com a identidade da música. Para manter a identidade visual nos shows, a gente convidou uma estilista de Uberlândia, que já estava realizando esse tipo de trabalho, e foi o estouro que foi.
como foi a transição estética entre as eras musicais?
L.S.: Isso flui muito conforme o que estou sentindo na minha vida pessoal, sabe? Então, acabo me atrelando também a essas eras musicais que tem tudo a ver com meu processo criativo artístico.
com quantos anos você percebeu que tinha interesse em moda?
L.S.: Eu acredito que essa ligação maior ocorreu quando, de fato, me tornei uma cantora profissional. Eu, Luísa Sonza, nunca fui uma pessoa extremamente ligada à moda, mas entendi a importância dela dentro do meu trabalho e da cultura pop. E, desta forma, fui me interessando cada vez mais. Hoje eu considero a moda como uma das principais bases da minha carreira.
para você, o que é moda?
L.S.: Moda é uma arte, a gente se expressa por meio dela e ela compõe aquilo que somos. Através dela que construo a minha identidade visual, e sem ela sinto que eu não conseguiria passar tudo o que eu quero nas diferentes Eras da minha carreira. Então, eu considero a moda como uma parte essencial na minha vida, na profissão e no pessoal também.
como juntar música e moda?
L.S.: Para mim, tanto a música quanto a moda refletem aquilo que somos. Então, nessa linha de raciocínio, elas meio que já se complementam, sabe? Componho letras que partem das minhas vivências e emoções, e eu também escolho as minhas roupas conforme estou me sentindo, ou o que acho que casa mais com a minha personalidade. Para mim, não tem como separar as duas coisas, porque ambas partem de mim mesma, e acho que o 'DOCE 22' é a maior prova disso.
como pensa os figurinos dos shows?
L.S.: Esse trabalho é feito sempre em conjunto com o meu stylist, o Victor Miranda, e de acordo, claro, com cada Era que estou vivendo, além da forma com que eu quero me expressar para o público.
o que você tenta mostrar com a moda?
L.S.: Tento mostrar o meu próprio eu, a forma como estou me sentindo. A moda tem me ajudado a construir muitas coisas dentro da minha carreira, ela me ajuda a passar mensagens e emoções sem eu precisar falar nada. O público percebe através das minhas roupas, e isso é algo essencial para a identidade que eu busco.
urias
com quantos anos você percebeu que tinha interesse em moda?
U.: Bem pequenininha assim, sabe? Mas eu não via como um interesse em moda, com 11, 12 anos eu e um amigo da minha rua lá em Uberlândia, o Yuri, desenhávamos croquis e personagens de animações com outras roupas. Eu tive contato com artistas que me apresentaram muito sobre a moda como, por exemplo, a Lady Gaga, quando eu tinha 14 anos.
para você, o que é moda?
U.: Olha, eu acho que moda, para mim, é uma mensagem que você quer passar através de como você se apresenta, porque dependendo da roupa que você está, você abraça uma pequena parte da sua personalidade, você exalta ela. Então, a gente sempre quer contar alguma história com as nossas roupas, né? Quando estamos nos arrumando para sair, queremos passar uma imagem: “eu quero que pensem isso de mim”, “a personagem hoje é essa”, a gente sempre vai levando para esse lado. Então, acho que a moda é um jeito de você contar uma história da sua perspectiva.
como você fez para juntar música e moda?
U.: A gente sempre tem visto que esses dois mundos se dão muito bem juntos e, hoje, a base artística da música conversa muito bem com a base artística de moda, sempre uma se apoiando na outra para chegar em outros patamares. Vou ser sincera com você, antes de começar a fazer música, eu era uma artista visual, eu tinha mais noção de como passar uma mensagem visualmente do que sonoramente, por conta do meu background mesmo, então entrei no cenário musical através do visual. Eu pensava “qual mensagem, visualmente, eu quero passar?” e criava uma trilha sonora para aquela mensagem visual. Esse foi meio que o caminho para mim, tudo sempre esteve muito junto, principalmente no começo, que eu me aprofundei mais no mundo da moda através de artistas de música, pois via tudo isso muito entrelaçado.
tem algum estilista ou alguém da área que você acompanha e acha que merece mais atenção
U.: Eu acompanho muito os estudantes de moda, por exemplo, os da Saint Martins College of Arts and Design, de Paris, e tem uma marca chamada MOWALOLA que é muito incrível. Ela traz uma proposta do final dos anos 90, começo dos anos 2000, mas tem uma vibe com uma pegada meio asiática também. Acompanho muito as novas gerações, como Iris Van Herpen, que era assistente do Alexander McQueen e se desvinculou da grife para poder abrir a própria. Ela traz esse mesmo gosto de inovar que o McQueen, para se ter uma ideia, a Iris faz esculturas futuristas com os vestidos dela.
e brasileiros?
U.: Eu acompanho muito pessoal da ARTEMISI, que são quem eu sempre procuro para colaborar comigo. Outra marca bacana é a Babalong, que tem um acabamento muito bom. Acompanho também a minha grande amiga que está trazendo um conceito de roupa que não tem nem como descrever para você, não sei se você conhece a Panim da Cachorra mas é muito babado.
você vai se apresentar no 'primavera na cidade'. como foi esse convite?
U.: Eu recebo as propostas, mas sou uma pessoa que gosta de acreditar que vai acontecer depois que fechou tudo certinho. Quando fiquei sabendo que deu tudo certo, na verdade, eu não entendi nada, porque é um festival que eu sempre quis ir lá fora e na primeira edição dele aqui, eu vou cantar, sabe? Então, foi uma daquelas vezes que você fala assim: “não, é mentira que está acontecendo, não é possível”, sabe aquelas coisas que você nem sonha? Nem achei que era realmente possível, sabe? Fiquei muito feliz.
para fechar nossa entrevista, você já está planejando o seu look ou ainda é muito cedo?
U.: Então, eu não diria que é muito cedo, nunca é muito cedo para planejar looks, mas eu gosto muito de contar uma história completa, sabe? Então quero entender aonde vou estar, em que pontos da minha carreira eu vou estar, em que Era eu vou estar, para o look conversar com a história que eu vou contar na época do festival, entendeu? Para conversar com o meu mundo também. Sabe? Então, assim que as coisas forem surgindo, com certeza sim. É isso, vai acontecer sim. Quero ir com um look que não sei nem explicar, e ele ainda vai ser inventado.
mateus carrilho
com quantos anos você percebeu que tinha interesse em moda?
M.C.: Olha, desde que eu era bem novo, eu já percebi que existia um interesse meu por coisas que eram diferentes. Sou de Goianésia, no interior de Goiás, e sou o filho mais novo, então sempre ficava com as roupas que eram do meu irmão mais velho. Sabe essa cultura do mais novo pegar as roupas que eram do mais velho? Mas, houve um momento onde eu criei um interesse por me vestir, e eu não aceitei mais receber as roupas que eram do meu irmão. Geralmente, eu amava qualquer coisa que soasse diferente do que era tradicional. Teve um conjunto que me marcou, porque foi uma das primeiras roupas que eu decidi comprar, minha mãe foi na loja comigo e optei por ele, que era um conjuntinho de colete e bermuda estampados e coloridos. Só por ser um colete não ser uma camisa tradicional, eu lembro que eu me senti o máximo. Acho que foi o primeiro destaque, e foi assim que os meus pais também perceberam que existia uma atração minha por coisas que fugiam um pouco do que era convencional.
para você, o que é moda?
M.C.: Amo tudo que é visual e tudo que é estético, e antes de ser um artista musical, eu também sou um artista visual e, para mim, o visual é uma coisa que complementa o que nós somos, que cria magia, é o olhar das pessoas sobre você. Acho que a moda traz isso, é a roupa que muda a sua personalidade, faz com que você, muitas vezes, faça o que você deseja. Então, acredito que na arte isso caminha junto, eu sou um artista que sempre prezei muito pelo meu visual, acho fundamental. Essa resposta é um pouco complicada, porque pode ser tanta coisa, né? Mas, é isso. Eu sou apaixonado por imagem.
como você consegue juntar moda e música?
M.C.: Vou me basear muito nos meus ídolos. Os meus artistas favoritos são os criativos, que além da música, existe um trabalho feito como complemento estético. A Rihanna faz isso muito bem, ela tem, além da parte musical, suas marcas. O Tyler, The Creator também é uma das minhas maiores referências, o senso estético dele é tão apurado que você consegue perceber que desde a música, até na Golf, que é a marca dele, é possível notar essa singularidade do que ele quer fazer, sobre a proposta dele como artista e sobre o menino que ele cria nesse fundo lúdico, visual. Esteticamente isso é desenhado desde os timbres da escolha da música dele, até esse mundo mágico e ilusório que ele cria.
Acredito que eu também seja um artista que faz um trabalho mais ou menos nesse sentido, desde os tempos de Banda Uó. A gente sempre trouxe muito desse visual no início, era tudo muito colorido, porque queríamos trazer essa coisa do Brasil, a coisa do brega. Isso depois foi ficando cada vez mais refinado. No momento atual que eu cheguei, artisticamente, eu gosto muito de trabalhar com esse imaginário popular brasileiro, é uma coisa sobre a minha arte, minha paixão. Como eu te contei no início da entrevista, eu sou do interior, então tive vivências muito bairristas. Por isso, até na minha vestimenta gosto de trazer esse universo, essa atmosfera.
quem são suas influências na moda?
M.C.: Aqui no Brasil, tinha uma marca que eu amava, e que contribuiu muito para nossa visão estética, que era a Amapô. Não sei como a marca está hoje em dia, mas ela foi responsável pela grande maioria dos looks diferenciados que a gente já trouxe ao longo da nossa carreira. Eu também amo muito a Gucci, que é uma marca que tem tudo a ver comigo, porque eles trabalham num senso de moda que é aquele chique, que é também meio quente e beira os exageros, a estranheza que eu me identifico muito. Acho que, também, é o universo que eu junto com o meu público, que é sempre essa coisa do jovem, do estranho, do novo.
Alguns figurinos novos de show foram feitos pelo Alexandre Vorgo, ele arrasa muito. A Babalong fez o meu look do BBB, e é uma marca fantástica que trabalha com estamparia. A Another Place é outra que eu também tenho usado bastante. No prêmio Multishow, usei uma criação do Vivão, que é um estilista baiano, o modelo era tipo um peitoral meio que moldado, uma coisa meio romana antiga. Ele é um menino muito interessante.
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Desde o começo da minha carreira, eu sempre trabalhei com jovens estilistas e criativos que estão no início também. Acho que isso é muito importante, sabe? Sempre darmos visibilidade para essas pessoas. Acredito que a arte nestes lugares é sempre fomentada de uma maneira muito genuína e não somente na questão da moda, mas também em relação a fotógrafos e designers. Amo trabalhar com pessoas jovens que estão criando histórias e narrativas.
Para fechar a entrevista, queria saber o que você tenta mostrar com a moda.
M.C.: Eu sou um artista do futuro, então o que me motiva é sempre a novidade. Quando a coisa cria um senso comum, ela começa a deixar de ter um pouco de graça para mim, porque eu realmente penso que precisamos nos mover, ir para um lugar novo o tempo todo. É aquela história, você não pode parar no tempo realmente, porque o mundo está mudando constantemente, e a moda também, então acho que o novo me excita, sabe? Amo tudo que é novidade ou o retorno dela, porque sei que a moda se recicla e ela volta de década em década. Coisas que aconteceram voltam a acontecer, mas é isso que me provoca, é isso que me instiga, é isso que me faz criar, ver algo que pela primeira vez, ou de forma repetida, criando um novo movimento. Isso, para mim, é o fantástico da moda, da criação e do visual.
Agora que você já conhece mais sobre Luísa Sonza, Urias e Mateus Carrilho, conta para a gente: quais outros artistas você quer ver por aqui?