Muito antes de tocar na Semana de Moda Masculina em Paris, o funk e a moda já andavam juntos. Desde que surgiu, nas periferias do Rio de Janeiro, nos anos 80, arrastava para os bailes homens e mulheres que escolhiam as melhores roupas para dançar suas músicas favoritas. A moda funk nasceu junto com o gênero musical e tem um grande impacto no estilo tipicamente brasileiro.
“Eu sou funkeiro ando de chapéu
Cabelo enrolado, cordãozinho e anel
Me visto no estilo internacional
Reebok ou de Nike sempre abalo geral
Bermudão da Cyclone, marca original
Meu cap importado é tradicional
Se ligue nos tecidos do funkeiro nacional
A moda Rio-Funk melhorou o meu astral”
Esse é o trecho de um funk clássico, o Rap da Diferença, dos Mcs Markinhos e Dollores, que descreve o estilo dos funkeiros para ir aos bailes. Daí já dá pra saber que não dá pra separar a história do funk da história da moda nacional, né?
Tênis de marcas esportivas como a Nike, bonés ou buckets e cordões sempre fizeram parte do estilo dos funkeiros. E as letras das músicas ajudavam a propagar esse estilo.
A moda é tão importante no funk, que a Furacão 2000, uma das equipes de som mais populares do Rio, conhecendo seu público, lançou a HBS, uma marca que era usada pelos MCs e foi rapidamente adotada pelos funkeiros.
Já em São Paulo, o funk também chamou atenção para a moda. Correntes de ouro, bonés, óculos estilo juliet e tênis compunham o visual dos funkeiros. E as letras sobre esse estilo, evidenciando coisas como as roupas de marca e os cordões de ouro super caros, ficaram conhecidos como “funk ostentação”.
Oakley, Cyclone, Lacoste, Nike, Mizuno, Kenner, são algumas das marcas que foram popularizadas pelo funk, se tornando ícones nas periferias.
As MCs e dançarinas do funk também foram grandes responsáveis pela maneira com que as mulheres da periferia se vestem até hoje. Deize Tigrona, Tati Quebra Barraco, Valesca Popozuda, Ludmilla e Anitta, por exemplo, se tornaram referências não só na música, mas também na moda.
A grande discriminação com as pessoas pretas e da periferia fez com que tudo que era relacionado ao funk fosse visto como negativo. Isso também impactou a moda. Algumas marcas, inclusive, tentaram se desassociar do funk para não perder clientes.
A moda funk sempre existiu e foi uma das formas de resistência do gênero, que sofreu tanto preconceito ao longo dos seus mais de 40 anos de história. E justamente por isso, mesmo sendo tão rica esteticamente, foi desconsiderada por muito tempo.
Recentemente, a moda funk se popularizou, mas para isso ganhou outro nome: brazilcore. Um termo estrangeiro, que cresceu no Tiktok e usa o Brasil com "Z". No meio disso, é importante refletirmos de onde essa moda vem e porque ela só é aceita quando está em certos corpos.
O funk no Brasil é, de certa forma, como o Hip Hop nos Estados Unidos: um movimento que vai além da música. Ele engloba estética, resistência, estilo de vida, cultura, arte e, é claro, moda.
Se eu fosse definir a moda funk, eu diria que ela é a imagem da favela através das roupas. Por isso é tão plural, sem julgamentos, sem preocupações com as normas sociais e livre.