O que a história da Preta Gil nos ensina sobre a amizade entre mulheres

por Dalila Oliveira

Faz um tempo que assisti à entrevista da Preta Gil no “De Frente com Blogueirinha”, mas até hoje lembro do impacto que senti quando ela compartilhou um dos momentos mais delicados de sua vida. Ao falar sobre o diagnóstico de câncer, ela revelou que, além da dor física e emocional, enfrentou o abandono do ex-marido, que a traiu e justificou o afastamento dizendo que tudo estava "muito pesado". Aquilo me tocou de um jeito profundo. Porque, mais do que um caso específico, aquilo dizia muito sobre algo que atravessa tantas mulheres.

Se até Preta Gil, uma mulher famosa, cercada de amigos influentes e com acesso a um dos melhores tratamentos, foi abandonada durante o período mais vulnerável da sua vida, o que acontece com mulheres anônimas, comuns, sem essa rede de apoio e sem os mesmos privilégios? Infelizmente, não precisamos especular. Os dados confirmam o que a gente já sente na pele. Segundo especialistas e pesquisas divulgadas por veículos como o Estadão e o Conselho Federal de Enfermagem, cerca de 70% das mulheres com câncer são abandonadas pelos seus parceiros. Em casos de câncer de mama, uma em cada dez mulheres é deixada sozinha durante o tratamento. E esse abandono não acontece só na doença.

Pessoa cantando em palco, segurando um microfone e levantando o braço. Visível iluminação de show ao fundo.
Foto: Preta Gil (Reprodução)


E não é só em casos de doença que esse abandono acontece. Dentro das prisões brasileiras, enquanto muitos homens recebem visitas frequentes de companheiras e familiares, o cenário é outro para mulheres encarceradas. Um levantamento recente aponta que 26% das mulheres presas não recebem qualquer tipo de visita. Como já disse o médico Drauzio Varella, o abandono é uma das principais diferenças entre homens e mulheres no sistema prisional.

É cruel. Porque ser mulher, nesse mundo, ainda é sinônimo de estar disponível para cuidar. Mas, quando nós adoecemos, erramos ou simplesmente precisamos de apoio, somos deixadas para trás. E o abandono não é só a ausência física. É a negligência, a indiferença, a omissão. É o peso de ter que ser forte até quando tudo desaba.

Mas também é aí que a gente entende o poder das redes de afeto entre mulheres. Na mesma entrevista, Preta contou o quanto as amigas foram essenciais em sua recuperação. Esse tipo de laço é o que tem sustentado tantas de nós. Amizade entre mulheres não é só companhia. É cuidado, presença, parceria e resistência. É sobre gente que segura sua mão quando o chão some. Que aparece com um prato de comida, uma palavra de força, uma solução prática, um abraço sincero. Gente que fica, mesmo quando tudo fica pesado.

A história de Preta Gil não é só sobre dor. É também sobre renascimento, reconstrução e apoio. Que a gente olhe para ela como um lembrete de que não podemos contar apenas com o amor romântico. Que a gente invista nas amizades, nas irmandades, nos vínculos que realmente se sustentam na vida real. Que a gente aprenda a se apoiar, a cuidar uma da outra, a se manter unidas. Porque, no fim das contas, é isso que nos fortalece. E que ninguém, nunca mais, precise passar por tanta coisa sozinha.