Se você acompanhou os nossos stories na semana passada deve ter acompanhado a viagem incrível da nossa Co-Fundadora, @ManuelaBordasch, para conhecer o maior fast fashion do mundo: a Zara! A convite da Secretaria de Turismo da Espanha e do Grupo Inditex (a.k.a donos da Zara), a Manu esteve em La Coruña para conhecer de perto as instalações e a história da empresa.
O Grupo Inditex foi fundado em 1985, dez anos depois da abertura da primeira loja da Zara, na Espanha, com o objetivo de estabelecer em uma mesma empresa um sistema de distribuição capaz de reagir às mudanças de mercado da forma mais rápida possível.
Além da Zara, o grupo Inditex também está por trás de marcas como Pull & Bear, Massimo Dutti, Bershka, Stradivarius, Oysho, Zara Home e Uterque. Somando quase 170 mil funcionários e 7.385 lojas em mais de 93 países. Manu teve a chance de conhecer todos os detalhes e ainda conversar sobre dúvidas frequentes e assuntos polêmicos. "Sabíamos que teriam muitas perguntas polêmicas, não só pelo fato de ser o maior grupo varejista de moda do mundo, mas pelos diversos escândalos que a empresa já se encontrou envolvida. Eu já conhecia um pouco a respeito da história da Zara, mas estudei muito antes da visita justamente para poder ter um olhar completamente imparcial e conseguir analisar o processo como um todo", conta Manu.
A visita foi durante a tarde e a nossa Co-Fundadora participou de um almoço com as gerentes de marketing da Zara e a Head de comunicação do Grupo Inditex.
''O almoço durou quase duas horas. Foi ótimo ter esse tempo antes da visita para podermos conhecer um pouco mais sobre a história da empresa. O que, sem dúvida, mais me chamou a atenção foi a forma como todos os funcionários se relacionavam, se tratando como uma família mesmo - o que me fez deixar de lado qualquer estereótipo de uma empresa fria só por ser gigante. Comentei que havia lido o livro que fala sobre a história de Amâncio Ortega, fundador da Zara e perguntei se ele ainda, aos 82 anos, seguia trabalhando. E ela confirmou:
- Mas é claro. Todos os dias! Como conta no livro, o único benefício que ele se dá depois de todos esses anos, é se dar ao luxo de chegar as 11 da manhã.
O tour começou pela área de produção e logística da empresa, onde a Manu conseguiu ver de perto a dimensão dos números e tamanho da Inditex.
''Os números são, no mínimo, assustadores. Hoje são produzidas 35 mil peças por hora - sendo que a fábrica funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana. Depois de prontas, em 48 horas essas peças podem estar expostas em qualquer loja do mundo, seja no Brasil ou em Tóquio. Ao todo são quase 1 bilhão de peças por ano. 60% da produção é feita em fábricas próprias, como essa que visitamos. Os demais 40% são passados para fábricas terceirizadas ao redor do mundo. Para conseguir manter essa velocidade surreal, todas as tendências e peças mais elaboradas são de produção própria, deixando apenas os produtos básicos para fábricas terceirizadas. Essa divisão é feita justamente porque o que é tendência não pode esperar, então se a empresa detecta uma tendência hoje, ela será desenhada, produzida e entregue nas lojas em tempo recorde. Já os básicos podem demorar um pouco mais, visto que são sempre reposição'', descreve Manu.
Esse volume gigante só é possível devido à tecnologia, que vai desde programas que otimizam os moldes para ter o menor desperdício possível de tecido a automação de todos os processos logísticos. Todo o excedente de tecido é reciclado ao final do processo. E falando em reciclagem, recentemente a Zara criou uma sub marca chamada Join Life, que só usa tecidos reciclados para sua produção.
Eles liberaram que a Manu filmasse algumas partes da visita, principalmente da logística,para quem tiver interesse nessa área é só assistir a todos os detalhes no vídeo que já está no nosso canal do YouTube.
E a vontade de levar todas as peças na mala?
Para finalizar a visita por todas as instalações da fábrica, foi a vez da Manu conhecer o escritório - que fica no mesmo gigante prédio localizado em Arteixo. Só nesse edifício trabalham 4 mil funcionários da empresa. Em cada andar funciona um departamento da Zara: Feminino, Masculino, Infantil e Zara Home. Ufa, dá para imaginar o tamanho e estrutura do escritório?
''O escritório é extremamente espaçoso e super clean. Ao longo de cada andar existem diversas ilhas ocupadas por designers que sempre sentam em frente a um ''buyer''. Os ''buyers'' ou compradores, são os responsáveis pela compra da matéria prima, como tecidos e aviamentos para a produção das peças. Nessa hora as meninas de comunicação brincam:
-Aqui é onde acontecem as maiores brigas da empresa.
"Isso porque assim que um designer identifica uma tendência forte no street style ele pode criar peças seguindo essa tendência, independente de coleção ou linhas de produtos pré-aprovados. Porém, o buyer precisa aprovar o desenho para comprar todo o material, e muitas vezes ele não é aprovado pelo alto custo de insumo para produzir aquela peça. Tudo é minuciosamente estudado para manter a melhor qualidade com o menor custo possível. Muitas das peças da empresa nem visam o lucro, mas sim, chamar consumidores para dentro das lojas que vão acabar consumindo produtos com uma margem mais alta. Brigas de designers e buyers à parte, o clima familiar e alto astral é notável ao longo de toda a visita da empresa.''
Depois de passar por todos os departamentos, a Manu conheceu o espaço onde fica o time responsável pelo site. Infelizmente no Brasil ainda não temos e-commerce da marca, mas a equipe adiantou que está nos planos da empresa para os próximos meses.
''O que mais chama a atenção, sem dúvida, são os 15 estúdios de fotografia que funcionam simultaneamente para que tudo possa ser fotografado e exibido no site. São modelos, fotógrafos, stylists, cabeleireiros e maquiadores que passam o dia focados em criar as imagens mais lindas pra Zara.com e para as mídias sociais.''
E para fechar com chave de ouro, a visita acaba no andar térreo, onde ficam as lojas modelo da Zara e Zara Home.
''Um corredor de Zaras! Se eu pudesse resumir esse andar em uma palavra seria: padronização! TUDO é pensado e fotografado nos mínimos detalhes para que todas as lojas do mundo sigam o mesmo modelo. Vitrine, cartela de cores, peças que devem ficar uma ao lado da outra e até mesmo como dobrar uma toalha. Absolutamente todas as lojas devem seguir o mesmo padrão, sem deixar escapar um detalhe. E tudo é definido na sede da marca'', revela Manu.
É lógico, como existe muita polêmica relacionada à produção da Zara, a Manu aproveitou a oportunidade para separar as perguntas e respostas mais frequentes que recebeu durante o tour pela empresa:
Não só emprega como faz questão de que todos os funcionários tenham um espirito internacional. Hoje existem mais de 45 nacionalidades entre os funcionários da empresa, sendo 76% mulheres.
A procura é tão grande que a empresa tem um site com o foco em carreiras onde todas as vagas são publicadas: www.inditexcareers.com
Dentro da empresa é tudo impecável, da fábrica ao escritório as condições são incríveis e todas as pessoas com quem eu falei disseram que tem o salário acima da média do mercado (em todas às áreas). Mas lógico que existem fábricas terceirizadas, que não tem as condições iguais as das que conheci.
Falamos abertamente sobre todos os assuntos. Eles admitiram que já estiveram realmente envolvidos em casos de escravidão ou condições desumanas, porém, o que eles alegam é que isso aconteceu com empresas terceirizadas que acabaram quarteirizando o processo. Ou seja, eles contrataram empresas que sub contrataram ou escravizaram pessoas.
Eles dizem que se existe qualquer rumor ele é investigado e essas empresas são vetadas para sempre de fornecer para Inditex. E, que além do minucioso processo para se tornar um fornecedor da Inditex, eles estão com processos de auditoria quase que permanente em todas as fábricas.
Sobre pagar salários baixíssimos para funcionários terceirizados eles alegaram que isso deve começar com o governo de cada país. Na opinião do grupo, se eles pagam o salário mínimo do país, eles estão dando emprego a uma pessoa. Sem dúvida é uma questão bem polêmica. Perguntei quais são as atitudes para mudar a situação e eles disseram que fazem parte do maior sindicato têxtil do mundo para que assim possam ter uma conversa aberta com os governos de cada país onde eles tenham fábricas. Para entender melhor sobre a cadeia de produção da empresa, assiste o vídeo:
A Inditex como um todo participa de diversas iniciativas. A empresa disponbiliza uma página no site que expõe todas as iniciativas que eles apoiam. Eles reforçaram que estão sempre, todos os dias, pensando em como podem melhorar.
Em resumo, existem diversas polêmicas e eles falaram claramente sobre todas, enfatizando que as vezes algumas coisas fogem do controle deles. Recebemos muitas mensagens durante a visita e gostaria de dizer aqui o que tentei responder a todos: acredito que dependa de nós, consumidores e veículos cobrar transparência das marcas. Moda consciente é, acima de tudo, ter consciência do processo de cada empresa e optar por consumir um produto ou não. É importante falarmos sobre o assunto, pesquisarmos em fontes seguras o que é mito e o que de fato acontece para, aí sim, cada um fazer sua escolha e ver como podemos ajudar para cobrar uma postura mais ética de todas as empresas que nos relacionamos.
Claro que por trás da maior fast fashion do mundo existem grandes polêmicas e importantes questões que precisam ser discutidas com urgência. Em um cenário de consumo rápido e inconsciente, empresas que conseguem unir qualidade, tendência e responsabilidade social e ambiental se destacam. Durante a visita à Zara, conseguimos entender como é o dia a dia de quem trabalha na sede, como funciona o processo de produção no HQ e ficamos apaixonadas com cada detalhe da empresa. Foi uma ótima oportunidade para conhecer todas as áreas de uma gigante da moda e ainda ter a chance de ouvir o posicionamento sobre grandes polêmicas.