O hip hop é um dos gêneros musicais mais importantes socialmente falando, desde o seu surgimento, ele foi político e representou muito mais do que somente um gênero musical. Sua criação data do final dos anos 70, no Bronx, em um cenário de extrema violência urbana e alta criminalidade. Apesar de tantas décadas passadas, foi só atualmente que o hip hop começou a ser notado e valorizado por outros gêneros e por outras indústrias, fora a musical. Hoje em dia, ele é tão importante e relevante, que não tem como falarmos, por exemplo, da relação de moda e música, sem falarmos do hip hop e do impacto do rap na cultura de massa. A relação entre moda e música é praticamente eterna e inabalável e juntas, essas indústrias moldam gerações e ditam as maiores tendências da atualidade.
Se pararmos para analisar as trends e o street style dos últimos anos, veremos que muitas das roupas que dominaram o cenário fashion, tanto masculino, como feminino, surgiram a partir do armário dos maiores nomes do hip hop internacional.
Não acredita? Continue aqui que a gente te prova a relevância do gênero, o poder do hip hop na hora de lançar tendências, as maiores parcerias de marcas com rappers e de quebra, mergulhamos na história da moda e te apresentamos alguém que você deveria conhecer:
Quando falamos de moda e hip hop e a sua ascendente relação, é necessário se aprofundar no alfaiate Dapper Dan e no seu papel imprescindível nesse casamento.
Dapper ficou conhecido pela Dapper Dan’s Boutique, localizada no Harlem, em Nova York, onde vendia roupas e acessórios exclusivos, feitos por ele mesmo, todas estampadas com o logo falsificado de grandes marcas de luxo, como Louis Vuitton, Gucci e Fendi. Assim como o Bronx, o Harlem era extremamente criminalizado e foi o berço de grandes nomes do hip hop. Em uma época onde as casas de luxo não queriam vestir os artistas do rap e se negavam a vender peças e itens para eles, Dan foi responsável por levar a moda ao encontro do hip hop.
Suas roupas tinham estilos e tamanhos que as marcas não atendiam, além, claro, do preço extremamente inferior às peças originais. Tudo isso, foi o necessário para fazer o alfaiate virar febre e fincar para sempre seu nome na história da moda como um dos primeiros a casar a cena fashion ao gênero musical. Sua boutique funcionava 24h por dia, sete dias por semana e artistas e celebridades de outros estados iam até lá só para comprar suas cobiçadas peças falsificadas e exclusivas.
O hot-spot durou até 1992, quando, por motivos óbvios, foi obrigado a fechar as portas pelos infinitos processos que vinha recebendo das marcas de luxo. O alfaiate ficou recluso em anonimato por mais de 20 anos após o processo. Até que em 2017, a Gucci que o processou por uso indevido de sua logomarca no passado, interpretaria uma de suas criações, a jaqueta de pele com marcas bufantes usada por Diane Dixon em 1988, recriada quase-idêntica nas passarelas da coleção de outono/inverno 2018.
Após o rebuliço criado na internet, o diretor criativo da Gucci resolveu chamar Dan para uma coleção colaborativa a quatro mãos, que foi vendida nas lojas da grife italiana. A parceria entre o estilista e a grife foi além, e no final de 2017, o estilista do Harlem, abriu uma segunda geração da Dapper Dan’s Boutique, desta vez com um ateliê sob medida patrocinado pela Gucci.
Desde então, uma chave foi virada na relação de moda e música dentro do hip hop. Os diretores criativos que estavam à frente das marcas de luxo, viraram os olhos para os maiores rappers do mundo e a relação foi só ficando mais forte. Um dos maiores exemplos disso é a recente colaboração entre a Louis Vuitton e o rapper 21 Savage. A identificação de Virgil Abloh, à frente do masculino da Louis Vuitton, com o universo do rap não é novidade. Antes de se tornar estilista, Abloh trabalhava como figurinista de Kanye West, e desde que entrou na Off-White, sempre teve o rap como trilha sonora e inspiração para suas coleções.
Outro exemplo disso é o rapper e designer Tyler, The Creator. O artista de 30 anos tem um carreira consolidada na música, recheada de prêmios e aclamações da crítica especializada. Mas, além de toda sua relevância no cenário musical, Tyler é atualmente um dos nomes mais interessantes e importantes da moda masculina.
Tyler fundou duas marcas desde o início de sua carreira, ambas extremamente bem sucedidas e ditadoras de tendências: a Golf Wang e a Golf Le Fleur, além de assinar a direção criativa da Converse durante muitos anos. O estilo irreverente, colorido, que combina o clássico com o urbano dominou o street style atual, levando o nome de kidcore, e o rapper vem ressignificando, juntos com outros artistas, como Harry Styles, Asap Rocky e Jared Leto, o que a moda masculina é e o que representa ser um homem à frente do seu tempo, desprendido de normas heteronormativas.
A moda brasileira também não fica de fora desse complexo e profundo casamento entre a moda e rap. Recentemente, Mano Brown ilustrou uma das cinco capas de uma edição comemorativa da Elle Brasil, usando um terno da mais recente coleção masculina da Louis Vuitton.
A relação de moda e música é eterna e o hip hop, cada vez mais se encaminha para esse forte laço. É revigorante ver outras referências, outros universos e outros rostos dominando o cenário, longe e diferente daquela silhueta e daquele ponto de vista europeu que conhecemos tão bem e apreciamos há tanto tempo.