Paralisia cerebral: A influenciadora Isabella Savaget divide suas experiências de vida
Nós amamos descobrir histórias de outras pessoas, seus olhares para a vida e seus desafios. Por isso, assim que conhecemos a influenciadora Isabella Savaget, nos deu uma vontade imensa de bater um papo e contar aqui. A Isabella tem 19 anos, está na faculdade de Direito e tem paralisia cerebral, o que ela faz questão de deixar claro ser apenas uma característica entre tantas outras que possui. Um detalhe que ocorreu durante seu nascimento, em decorrência da falta de oxigenação, mas que molda grande parte da sua vida.
A paralisia cerebral afetou a sua parte motora, gerando dificuldade na marcha, fala e equilíbrio e em realizar algumas atividade que requerem muita coordenação motora, mas isso nunca a impediu de acreditar em seus sonhos e na sua capacidade. Hoje, te convidamos conhecer a Isa e descobrir um pouco mais sobre a influenciadora que está que conquistando a internet. Vem ver:
_vivendo com paralisia cerebral
Desde os sete meses de idade, Isabella teve acompanhamento de profissionais que a ajudaram a se desenvolver da melhor maneira possível. Foram todos esses tratamentos que a fizeram conquistar ganhos motores significativos e alcançar a tão sonhada independência. “Hoje eu posso falar que sou totalmente independente. Preciso de ajuda só em alguns momentos, como para abotoar uma calça e amarrar cadarço", divide a influenciadora.
Todo esse processo de saber desde nova quem ela era, qual era a deficiência que possuía e o acompanhamento de profissionais ajudaram a Isabella, ou melhor, a Bella - seu apelido - a formar e entender quem ela é hoje. “Se você me perguntar hoje se eu gostaria de não ter nascido com a deficiência, minha resposta seria não. Eu tenho muito orgulho de quem eu me tornei e a deficiência faz parte de quem eu sou. Se eu seria melhor ou pior, não sei dizer, mas seria outra pessoa e eu estou muito feliz com a pessoa que estou me tornando", compartilha.
se você me perguntar hoje se eu gostaria de não ter nascido com a deficiência, minha resposta seria não. Eu tenho muito orgulho de quem eu me tornei e a deficiência faz parte de quem eu sou.
Para Bella, ter a consciência de ser uma mulher com deficiência foi fundamental no seu desenvolvimento. "Meu objetivo é me superar a cada dia, ser uma pessoa melhor do que eu fui ontem", acrescenta, "as minhas limitações podem ser mais visíveis do que as de outras pessoas, mas todos nós temos e precisamos superá-las."
Quando falamos de pessoas com deficiência (PCD) é muito comum, por falta de conhecimento e preconceito, imaginar que os desafios encontrados na vida estejam apenas relacionados à limitação vivida, mas Isabella deixa claro que ela encara vários outros desafios, assim como todos nós. Durante sua adolescência, ela desenvolveu depressão e anorexia e lidar com ambas é o seu maior desafio.
Bella está em tratamento das duas doenças e, se tratando da anorexia, ela tenta cada vez mais ver a comida como uma aliada, uma amiga, deixando de lado todo pensamento negativo que um dia já teve sobre ela.
Entre tantas histórias de desafios, uma em especial a marcou muito. Quando tinha 16 anos, Bella estava prestes a iniciar o ensino médio e precisou mudar de escola. Ao tentar se matricular em um colégio, em que toda sua família havia estudado, foi informada que teria que repetir um ano, mesmo que já tivesse sido aprovada em outra escola. "Naquele momento, eu entendi que estava sendo impedida de estudar no colégio apenas por ter uma deficiência", relembra. Então, buscou outra escola que a recebesse, como a estudante comum e capaz que ela é.
Com o passar dos anos, Isabella percebeu que situações como aquela não poderiam ser normalizadas. O correto seria o colégio a receber e, se fosse necessário, se adaptar para recebê-la da melhor forma. "Percebi que aquelas situações que teoricamente são normais, não podem ser. Aí que está o perigo, você se acostumar a passar por situações de preconceito e achar que está tudo bem, por você ter uma deficiência", divide.
Momentos como esse fizeram com que ela descobrisse seu sonho: cursar Direito e fazer as PCDs como sua causa. "Essa é minha causa hoje no Direito", conta, "estou no quarto período e meu objetivo é tornar o mundo um lugar melhor, mais inclusivo e que as pessoas com deficiência possam estar aonde quiserem. E essa não é uma luta só de PCDs, é de todos nós." Bella também usa as suas redes sociais para debater o assunto porque "meu objetivo tanto no Instagram, quanto na advocacia é mostrar que podemos conquistar nosso espaço, que somos, acima de tudo, pessoas que querem viver no mundo e conquistar nossos sonhos."
A verdade é que muitas das situações de preconceito que Isabella viveu e vive ainda infelizmente é resultado da falta de informação que cerca as pessoas com deficiência. A estudante de Direito relata que percebe que grande parte das pessoas não conseguem distinguir que uma PCD pode ter ou não a parte cognitiva afetava. "Eu, por exemplo, não tenho e por muitas vezes na minha vida, eu passei por situações que fui infantilizada e tratada como incapaz", divide.
Esse é o maior tabu relacionado à paralisia cerebral que ela gostaria de quebrar, "mostrar o que é essa deficiência, que ela pode ter diferentes características. Não adianta a gente colocar a pessoa com deficiência em um potinho e considerar aquilo a verdade de todas, pois cada deficiência é única, assim como cada pessoa."
Por isso, "quanto mais pessoas tiverem conhecimento sobre a deficiência, mais diversidade e inclusão teremos no mundo. O papel que escolhi como PCD é levar a informação e conhecimento para as pessoas, porque o preconceito e a descriminação na maioria das vezes está relacionado a essa falta de conhecimento. Porque quando você não conhece, você tem medo, ignora, se afasta. E, para mim, a chave para combater o preconceito e a descriminação é o conhecimento, espalhar informação", finaliza.
para mim, a chave para combater o preconceito e a descriminação é o conhecimento, espalhar informação.
_moda e beleza
Se por um lado, a moda é capaz de acolher, ser uma ferramenta de inclusão e identificação, por outro ela também pode ser um instrumento de exclusão. E, quando se fala de PCDs, a exclusão é ainda maior, pois muitas peças de roupa não são pensadas ou adaptadas para que pessoas com deficiência as usem. "Se eu te disser que não tenho problema com a moda, sendo uma pessoa com deficiência, não seria verdade. Apesar de amar me arrumar, muitas vezes as peças não estão adaptadas para mim", confessa Bella.
As dificuldades encontradas pela jovem estão muito ligadas ao fechamento de roupas e calçados, como o botão da calça jeans ou o gancho do sutiã, fazendo com que ela sempre precise de ajuda de outras pessoas. "São detalhes mínimos que, muitas vezes, pessoas sem deficiência nem percebem que pode ser uma dificuldade que a gente encontra no nosso dia a dia. Mas, quanto mais a gente espalhar esse conceito de moda acessível, mais vamos conseguir impactar marcas de roupas e acessórios a olharem para nós PCDs, criando peças que nos atendam também."
Tudo isso faz com que Bella sempre procure por calças e sutiãs com elástico e calçados com velcro, já que ela não consegue amarrar um cadarço sozinha. "Amo usar o que está na moda, mas (por necessidade e gosto pessoal) também crio a minha moda", conta, "tudo o que qualquer menina de 19 anos usa, eu também quero usar. Temos que naturalizar a ideia de que PCD pode estar na moda! Não é só porque temos uma deficiência que não ligamos para a moda. Queremos que ela nos olhe e seja mais acessível", finaliza.
se eu disser que não tenho problema com a moda, sendo uma pessoa com deficiência, não seria verdade.
Quando o assunto é beleza, Isabella conta que aprendeu recentemente a se maquiar - o que foi uma evolução para ela -, mas que ainda assim encontra dificuldade ao buscar produtos que sejam acessíveis. "Os produtos de make também não são acessíveis", explica, "hoje, a única base que consigo usar é em bastão, pois não tenho coordenação motora para usar um pincel para aplicar uma base líquida, por exemplo."
Na sua opinião, "ainda faltam marcas de beleza que entendam que nós queremos nos olhar e ver que somos bonitos, tendo embalagens que a gente consiga de fato usufruir dos produtos." Afinal, é importante que a pessoa com deficiência consiga usar sozinha um pincel, um corretivo, um batom e por aí vai, sem depender de terceiros para se maquiar.
Foi só recentemente, por exemplo, que Isabella encontrou um desodorante acessível - por causa da coordenação motora baixa, ela não conseguia usar os modelos aerosol ou roll on e com esse novo produto, agora ela consegue aplicar o produto sozinha. "As marcas precisam ouvir as pessoas com deficiência porque só nós sabemos o que nós precisamos. Perguntar não ofende, o que ofende é ser tratada como infantil e incapaz", pontua, "a gente quer lugar de fala, de ser ouvido pela sociedade. Eu gostaria muito que os mercados da moda e da beleza olhassem um pouco para nós e para as nossas dificuldades, e como podemos dar várias ideias para adaptar os produtos. Que esses mercados nos enxerguem como consumidores e nos ouçam para, de fato, produzirem produtos que nos atendem no nosso dia a dia."
as marcas precisam ouvir as pessoas com deficiência porque só nós sabemos o que precisamos.
_os objetivos de Bella
Quando perguntamos à Bella o que ela gostaria de dizer às PCDs e aos pais de crianças com deficiência, o recado é claro: não abram mão dos seus sonhos. "Não desista, corra atrás e saiba que nada é impossível. Acredite na sua capacidade, você consegue. Por mais que o mundo diga que você não pode, se você quiser, você consegue. Esse é o lema que levo para minha vida e cada vez mais eu vejo que é verdade", diz, "claro que tenho que ter muita determinação, mas eu consigo."
E para finalizar, outra mensagem: "não se esconda atrás da deficiência, não deixe ninguém te menosprezar por isso. Saiba que você é muito mais que sua deficiência, pois ela é apenas uma característica do seu corpo, jamais te definirá como pessoa."
E se você não é uma pessoa sem deficiência, o recado da Isabella é simples: pergunte, converse, abra espaço para PCDs na sua vida e cotidiano. "Perguntar não ofende. Às vezes, as pessoas que não fazem parte do universo PCD não têm informação, não sabem lidar com essas pessoas e, por isso, é muito importante perguntar", comenta ela, que ainda reforça a importância de perguntar antes de oferecer ajuda. "Pergunte o que nós queremos e se estamos precisando de auxílio, pois às vezes você pode presumir isso e acabar mais atrapalhando do que ajudando. Não nos trate como infantil ou incapaz, nós estamos no mundo para ser protagonistas de nossas vidas também", finaliza.
Bella conta que pessoas com paralisia cerebral ou qualquer que seja a deficiência querem compartilhar suas experiências e rotinas, e por isso todos deveriam ser receptivos para ouvi-los. É responsabilidade de todos tornar o mundo um lugar mais inclusivo. "Queremos aprender muitas coisas com as pessoas sem deficiência e também ensinar. Queremos compartilhar, ouvir e trocar. Essa luta é nossa, de todos nós, e só vamos conseguir inclusão, que cada vez mais PCD estejam no topo do mundo, com representatividade", explica, "não tenha medo da gente. Chegue, converse e pergunte. Nós vamos ter maior prazer de mostrar quem somos, do que somos capazes, mostrar que temos uma deficiência e isso não muda quem somos como pessoa."