Moda e música: a ascensão do hip hop no cenário fashion

por Giulia Coronato

O hip hop é um dos gêneros musicais mais importantes socialmente falando, desde o seu surgimento, ele foi político e representou muito mais do que somente um gênero musical. Sua criação data do final dos anos 70, no Bronx, em um cenário de extrema violência urbana e alta criminalidade. Apesar de tantas décadas passadas, foi só atualmente que o hip hop começou a ser notado e valorizado por outros gêneros e por outras indústrias, fora a musical. Hoje em dia, ele é tão importante e relevante, que não tem como falarmos, por exemplo, da relação de moda e música, sem falarmos do hip hop e do impacto do rap na cultura de massa. A relação entre moda e música é praticamente eterna e inabalável e juntas, essas indústrias moldam gerações e ditam as maiores tendências da atualidade. 

Se pararmos para analisar as trends e o street style dos últimos anos, veremos que muitas das roupas que dominaram o cenário fashion, tanto masculino, como feminino, surgiram a partir do armário dos maiores nomes do hip hop internacional. 

Não acredita? Continue aqui que a gente te prova a relevância do gênero, o poder do hip hop na hora de lançar tendências, as maiores parcerias de marcas com rappers e de quebra, mergulhamos na história da moda e te apresentamos alguém que você deveria conhecer:

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Foto: Artsy (Reprodução)


Quando falamos de moda e hip hop e a sua ascendente relação, é necessário se aprofundar no alfaiate Dapper Dan e no seu papel imprescindível nesse casamento. 

Dapper ficou conhecido pela Dapper Dan’s Boutique, localizada no Harlem, em Nova York, onde vendia roupas e acessórios exclusivos, feitos por ele mesmo, todas estampadas com o logo falsificado de grandes marcas de luxo, como Louis Vuitton, Gucci e Fendi. Assim como o Bronx, o Harlem era extremamente criminalizado e foi o berço de grandes nomes do hip hop. Em uma época onde as casas de luxo não queriam vestir os artistas do rap e se negavam a vender peças e itens para eles, Dan foi responsável por levar a moda ao encontro do hip hop.

Suas roupas tinham estilos e tamanhos que as marcas não atendiam, além, claro, do preço extremamente inferior às peças originais. Tudo isso, foi o necessário para fazer o alfaiate virar febre e fincar para sempre seu nome na história da moda como um dos primeiros a casar a cena fashion ao gênero musical. Sua boutique funcionava 24h por dia, sete dias por semana e artistas e celebridades de outros estados iam até lá só para comprar suas cobiçadas peças falsificadas e exclusivas. 

O hot-spot durou até 1992, quando, por motivos óbvios, foi obrigado a fechar as portas pelos infinitos processos que vinha recebendo das marcas de luxo. O alfaiate ficou recluso em anonimato por mais de 20 anos após o processo. Até que em 2017, a Gucci que o processou por uso indevido de sua logomarca no passado, interpretaria uma de suas criações, a jaqueta de pele com marcas bufantes usada por Diane Dixon em 1988, recriada quase-idêntica nas passarelas da coleção de outono/inverno 2018. 

Após o rebuliço criado na internet, o diretor criativo da Gucci resolveu chamar Dan para uma coleção colaborativa a quatro mãos, que foi vendida nas lojas da grife italiana. A parceria entre o estilista e a grife foi além, e no final de 2017, o estilista do Harlem, abriu uma segunda geração da Dapper Dan’s Boutique, desta vez com um ateliê sob medida patrocinado pela Gucci.

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Foto: Nation of Billions (Reprodução)

Desde então, uma chave foi virada na relação de moda e música dentro do hip hop. Os diretores criativos que estavam à frente das marcas de luxo, viraram os olhos para os maiores rappers do mundo e a relação foi só ficando mais forte. Um dos maiores exemplos disso é a recente colaboração entre a Louis Vuitton e o rapper 21 Savage. A identificação de Virgil Abloh, à frente do masculino da Louis Vuitton, com o universo do rap não é novidade. Antes de se tornar estilista, Abloh trabalhava como figurinista de Kanye West, e desde que entrou na Off-White, sempre teve o rap como trilha sonora e inspiração para suas coleções.

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Foto: 21 Savage (Reprodução/Louis Vuitton)

Outro exemplo disso é o rapper e designer Tyler, The Creator. O artista de 30 anos tem um carreira consolidada na música, recheada de prêmios e aclamações da crítica especializada. Mas, além de toda sua relevância no cenário musical, Tyler é atualmente um dos nomes mais interessantes e importantes da moda masculina. 

Tyler fundou duas marcas desde o início de sua carreira, ambas extremamente bem sucedidas e ditadoras de tendências: a Golf Wang e a Golf Le Fleur, além de assinar a direção criativa da Converse durante muitos anos. O estilo irreverente, colorido, que combina o clássico com o urbano dominou o street style atual, levando o nome de kidcore, e o rapper vem ressignificando, juntos com outros artistas, como Harry Styles, Asap Rocky e Jared Leto, o que a moda masculina é e o que representa ser um homem à frente do seu tempo, desprendido de normas heteronormativas.

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Foto: Tyler, The Creator (Reprodução/Golf Wang)

A moda brasileira também não fica de fora desse complexo e profundo casamento entre a moda e rap. Recentemente, Mano Brown ilustrou uma das cinco capas de uma edição comemorativa da Elle Brasil, usando um terno da mais recente coleção masculina da Louis Vuitton. 

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Foto: Mano Brown (Reprodução/Elle)

A relação de moda e música é eterna e o hip hop, cada vez mais se encaminha para esse forte laço. É revigorante ver outras referências, outros universos e outros rostos dominando o cenário, longe e diferente daquela silhueta e daquele ponto de vista europeu que conhecemos tão bem e apreciamos há tanto tempo. 

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