Michelle Obama lançou seu livro "The Light We Carry" e, durante toda a turnê para promover este novo trabalho, ela apareceu com um estilo completamente diferente do que víamos enquanto ela exercia o papel de primeira-dama dos Estados Unidos. Se antes ela usava looks mais sociais, hoje eles carregam muito mais informação de moda, o que foi muito bem observado pelo The New York Times.
É importante prestarmos atenção no cenário político para falarmos sobre o estilo de Michelle Obama. Sendo a única primeira-dama negra do país, ela precisou se preocupar muito mais com sua imagem, suas atitudes e até suas vestimentas.
Michelle Obama, em várias eventos, trocou seus vestidos florais, bainhas corporativas e cardigãs por terninhos de calças mais curtas, camisetas e tranças, quase como uma forma de independência das restrições e convenções impostas a ela enquanto era primeira-dama.
A primeira aparição com o novo estilo foi em Nova York, com o terninho Proenza Schouler amarelo que ela usou no programa “Today”. Após este, o look com camisa Versace alongada, transparente e com estampa zebrada, combinada com uma calça rosa deixou toda a comunidade da moda com os olhares mais atentos à Michelle Obama.
Michelle Obama chamou atenção com um terninho de veludo Balmain combinado com uma camiseta com estampa de Diana Ross personalizada em San Francisco, coincidência ou não, o look foi usado para uma entrevista com Tracee Ellis Ross, filha de Diana Ross. Outro look que chamou nossa atenção foi composto por jeans Balmain oversized usados com um top preto Marine Serre com um lenço de seda estampado no busto.
"The Light We Carry" é um livro extremamente pessoal, em que ela mistura anedotas caseiras com conselhos sobre como lidar com ansiedade, pressão e insegurança. Dessa vez, as roupas parecem mais pessoais: ela sai daquele papel em que precisa se vestir para agradar aos outros e consegue ter a liberdade para usar o que a faz se sentir bem.
Durante seus oito anos como primeira-dama, ela precisou se manter "cuidadosa com a própria imagem". Pense: em um país tão racista como os Estados Unidos, qualquer atitude de Michelle Obama era entendida como propriedade pública, ou seja, tudo que ela fazia se tornava notícia.
Como ela disse à Ellen DeGeneres em sua conversa durante a turnê, ela considerou usar tranças, enquanto estava na Casa Branca, mas optou por não fazê-las, porque achava que o povo norte-americano não estava pronto para um cabelo com ancestralidade negra. Para ela, já era suficiente que eles estivessem se ajustando a um presidente negro e uma primeira família negra.
Mesmo depois que os Obama deixaram a Casa Branca, quando Michelle Obama publicou seu best-seller "Becoming" e embarcou na turnê do primeiro livro, sua imagem parecia ser uma ponte entre o papel que ela havia desempenhado e a direção que estava tomando. Suas escolhas estavam ficando mais brilhantes e aventureiras - lembra daquelas botas de cano alto iridescentes da Balenciaga? -, enquanto, ao mesmo tempo, permanecia reconhecidamente sob medida.
Agora, quase quatro anos depois, a história é outra. A estilista Meredith Koop disse à Vogue que era, em grande parte, sobre “querer estar cada vez mais confortável”. Você realmente não pode argumentar com isso. O conforto é a única tendência com a qual todos concordam, após a pandemia da Covid-19.
No entanto, considerando o quão estratégica Michelle Obama era sobre suas escolhas de vestimenta, durante a administração de Barack Obama; como ela usou os holofotes para chamar a atenção para uma série de nomes independentes representativos do caldeirão americano; e o quão consciente ela tem sido de que todos os seus looks são seguidos, é impossível não pensar que a mudança atual é mais que apenas conforto físico. É também sobre estar à vontade consigo mesma.
A cultura e os símbolos de ancestralidade negra - como as tranças - não são uma tendência ou um estilo, eles carregam identidade, história e muita luta em seus significados, mas são atrelados como algo não pertencente a uma mulher de poder. As pessoas de outros grupos étnicos - principalmente as brancas - sempre esperam um visual muito eurocêntrico das mulheres pretas que ocupam cargos importantes na sociedade. Assim como fez a primeira-dama, muitas vezes, estas figuras femininas deixam de lado alguns símbolos tão importantes para que não sejam questionadas sobre sua autoridade.
Agora, neste novo momento de sua vida, Michelle Obama está resgatando sua própria imagem e identidade negra.