Já faz mais de uma década que Justin Timberlake cantou “I'm bringing sexy back”, mas a música poderia ser trilha sonora do momento, pelo menos quando o assunto é moda. Faça um exercício de memória rápido: quantas imagens de recortes, decotes profundos e detalhes que chamam atenção para o corpo você tem visto passeando pelo seu feed? O resgate à tendência sexy, com roupas de apelo body-conscious, pode sim ser atribuída à natureza evolutiva da moda, porém, seus motivos vão bem além disso.
_ antídoto à pandemia
Os efeitos da pandemia impulsionaram os fenômenos do athleisure e do loungewear, consequência direta da quarentena e a necessidade de conforto. Isso despertou uma busca por alívio e escape através do regencycore, que celebra o glamour old school; do cottagecore, que remete a uma existência bucólica e maior contato com a natureza; e também trouxe atenção para outro tipo de liberdade, a do corpo.
Afinal, faz tempo que vivemos o processo de garantir à mulher o direito de ser agente de sua sexualidade e ter o domínio do seu próprio corpo, e é impossível ignorar que isso se traduz também nas roupas que escolhemos usar. O fortalecimento do feminismo e a ideia cada vez mais clara de termos o direito de nos vestirmos como quisermos - questão essencial se vamos utilizar a moda como extensão da personalidade e forma de auto-expressão - criaram um cenário propício para esse revival, que foi acelerado pelas reflexões e mudanças ocorridas no período.
_ novos conceitos de beleza
O sexy já esteve em alta várias vezes, porém os padrões eram bem diferentes. Atualmente, com representatividade e uma abrangência cada vez maior de tipos de corpos e beleza conquistando espaço e relevância, a tendência funciona como celebração de diversidade, quebrando paradigmas e afirmando, de uma vez por todas, que os únicos fatores válidos na hora de decidir o que usar devem ser nosso gosto e vontade.
É uma reapropriação significativa de códigos e looks que por décadas ficaram limitados apenas a um determinado biotipo e aparência, pelo menos no mainstream. A volta do sexy ao cenário presente auxilia no exercício de destruir padrões ultrapassados e ampliar possibilidades.
É lógico que o caso de amor atual da moda com o início dos anos 2000 é um prato cheio para essa sensualidade nada velada e poderosa. Mas, já vimos o sensual de muitas formas com o passar das décadas. Nos anos 70, o sexy veio cheio de um glamour decadente nas criações de Halston; com a chegada dos 80, ilustrou o mood de excesso através das mulheres fortes de Mugler e Alaia; durante os 90's, o foco era em uma vibe minimalista de alta voltagem com alfaiataria cool de belgas como Ann Demeulemeester, com a influência esportiva de Helmut Lang ou provocativa como visto com Tom Ford na Gucci.
A virada do milênio trouxe para jogo um mix dos elementos de outrora adicionando um charme juvenil e transgressor que é chave para a estética atual. Pense em cintura bem baixinha, tops tipo napkin, decotes assimétricos, além dos materiais ajustados que chamam atenção para a silhueta. É uma leitura moderna, que chega democrática e contemplando os mais variados gostos, mas ainda com uma pincelada do espírito 00's.
A tendência sexy deixa de lado os tecidos cozy, cinturas elásticas e itens volumosos vigentes para destacar um sex appeal pouco sutil, mas com atitude de sobra. A pele vira protagonista e ganha contornos especiais com decotes elaborados ou assimetria, materiais transparentes, formas marcadas e recortes. Abaixo, alguns dos elementos e detalhes que exemplificam perfeitamente a tendência sexy.
Peças recortadas: das saias aos vestidos, passando pelos tops. É dada uma atenção especial para a região central do corpo.
Amarrações: elas aparecem em muitos lugares, mas principalmente nas partes de cima.
Fendas: quase sempre bem exageradas, com efeito dramático.
G-string: possivelmente a proposta que mais inspira reações extremas são os vestidos e calças que deixam as tirinhas da lingerie à mostra ou que já vem com o detalhe costurado. Um styling bem característico do debut do milênio.
Decote nas costas: um dos truques de styling sexy favoritos das francesas cool, que foi bastante popularizado por ícones do sexy como a norte-americana Kim Kardashian.
Mini mini: as saias encurtaram ao máximo na temporada Verão 21 e também vimos as hot pants, que mesmo em versão loungewear são adoradas.
Vazados: aberturas estratégicas e inusitadas trazendo ar fresh.
Correntes: esse detalhe ora pesado, ora delicado é um toque luxuoso que eleva as peças.
Cintura baixa: a polêmica que segue sendo debatida, mas continua sendo aposta. Para quem quer se aventurar, mas tem receio, a dica é usar com parte de cima alongada ou body.
Vestido bodycon: são aqueles bem justos, exaltando as curvas, mas com charme extra através de comprimentos alongados ou mangas.
Transparência: esse clássico do sexy surge em sobreposições discretas ou pura ousadia.
De dentro para fora: beber da fonte boudoir não é nenhuma novidade, porém a ideia de deixar a lingerie à mostra está ainda mais em evidência com o retorno do sexy.
Corselet: para enfatizar ou completamente modificar a silhueta. Um jeito cool de usá-lo é com jeans ou calça de alfaiataria.
Texturas: no Inverno, o verniz, a renda e o couro serão estrelas dos looks mais interessantes, enriquecendo composições.