“Que tal abrir um brechó?” Essa tem sido uma pergunta frequente e virou desejo de muitos empreendedores. Mas o que você precisa saber antes de se aventurar em uma área que está super aquecida e cheia de novos concorrentes? Por isso, preparamos este especial sobre o mercado de second hand para que você não fique com dúvidas e saiba como montar sua estratégia.
O mercado de brechós está em alta. Segundo dados apresentados pelo SEBRAE no início de 2023, o Brasil abrigava 118.778 brechós em plena operação. Isso demonstra um notável crescimento de 30,97% ao longo dos últimos cinco anos. E as previsões seguem apontando para essa tendência de crescimento nos próximos anos.
Segundo dados de um estudo sobre Moda Sustentável do Boston Consulting Group (BCG), realizado em parceria com a Enjoei, 56% dos brasileiros declararam já terem feito ao menos uma transação, de compra ou venda, de artigos de segunda mão. E as projeções são de que esse mercado de itens usados pode crescer de 15% a 20%, ultrapassando o valor do segmento de fast fashion até 2030.
Para entender mais sobre os desafios dessa área, conversei com a Natália Adachi, da Guru de Brechó, que atua como consultora e mentora para projetos de negócios de brechós.
Qual o conceito de brechó e quais as principais dúvidas que existem atualmente?
N.A.: Ainda existe muita confusão sobre o que é um bazar e o que é um brechó. De maneira geral, bazares beneficentes não têm fins lucrativos, contam com voluntários e doações de mercadorias. Já os brechós são empresas que compram ou consignam artigos de segunda mão para revender, além disso pagam funcionários, impostos e têm diversos custos como qualquer outro comércio de moda.
O mercado de brechós pode ser tão grande quanto o próprio mercado de moda tradicional. É amplo, diverso e com oportunidade para todos que amam moda e querem empreender. Dá para começar com pouco investimento ou até começar do zero - com as roupas que você já tem em casa.
Qual a primeira coisa que uma pessoa que deseja abrir um brechó deve pensar?
N.A.: Quem quer vender para todo mundo acaba não vendendo para ninguém! É fundamental pensar nas pessoas e perfis que você deseja atender.
A dica é ouvir as pessoas que já fazem parte do seu círculo social: a galera do trabalho, do condomínio/bairro, da escola do filho, da academia… etc.
É fundamental identificar nas pessoas suas dificuldades ao se vestir, seus desejos fashion e seus sonhos de consumo. Assim você formará sua primeira micro-comunidade de clientes e pode perguntar, inclusive, se eles já vendem as peças que não usam mais e se já consomem em brechós.
O ideal é definir também se será um brechó com foco no feminino, masculino ou infantil, pois isso interfere diretamente na comunicação e criação da sua marca.
Definido o público, qual seria o próximo passo?
N.A.: Com base no seu público-alvo, você precisa definir as marcas que seu brechó irá trabalhar: Populares; Famosas; Premium; Luxo… E também as categorias: Roupas em geral; Bolsas; Calçados; Acessórios; Roupa de festa; Objetos de decoração; Móveis; Livros; Eletrônicos. São infinitas as possibilidades, mas ter um direcionamento é fundamental.
Alguns brechós podem ter nichos bem específicos como: Plus Size (tamanhos grandes), joias, só bolsas de luxo, algum tipo de produto específico, estilo ou década em especial.
Como definir o modelo de negócio e canais de venda?
N.A.: Você vai fazer curadoria em bazares para revender? Neste caso, é você que vai se deslocar para garimpar as peças e fazer toda a parte de higienização. Muitos brechós começam assim, mas conforme crescem não conseguem ter tempo para fazer isso e migram para a consignação.
Vai trabalhar em consignação? Neste caso, você vai pegar as peças "emprestadas" e ganhar uma porcentagem/comissão pela venda. É zero risco de estoque parado! Porém, tem uma margem de lucro mais baixa do que quem trabalha comprando os desapegos.
Vai comprar o desapego das pessoas à vista para revender? Neste caso, a maioria dos brechós precifica por lotes e consegue ter uma margem maior do que a consignação. Esse é o modelo adotado por brechós que já têm um bom capital de giro e buscam ter um volume maior de mercadorias.
Os canais de venda são vários! No mundo físico: feira de brechós, loja temporária, loja colaborativa, loja própria, franquias… No online temos: redes sociais, grupos de WhatsApp, loja virtual, marketplaces… você pode (e deve!) testar vários canais.
O que você deixaria de mensagem final para quem já deu os primeiros passos e precisa ir além?
N.A.: Educação é o melhor investimento que você pode fazer para você e para a sua empresa!
Quando eu criei a Guru de Brechó, foi com o propósito de ajudar donas e futuros donos de brechó, pois na internet só se encontravam cursos rasos e com promessas milagrosas de "como faturar XX mil reais vendendo roupa usada nas redes sociais".
Com o crescimento do mercado de brechós, eles estão cada vez mais profissionalizados e assim aumenta a concorrência e também surgem novas necessidades no setor.
Hoje em dia é fundamental ter: redes sociais, loja virtual, sistemas e fazer anúncios/tráfego pago para o seu brechó. Estamos falando de uma empresa e é necessário investir parte do lucro para crescer.
Além disso, participar de uma comunidade de donas de brechós é fundamental para trocar ideias e se manter atualizado.