Moda funk: a estética que une música, cultura e estilo

por Karen Merilyn

Muito antes de tocar na Semana de Moda Masculina em Paris, o funk e a moda já andavam juntos. Desde que surgiu, nas periferias do Rio de Janeiro, nos anos 80, arrastava para os bailes homens e mulheres que escolhiam as melhores roupas para dançar suas músicas favoritas. A moda funk nasceu junto com o gênero musical e tem um grande impacto no estilo tipicamente brasileiro.

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Foto: Vitória de Paula (Divulgação/Fernanda Souza, Pétala Lopes, Isabelle Índia, Pedro Pradella)


“Eu sou funkeiro ando de chapéu

Cabelo enrolado, cordãozinho e anel

Me visto no estilo internacional

Reebok ou de Nike sempre abalo geral

Bermudão da Cyclone, marca original

Meu cap importado é tradicional

Se ligue nos tecidos do funkeiro nacional

A moda Rio-Funk melhorou o meu astral” 

 

Esse é o trecho de um funk clássico, o Rap da Diferença, dos Mcs Markinhos e Dollores, que descreve o estilo dos funkeiros para ir aos bailes. Daí já dá pra saber que não dá pra separar a história do funk da história da moda nacional, né? 

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Foto: Foto do livro 'Meninas do Brasil' (Mari Stockler)

Tênis de marcas esportivas como a Nike, bonés ou buckets e cordões sempre fizeram parte do estilo dos funkeiros. E as letras das músicas ajudavam a propagar esse estilo. 

A moda é tão importante no funk, que a Furacão 2000, uma das equipes de som mais populares do Rio, conhecendo seu público, lançou a HBS, uma marca que era usada pelos MCs e foi rapidamente adotada pelos funkeiros. 

Tasha e Tracie Okereke - moda funk - moda funk  - verão - divulgação - https://stealthelook.com.br
Foto: Tasha e Tracie Okereke (Reprodução/Instagram)

Já em São Paulo, o funk também chamou atenção para a moda. Correntes de ouro, bonés, óculos estilo juliet e tênis compunham o visual dos funkeiros. E as letras sobre esse estilo, evidenciando coisas como as roupas de marca e os cordões de ouro super caros, ficaram conhecidos como “funk ostentação”. 

Oakley, Cyclone, Lacoste, Nike, Mizuno, Kenner, são algumas das marcas que foram popularizadas pelo funk, se tornando ícones nas periferias. 

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Foto: Deize Tigrona (Reprodução/Instagram)

As MCs e dançarinas do funk também foram grandes responsáveis pela maneira com que as mulheres da periferia se vestem até hoje. Deize Tigrona, Tati Quebra Barraco, Valesca Popozuda, Ludmilla e Anitta, por exemplo, se tornaram referências não só na música, mas também na moda.

Ludmilla - moda funk - moda funk - verão - divulgação - https://stealthelook.com.br
Foto: Ludmilla (Divulgação)

A grande discriminação com as pessoas pretas e da periferia fez com que tudo que era relacionado ao funk fosse visto como negativo. Isso também impactou a moda. Algumas marcas, inclusive, tentaram se desassociar do funk para não perder clientes. 

A moda funk sempre existiu e foi uma das formas de resistência do gênero, que sofreu tanto preconceito ao longo dos seus mais de 40 anos de história. E justamente por isso, mesmo sendo tão rica esteticamente, foi desconsiderada por muito tempo.

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Foto: Mayra Souza (Reprodução/Instagram)

Recentemente, a moda funk se popularizou, mas para isso ganhou outro nome: brazilcore. Um termo estrangeiro, que cresceu no Tiktok e usa o Brasil com "Z". No meio disso, é importante refletirmos de onde essa moda vem e porque ela só é aceita quando está em certos corpos. 

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Foto: Luci Gonçalves (Divulgação/mêrcez)

O funk no Brasil é, de certa forma, como o Hip Hop nos Estados Unidos: um movimento que vai além da música. Ele engloba estética, resistência, estilo de vida, cultura, arte e, é claro, moda. 

Se eu fosse definir a moda funk, eu diria que ela é a imagem da favela através das roupas. Por isso é tão plural, sem julgamentos, sem preocupações com as normas sociais e livre. 

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