Fórmula 1. Como começar a descrevê-la? Intensa, emocionante, veloz e fashionista. Sim, essa modalidade esportiva está, gradualmente, conquistando o seu espaço no mercado da moda, ao lado do basquete e do futebol. Se pensarmos um pouco, até que demorou para o automobilismo ganhar visibilidade na moda, mas com o sucesso da série da Netflix "Drive to Survive" e novas produções como "Apex", o novo filme estrelado por Brad Pitt, está claro que as grandes marcas não perderiam a chance de pegar carona - com o perdão do trocadilho - nesse sucesso.
Isso, aliado ao crescimento exponencial da Fórmula 1 nos Estados Unidos e à disseminação de conteúdo no TikTok, especialmente por mulheres fãs fervorosas do esporte (eu incluída), e à presença constante de celebridades de peso, como Rihanna, nos finais de semana de corrida, transforma esse esporte em um evento VIP e abre portas para que as grandes grifes expandam seus negócios para além das passarelas e do comércio, consolidando a parceria entre moda e esporte cada vez mais.
vamos do começo?
Fundada em 1950, a Fórmula 1 estabeleceu-se principalmente na Europa, onde as primeiras corridas foram realizadas em circuitos famosos que ainda fazem parte do calendário atual, como Silverstone e Mônaco. Gradualmente, expandiu-se para atrair fãs da Ásia e da América do Sul, especialmente devido a ícones como Ayrton Senna, uma lenda mundial do esporte que serve de inspiração para inúmeros pilotos, incluindo outros dois gigantes do paddock, Michael Schumacher e Lewis Hamilton.
No Brasil, esse amor foi se dissipando aos poucos após a trágica morte de Senna em 1994, em Ímola. Na verdade, naquele dia, o mundo dos esportes perdeu parte de sua graça. As transmissões televisivas aos domingos diminuíram e o amor transmitido de geração em geração foi interrompido.
Por volta de 2017, essa tendência começou a mudar. A Liberty Media Corporation, uma empresa americana de mídia de massa, adquiriu os direitos da Fórmula 1 e, com isso, começou a investir no automobilismo, transformando-o em um espetáculo internacional de sucesso.
Junto com o sucesso das transmissões, a Liberty Media também começou a "cortejar" a indústria da moda, por assim dizer. Em 2019, uma colaboração de grande sucesso com a BAPE (A Bathing Ape), marca fundada pelo designer NIGO, esgotou-se em apenas 36 horas, destacando-se como uma das iniciativas que impulsionaram ainda mais essa união. A colaboração foi inicialmente divulgada durante as comemorações do 25º aniversário da BAPE, realizadas no ano passado nas movimentadas ruas de Tóquio, e também celebrava o Grande Prêmio do Japão de Fórmula 1 de 2019.
Apesar disso, é válido ressaltar que as ligações entre a Fórmula 1 e o mundo da moda, apesar de estarem "no hype" agora, não são uma super novidade: a influência dos óculos de sol Ray-Ban de Ayrton Senna e das golas altas de Gilles Villeneuve perdura, enquanto casas de moda como Tommy Hilfiger e Benetton patrocinam equipes há décadas. Um elegante terno de corrida preto ou uma jaqueta de couro vermelha da Ferrari sempre será sinônimo de elegância. Com o aumento da visibilidade dos pilotos, também cresce o senso de estilo dentro do esporte, concorda?
depois que encontraram a mina de ouro
Marcas estão aproveitando o novo fator de 'coolness' do esporte de maneiras que vão muito além de simples colaborações de merchandising. "A Fórmula 1 está crescendo cada vez mais nos EUA, nosso principal mercado, então é mais uma forma de servir nossos consumidores lá," disse o fundador da Palm Angels, Francesco Ragazzi à BOF (Bussiness of Fashion). "É como ter um Super Bowl todo final de semana", completou.
A marca italiana de streetwear, à título de curiosidade, recentemente iniciou uma parceria com a equipe americana Haas como seu curador de arte e entretenimento, com jantares, festas e outros eventos em momentos-chave ao longo da temporada.
É como ter um Super Bowl todo final de semana
A Berluti, pertencente à LVMH, tornou-se o "parceiro da elegância" da Alpine F1. Desde 2021, a Louis Vuitton projeta uma mala de viagem exclusiva para o troféu do Grande Prêmio de Mônaco, e posicionou o piloto da Alpine, Pierre Gasly, vestido de LV da cabeça aos pés, na primeira fila do show de estreia de Pharrell para a marca em junho do ano passado.
Quer mais? Eu posso continuar listando! A parceria da Boss com a Aston Martin F1, que começou em 2022, fornece roupas e calçados de desempenho e casual para toda a equipe, incluindo pilotos e equipe de apoio. A primeira grande colaboração da equipe McLaren F1 foi em 2021, uma parceria de sucesso com a marca de luxo de Los Angeles, Rhude, de Rhuigi Villaseñor, que incluiu uma jaqueta de corrida inspirada nos uniformes vintage da equipe e um capacete de edição limitada. Desde então, a equipe fechou acordos com gigantes como a New Era e a Abercrombie.
todos os caminhos levam a ele
O sete vezes campeão mundial de Fórmula 1, e o único piloto negro a competir em suas sete décadas de história, tem sido um ícone do street style, desfilando diversas marcas de renome, incluindo Versace, Valentino, Burberry e Louis Vuitton. Dado o histórico conservadorismo do esporte, que assim como o tênis, está associado ao luxo elitizado de uma pequena parcela da população mundial, Hamilton enfrentou críticas por suas escolhas ousadas de moda, mas nunca se deixou abalar.
Além de quebrar barreiras no esporte, Lewis faz questão de usar sua influência, sendo a voz mais poderosa do grid, para apoiar diversas causas importantes. Em 2021, ele comprou uma mesa para promover jovens designers negros, como Kenneth Nicholson, Edvin Thompson da Theophilio e Jason Rembert da Aliétte. No ano passado, ele foi um dos poucos pilotos a apoiar a F1 Academy, a nova categoria feminina do automobilismo. Hamilton não tem receio de usar sua voz e seu estilo para desafiar os pensamentos antiquados que tentam convencer a todos que high-fashion e alta performance não combinam.
Mesmo com a resistência dos "puristas" do esporte, isso não impede que outros pilotos, como Zhou Guanyu, Pierre Gasly, Lando Norris e ocasionalmente Charles Leclerc, também experimentem novos visuais dentro e fora do paddock.
Ainda assim, para Emma Philpott, consultora veterana de Fórmula 1 e motorsports, que trabalhou como publicitária de Lewis Hamilton entre 2014 e 2018, ainda há uma lacuna muito grande no esporte em relação a moda. "A coisa interessante é que a maioria das equipes de F1 ainda não entrou no espaço de parcerias quando se trata de moda," disse em entrevistas.
Há um espaço enorme para as marcas entrarem e começarem a realmente inovar no esporte.
Uma inovação desse tipo pode vir da Puma, por exemplo, que recentemente anunciou o rapper A$AP Rocky como novo Diretor Criativo em uma parceria de sucesso prevista para durar pelos próximos três anos. A ideia é que o rapper contribua para elevar ainda mais o prestígio da Fórmula 1, desenvolvendo looks tanto para os fãs do esporte quanto para os próprios pilotos. Em resumo, essa é uma daquelas colaborações com um enorme potencial.
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O rapper, além de trazer sua visão criativa para dentro dos GPs, também aproveita dos finais de semana para exibir as próximas coleções, já que há uma boa parcela de fãs que estão atentos as celebridades e entusiastas que marcam presença nos paddocks e o que elas estão usando.
Inclusive, toda essa atenção tem gerado uma demanda muito maior pelas jaquetas estilo biker, que têm uma conexão direta com o automobilismo e que de uns tempos para cá, saiu dos autódromos para as grandes semanas de moda. E, vamos ser honestos, são realmente estilosas.
e a passarela, como fica?
Além da moda refletida no street style com as jaquetas biker, também temos a influencia marcante da Ferrari na semana de moda de Milão.
Para o diretor criativo da Ferrari, Rocco Iannone, a conexão entre a Fórmula 1 e a moda de luxo é uma "extensão natural" da marca de estilo de vida. Com o esporte automobilístico se voltando cada vez mais para os meios de comunicação de massa, especialmente online e voltado para o público jovem, sua "linguagem e estética" naturalmente acompanharam esse movimento. “Acho que o reconhecimento deste estilo como um segmento de tendência é um reflexo do crescimento da cultura em torno da Fórmula 1 como esporte", contou ao The Cut.
A F1 está se transformando em mais do que apenas uma competição de corrida - está se tornando um palco global para a expressão criativa e dando outro significado a expressão "fast fashion". E à medida que a moda e a F1 se fundem, o circuito se transforma em uma passarela de alta velocidade, onde cada curva é um momento para mostrar sua personalidade e estilo. E com marcas de renome mundial cada vez mais interessadas no esporte, o futuro promete ser tão emocionante e elegante quanto uma volta vitoriosa no último GP da temporada. E aí, nos vemos em Interlagos?