Mercado de luxo no cinema: como marcas estão transformando o entretenimento

por Miriam Spritzer

A moda, o mercado de luxo e o entretenimento estão cada vez mais misturados. Não se sabe onde um termina e o outro começa. De parcerias, patrocínios e até co-produções, as grandes marcas de luxo estão presentes das mais variadas formas e graus de visibilidade. Não é uma novidade que os principais festivais de cinema e de música do mundo sempre contaram com o patrocínio e ativações de marcas. Estas participações sempre foram óbvias, no entanto o jogo mudou nos últimos anos.

Para uma marca realmente participar da conversa com os consumidores de música cinema, não basta apenas o velho e bom “product placement”,  de logos espalhados em todos os cantos e celebridades desfilando com produtos. Hoje, não há outra saída senão entrar no diálogo de fato e produzir também produtos culturais.

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Grupo elegante em evento de gala, usando roupas sofisticadas inspiradas no mercado de luxo, em frente a um cartaz.
Foto: Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, Zoe Saldaña, Adriana Paz, and Edgar Ramírez para o filme (Reprodução/Getty Images)


A Saint Laurent foi pioneira ao criar o seu próprio estúdio de produções, não para comerciais e sim filmes. A produtora dentro da grande marca começou com um curta-metragem de Pedro Almodóvar em 2023 e em 2024 assina junto a um dos principais filmes do ano, Emilia Perez, com Selena Gomez e Zoe Saldaña. O filme é distribuído pela Netflix e é um forte candidato ao Oscar. Como co-produtora, a Saint Lauren se envolve principalmente com as questões estéticas, como figurino e em algumas produções, cenário. Assim, consegue deixar a sua impressão digital alinhada à marca, mesmo sem colocar seus produtos ou mencionar o seu nome. 

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Três homens posam segurando bolsas de grife, simbolizando o mercado de luxo contemporâneo.
Foto: Audemars Piguet e o Keinemusik (Reprodução/Divulgação)

Audemars Piguet é outra marca que faz este relacionamento com o mundo cultural de uma forma excepcional. Este ano, a alta relojoaria suíça se junta ao descoladíssimo grupo Keinemusik — para quem não conhece, é um coletivo de música eletrônica e uma gravadora fundada em Berlim em 2009 pelos DJs &ME, Adam Port, Rampa e Reznik. E não, eles não criaram uma nova linha de relógios juntos e sim produziram um documentário que reflete sobre a relatividade do tempo, o tema em comum das duas marcas. A produção foi filmada em Bürgenstock, na Suíça, e faz um estudo sobre a cultura da música eletrônica ao acompanhar o grupo durante seu processo criativo. 

O filme é quase que um making off do Keinermusik, mas o DNA da marca está ali de forma discreta, através do cenário de natureza esplendorosa. Para completar, o lançamento do projeto exatamente foi no mesmo local da gravação com um show ao vivo do grupo e a presença de convidados da Audemars Piguet, destacando que as duas marcas tem em comum a inovação e a busca por gerar experiências extraordinárias.

Foto: Pharell Williams para (Reprodução/Luster Magazine)

No quesito música, a Louis Vuitton também já transitou bastante de uma forma discreta e indireta. Antes de ser diretor criativo, Virgil Abloh era DJ e chegou a fazer shows mesmo durante o seu tempo na marca no festival Tomorrowland, no Hi Ibiza e Wynn Las Vegas. E hoje, Pharrell Williams, que é o diretor criativo do setor masculino da marca, segue uma longa carreira como cantor, produtor e ator. Este ano, o rapper, lança a sua cinebiografia chamada Peça por Peça, onde sua vida é contada visualmente como se fosse uma brincadeira de LEGO. Mesmo que ele não apareça de fato no filme, vai estar de LV em todas as suas aparições públicas e será impossível separar as duas coisas.

E não poderíamos falar da Itália e festival de cinema, sem comentar as várias atividades práticas que a Cartier oferece durante o Festival de Veneza. Mais do que experiências para consumidores, a alta joalheria oferece masterclasses, palestras e aulas para os participantes do festival. Além de qualificar talentos e abrir o espaço para diálogos da indústria cinematográfica de uma forma ativa, essa estratégia também facilita o contato  da marca com fortes nomes da indústria e novo cineastas.

É indiscutível que cada vez mais o mercado de luxo e o cinema vão se misturar. Aos poucos, as marcas se tornam parte integrante da narrativa, criando uma conexão mais sutil, eficaz e verdadeira com o público que vai impactar na cultura popular, influenciando não só tendências e desejos mas também enriquecendo as produções artísticas.

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