Moda inclusiva: marcas brasileiras de roupas adaptadas para pcd

por Barbara Shimada

Você já parou para pensar o quão difícil é para uma pessoa com deficiência ou com a mobilidade reduzida o simples ato de se vestir? Parece óbvio dizer, mas pessoas com algum tipo de deficiência têm necessidades diferentes quando a questão é a moda. Muito mais do que só exemplos de superação, as pessoas com deficiência também querem ser vistas e vestidas, pois também tem personalidade, experiências de vida e estilo próprio, assim como pessoas não deficientes. E é justamente por isso que iniciativas de moda inclusiva, com roupas adaptadas para pcd e com visual bacana são tão importantes e precisamos falar sobre.

Apesar de super relevante e necessário, infelizmente, o assunto moda inclusiva é pouco debatido e ainda é difícil de encontrar marcas nacionais e internacionais que produzem roupas adaptadas para pcd. Vale ressaltar que o post de hoje tem o intuito de abrir sua mente em relação ao que é a moda inclusiva, respeitando a individualidade de cada pessoa, de cada corpo, e personalidade. Além de apresentar iniciativas e marcas que tem como um dos objetivos abranger e incluir o público pcd. Então te convidamos a ficar por aqui para saber um pouco mais.

Manequins Lado B moda inclusiva - manequins lado b - roupas adaptadas para pcd - Verão 2022 - exposição - https://stealthelook.com.br
Foto: Manequins Lado B moda inclusiva (Reprodução/Facebook)


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o que é?

Antes de te apresentarmos marcas e coleções de roupas voltadas para o público pcd, vamos partir do início e te contar um pouco mais sobre o assunto. A moda inclusiva se trata de autonomia e expressão da identidade. Diferente do que se imagina, roupas adaptadas para pcd não precisam ser peças mirabolantes, com super tecnologias ou modelagens complexas. Quando falamos em roupas adaptadas para pcd o menos é mais, até porque elas precisam ser fáceis de vestir e funcionais.

Soluções primordiais, como por exemplo, zíperes laterais ou fechamento por velcro, que facilitam o vestir de quem tem a mobilidade reduzida, modificações básicas nas modelagens que possibilitam maior conforto de uso para cadeirantes, etiquetas em braile para que pessoas com deficiência visual saibam o que estão vestindo, isso tudo sem comprometer o visual e informação de moda das peças, são fundamentais.

relatos

Para falar com mais propriedade sobre o assunto e trazer seus pontos de vista, nós convidamos três mulheres que convivem diariamente com as dificuldades de encontrar no mundo da moda roupas que atendam as necessidades reais de seus corpos. Elas são Laís Ramires, pesquisadora, ilustradora, RP e entusiasta de moda; Rebeca Costa, palestrante e influenciadora de moda adaptada; e Michele Simões, designer de futuros anticapacitistas e idealizadora da plataforma Meu corpo é real.

Laís Ramires - blusa preta - roupas adaptadas para pcd - Verão 2022 - ao ar livre - https://stealthelook.com.br
Foto: Laís Ramires (Reprodução/Instagram)

Laís Ramires

O que você acredita ser moda inclusiva? Existem muitos preconceitos em relação ao assunto?

L.R.: Moda inclusiva é uma expressão pensada para todas as possibilidades de corpos e expressões, sem um só lugar de enunciação que desqualifica todas as outras variantes de ser. É autonomia e identidade, no vestir e no definir, é a possibilidade concreta da compra na precificação, é o design pensado para necessidades múltiplas tanto no processo da vestimenta até o conforto durante uso.

O que você procura em uma marca de moda no geral?

L.R.: Como boa comunicóloga, a primeira coisa a qual me apego é compreender qual é a proposta que a marca traz, com quem ela conversa e como ela conduz essa conversa. É demodê a necessidade de refletir a população tanto nas peças e copies, não entrarei nem nos méritos dos tamanhos das peças e na vestimenta em si porque é basilar, como na total construção simbólica em si daquele conteúdo. Procuro marcas que estejam em diálogo com pessoas como eu. Só irei me comunicar através do que eu visto com o mundo por meio de adereços que façam sentido com a minha vida.

Você consome ou encontra com facilidade peças bonitas e estilosas específicas para suas necessidades?

L.R.: Não, como sou muito alta é bem raro que eu encontre peças que consigam atender as especificidades do meu corpo. Além de algumas notas que facilitariam no processo de compra, quando vou comprar peças de um ombro só - gostaria de saber qual lado ela se refere - porque tenho uma divisão corporal que exige ter essa noção. Zíper é um ponto também, tanto onde se encontram como a qualidade dele em si, porque muitas vezes pode ser difícil.

O que você acredita faltar no mercado de moda inclusiva?

L.R.: Profissionais que se preocupem sobre essa pauta como core do business, não dá para querer tratar como uma agenda paralela quando o centro do negócio são os consumidores - e a população é essa pluralidade demográfica de aspectos sociais. E com toda certeza, equipes que fazem parte desse universo constituída de pessoas de diversos lugares para trazerem know how que realmente promova soluções inovadoras. Colocar um casting limitado em aspectos de diversidade para atender a representatividade de forma superficial é placebo para quem vive as dores de não se enxergar no universo da moda.

Rebeca Costa - macaquinho animal print com tênis - roupas adaptadas para pcd - Verão 2022 - na rua - https://stealthelook.com.br
Foto: Rebeca Costa (Reprodução/Instagram)

Rebeca Costa

O que você acredita ser moda inclusiva? Existem muitos preconceitos em relação ao assunto?

R.C.: A moda inclusiva é uma moda livre. Que abraça o seu corpo independente de como ele é. Infelizmente ainda somos presos à exclusividade, que mesmo dentro de uma tentativa de inclusão, existe a exclusão mediante a padronização maquiada.

O que você procura em uma marca de moda no geral?

R.C.: Eu procuro em uma marca de moda liberdade em ser abraçada, gosto e identidade.

Você consome ou encontra com facilidade peças bonitas e estilosas específicas para suas necessidades?

R.C.: Infelizmente há mais de 400 tipos de nanismo, a minha deficiência, por exemplo, e a moda só propõe roupas para a acondroplasia - tipo mais comum, caracterizado por membros curtos - como o meu. E geralmente as peças alongadas nos membros superiores e inferiores precisam ser adaptadas, onde na maioria das vezes o custo é quase o dobro da peça.

O que você acredita faltar no mercado de moda inclusiva?

R.C.: Acredito que falta estudo, dinâmica e discernimento do que é moda inclusiva. Somos inclusos já, mas precisamos ser vistos e abraçados de fato, sem estação temporária. Pois a moda tem a ver com se sentir livre e do seu jeito. Sem deixar o seu eu de lado para se encaixar em um padrão.

Michele Simões - camisa amarela com calça e cinto azul - roupas adaptadas para pcd - Verão 2022 - na rua - https://stealthelook.com.br
Foto: Michele Simões (Reprodução/Instagram)

Michele Simões

O que você acredita ser moda inclusiva? Existem muitos preconceitos em relação ao assunto?

M.S.: Moda inclusiva é uma moda que dá voz às pessoas e que celebra a individualidade e as particularidades de cada um. Seja em produto ou na forma como de um atendimento em loja ou e-commerce, a representatividade em si. Acredito que tudo isso é uma ferramenta, uma língua, que gira em torno de uma conversa com pessoas e não com padrões, como durante muito tempo vimos dentro da moda. Acredito que existam sim preconceitos, até porque vivo isso na pele de diferentes formas. E não só o preconceito, mas também uma invisibilidade em reconhecer pessoas com deficiência como consumidores em potencial.

O que você procura em uma marca de moda no geral?

M.S.: Acho que quando falamos em um consumidor com deficiência não estamos falando do mesmo lugar que a maioria das pessoas quando buscam uma marca ou um produto de moda. No meu caso costumo dizer que não tenho fidelização de marca nenhuma, porque na verdade vou tentando driblar e construir dentro das possibilidades do meu corpo aquilo que conversa com o meu estilo, que seja funcional e seguro. Então quando escolho uma peça me atento ao tecido e a costura para ver se não vai me machucar, busco interpretar e imaginar o caimento da peça em relação ao meu corpo sentado, por não conseguir experimentar na loja, observo se a peça não vai prender meu movimento e se ela funciona dentro da dinâmica do meu dia a dia. E não sobreponho a questão da funcionalidade ao meu estilo, pra mim as coisas precisam caminhar juntas.

Você consome ou encontra com facilidade peças bonitas e estilosas específicas para suas necessidades?

M.S.: Não, infelizmente quando falamos em moda para uma pessoa com deficiência, ainda estamos falando de um lugar que não existe, estamos falando de um mercado embrionário. Como eu disse, preciso usar todo meu background como estilista e como consultora de estilo para interpretar o que existe no mercado e fazer esse cruzamento entre funcionalidade e segurança. Eu consigo fazer esse exercício devido ao meu conhecimento, mas isso depois de anos de treino. Mas hoje, infelizmente não encontro produtos com facilidade, e insisto em dizer que a questão da moda inclusiva não é só baseada no produto em si, pois também não encontro uma experiência positiva dentro do mercado de moda como pessoa com deficiência.

O que você acredita faltar no mercado de moda inclusiva?

M.S.: Quando falamos sobre moda inclusiva precisamos pensar na cadeia como um todo. Desde o sistema de ensino, onde faltam docentes com conhecimento extenso sobre o tema ou que tragam representatividade. Resultando em profissionais que também não têm conhecimento sobre o assunto para desenvolver produtos de moda inclusiva. Existe a falta de posicionamento de marcas que entendam e atendam as necessidades do cliente com deficiência, em relação ao que vai funcionar para ele e o que pode ser desenvolvido dentro da coleção. Acredito que a moda não é exclusiva, mas sim inclusiva. Falta acessibilidade em relação aos e-commerces e compras onlines. A representatividade também é um ponto muito importante, que se estende para os veículos de comunicação de moda também. Pessoas com deficiência não consomem só funcionalidade, elas tem estilo e todas as particularidades, desejos e valores que qualquer pessoa e isso precisa começar a ser considerado.

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Reserva|Adapt& - roupas adaptadas para pcd da reserva - roupas adaptadas para pcd - Verão 2022 - em estudio - https://stealthelook.com.br
Foto: Reserva|Adapt& (Reprodução/Instagram)

Adapt&

Reserva - Vamos falar um pouco mais sobre a linha de roupas adaptadas para pcd da Reserva. Intitulada ‘Adapt&’, a coleção busca abraçar pessoas com diversos tipos de deficiência. A linha é uma colaboração com a marca Equal, especializada em moda inclusiva, e foi desenvolvida por quase 4 anos, para que atendesse de forma prática e funcional diferentes corpos. As peças têm visual idêntico aos clássicos da marca, mas adaptadas ergonomicamente pensando nas necessidades de cada deficiência.

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Foto: Equal moda inclusiva (Reprodução/Instagram)

Equal

Equal - Aproveitando que citamos ela acima, vamos puxar esse gancho e falar da marca Equal. Desenvolvida pela estilista Silvana Louro, a Equal produz suas peças nas versões convencionais e adaptadas para pessoas com deficiência. Sua gama de produtos busca abranger pessoas com as mais variadas necessidades físicas, focando nos pilares do conforto, estilo e autonomia. Suas modelagens são anatomicamente pensadas para oferecer funcionalidade ao mesmo passo que entrega beleza.

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Foto: Aria moda inclusiva (Reprodução/Aria)

Aria

A Aria, da estilista Drika Valério, é outro exemplo de marca especializada em roupas adaptadas para pcd. Drika iniciou sua jornada no mundo da moda inclusiva em 2011, mas foi só em 2017 que surgiu a Aria, com o objetivo de melhorar a experiência das pessoas com deficiência em relação à moda e ao ato de vestir. A marca busca criar peças práticas para vestir e despir, pensando na autonomia e autoestima do usuário, isso tudo sem deixar de lado a informação de moda, tão necessária para a expressão da identidade pessoal. A marca enxerga esse público e entende que o mercado da moda inclusiva é muito necessário e precisa se expandir.

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Foto: Adaptwear moda inclusiva (Reprodução)

Adaptwear

Fundada por Marco Chagas e Ana Cyra Palmerston, a Adaptwear é uma marca de moda inclusiva brasileira que surgiu depois que o casal se sensibilizou com a falta de opções que as pessoas com deficiência encontravam ao buscar marcas de moda que se preocupavam não só com o conforto, mas também com a estética dos seus das roupas adaptadas para pcd. Com o intuito de otimizar e resgatar a independência do vestir de seus clientes, a marca propõe que “a limitação de mobilidade jamais vai ser um fator limitante para se ter opções de vestuário.”

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Foto: Lado B moda inclusiva (Reprodução/Facebook)

Lado B

A Lado B nasceu em 2013, sendo uma das primeiras marcas nacionais focadas em oferecer opções de roupas adaptadas para pcd que fossem funcionais e visualmente bonitas. A marca acredita na inclusão total de pessoas com deficiência na sociedade, ou seja, oferecer a essas pessoas liberdade e opções de escolha em todos os âmbitos. Além de peças de vestuário, a marca oferece acessórios, como tênis adaptados e aviamentos, como etiquetas em braile, pensados cuidadosamente para atender as necessidades de cada usuário.

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