O termo ‘thigh gap’ está em alta no Tiktok e por que isso é preocupante
Padrões estéticos inalcançáveis fazem parte da vida de toda mulher desde a infância até a terceira idade, tentando impor controle em absolutamente tudo aquilo que cerca nossa vida e nossa aparência. A ditadura da magreza e o ideal de beleza que temos imposto até os dias atuais, surgiu na década de 60 quando a juventude começou a ditar o padrão. Logo em seguida, o cinema, as revistas, e todo tipo de mídia impressa, começaram a impor tal silhueta, sendo reforçada por nomes como a modelo Twiggy e a difusão da minissaia, e foi nesse momento que o termo thigh gap foi usado pela primeira vez. Desde então, ser magro era o único biotipo aceitável e considerado bonito.
Nos anos 2000, a ditadura da magreza foi reforçada e admirada como nunca, devido ao boom da internet e de redes sociais como o Tumblr, onde conteúdos pró-anorexia eram corriqueiros, compartilhados e admirados. Nesse cenário, o thigh gap mais uma vez ganhou força, ao lado de tendências e fixações infames e problemáticas.
Ok, mas o que é o thigh gap? O termo significa literalmente o que a tradução sugere, “abertura entre as coxas”, e durante anos foi considerado uma característica estética positiva, por estar ligado à magreza, à pernas finas e à uma boa forma física - o que está completamente errado, já que o thigh gap é genético.
Na Era Tumblr, fotos de pessoas com grandes lacunas entre as coxas circulavam ao lado de quem buscava dicas de como alcançá-las por meio de rotinas de exercícios ou dietas absurdas. Para diversas jovens mulheres e adolescentes, a busca por um grande espaço entre as coxas teve um grande impacto em sua autoestima, principalmente para a porcentagem de mulheres que geneticamente nasceu com pernas grossas e curvas.
Hoje, percorremos um longo caminho e tivemos um grande avanço no quesito ideais de beleza. Cada vez mais vemos mulheres reais, diversas e identificáveis em foco, mas ainda assim, constantemente nos deparamos com discursos celebrando uma magreza extrema e muitas vezes não-saudável. Um exemplo disso é o fato do termo thigh gap ter voltado a ser um tópico dentro do TikTok.
A abertura das coxas ficou enraizada em nosso cérebro como um padrão de beleza inalcançável e desejável, ao lado de muitas outras tendências e características, logo, quando o assunto é abordado, seja criticando ou enaltecendo, é inevitável o thigh gap ser carregado novamente. E foi isso que aconteceu durante a pandemia do COVID-19, o fato das mídias sociais terem sido a única forma de contato para muitos, é apontado como a razão principal pela “tsunami” de transtornos alimentares entre crianças e adolescentes no último ano. Mostrando que a tendência corporal problemática nos anos 2000, ainda é perturbadoramente relevante hoje - a hashtag #thighgaps tem quase 6 milhões de visualizações no aplicativo de vídeos.
o fato das mídias sociais terem sido a única forma de contato para muitos, é apontado como a razão principal pela “tsunami” de transtornos alimentares entre crianças e adolescentes no último ano.
Mas, a ascendência do thigh gap nos dias atuais, também abriu um diálogo positivo, mais ligado a movimentos como o body positive e a luta contra a gordofobia. Diversos creators do TikTok, ao verem a ascensão do termo, andaram contra a corrente e usaram sua plataforma para celebrar corpos reais, coxas grossas, curvas e a vasta diversidade corporal que existe. A revolta contra a glamourização da distância entre as coxas ganhou força no aplicativo no início deste ano, com uma série de vídeos ao som da música “Red Opps” do rapper 21 Savage, mais precisamente no verso que dizia. “You can keep the skinny bitch 'cause I like a fat ass and thighs”. Com isso, muitas influenciadoras gordas da plataforma usaram o som para compartilhar vídeos que mostram seus corpos e suas curvas.
Embora seja reconfortante ver movimentos caminhando contra a ditadura da beleza, e pensar que o thigh gap e outras tendências corporais não afetam mais tanto os adolescentes quanto na era do Tumblr, celebrar coxas mais grossas e corpos com curvas não é o suficiente, e é apenas o começo. Afinal, a abertura das coxas pode ter se originado nos anos 2000, mas a gordofobia na qual estava enraizada é muito mais antiga e ainda está bem viva nos dias atuais. E será necessário.