Perfume com cheiro de tomate? Bem-vinda à era da perfumaria comestível
Até pouco tempo, o auge dos perfumes era cheirar a rosas, madeiras nobres ou limão siciliano. Em 2025, o cheiro mais desejado é o de tomate. Sim, tomate. O que, em um primeiro momento, me pareceu uma completa loucura, após certa pesquisa descobri que se trata de um padrão de comportamento que começou lá em 2020, então senta que vou te contar tudo sobre essa tendência um tanto quanto peculiar de perfumaria comestível.

A febre do “cheiro comestível” vai muito além do tomate. O mundo da perfumaria mergulhou de cabeça na cozinha e o resultado é uma gama imensa de fragrâncias que parecem saídas direto de um brunch, e não de destinos exóticos como antes.
Diversos fatores nos fizeram desejar o cheiro de horta, e tudo começou com a pandemia. Com o isolamento no auge, o que as pessoas mais queriam era estarem conectadas ao meio ambiente. Com isso, velas aromáticas e sprays para casa que traziam um cheiro fresco e verde viraram hit.
Logo após, surgiu o boom da tomato girl no TikTok e, rapidamente, as marcas de luxo absorveram essa tendência. Loewe e Flamingo Estate colocaram o tomate em bolsas, velas e perfumes luxuosos. O TikTok enlouqueceu e ficou claro que a tomato girl não era apenas um modo de se vestir, mas um lifestyle regado a looks fotogênicos e charme de cheirar à horta chique.

Depois disso, veio a avalanche: Maison Margiela lançou From the Garden, L’Artisan Parfumeur criou uma coleção inteira inspirada em vegetais e até a Bath & Body Works entrou na onda com uma linha Off the Vine, de 18 produtos com cheiro de folha de tomate, gerânio e musgo. Aí você sabe: quando a tendência chega no shopping, é porque já conquistou o mainstream.
A verdade é que o universo dos perfumes está vivendo sua era MasterChef, e os ingredientes queridinhos da gastronomia cool (ruibarbo, pimenta rosa, miso, chá verde, açafrão) estão ganhando interpretações olfativas e dominando as prateleiras de marcas de nicho. A lógica é clara: se comemos com os olhos, por que não com o nariz também?
Longe de mim ser o tipo de pessoa que acha que a culpa é do Ozempic, mas, mais uma vez, estudos (Relatório da Elevated Classics e estudo da NielsenIQ) mostram que o desejo por perfumes com cheiro de comida cresceu junto com o uso dessa medicação. Quando a comida deixa de ser atraente, a fragrância passa a preencher esse vazio de dopamina.

Essa tendência também reflete uma mudança de fantasia coletiva. Se nos anos 2000 sonhávamos com viagens a ilhas gregas (e por isso usávamos perfumes com nomes como Escada Island Kiss), hoje a idealização é outra: queremos cultivar uma hortinha, assar um bolo sem glúten e postar tudo no Instagram. O cheiro precisa acompanhar esse mood.
O perfume com cheiro de comida é, no fim, um reflexo do nosso tempo. A sensualidade mudou, o luxo mudou, o autocuidado mudou. Cheirar a baunilha, manteiga, massa crua ou tomate fresco não é mais estranho, é desejável. É sinal de autenticidade, de bom gosto e de um certo desapego chique.
Pode parecer estranho, mas cheirar a tomate virou o novo sexy. E, se depender do algoritmo e dos nossos desejos reprimidos por açúcar, carboidrato e afeto, a coisa só vai piorar (ou melhorar) dependendo do seu ponto de vista.
Cheiro de tomate, bolo ou pistache: já deu vontade ou ainda parece estranho?
