Nós mulheres somos unidas por diversos fatores e provavelmente você já chegou em um lugar e se sentiu mais confortável porque tinha uma outra mulher ali, ou soube a hora de ajudar uma desconhecida e fingiu que a conhecia. Nós sabemos os desafio que enfrentamos e por isso estamos cada vez mais dispostas a nos ajudar. Outro fator que todas nós vivemos e lidamos sempre é a menstruação, que afeta tanto as mulheres quanto homens transexuais e pessoas não-binárias, mas muitas de nós não sabemos o que é viver a pobreza menstrual.
Ter acesso a higiene pessoal, a produtos sanitários e um espaço seguro para lidar com a menstruação não deveria ser um privilégio, mas infelizmente é. A pobreza menstrual afeta pessoas no mundo todo, comprometendo a saúde e qualidade de vida. No Brasil temos alguns projetos que falam sobre o assunto e que ajudam mulheres nessas condições como o Herself e a Sangria. Conversamos com as idealizadoras deles para entender tudo sobre e claro, saber como nós também podemos ajudar a combater a pobreza menstrual.
_o que é pobreza menstrual
A Raíssa, cofundadora da Herself, nos explicou que pobreza menstrual é uma condição que afeta pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social, pessoas que não possuem acesso a saneamento básico e a protetores menstruais. “Em todo o mundo há mulheres e meninas, homens transexuais e pessoas não-binárias que menstruam e não têm acesso garantido a meios seguros e eficazes de administrar sua higiene menstrual”, ela explica que isso faz com que as pessoas recorram a outros métodos para conter o sangue, como folhas de jornal, de árvore, telhas e até mesmo miolo de pão.
“A menstruação está intrinsecamente relacionada à dignidade humana. Quando uma pessoa sangra e não tem acesso à água, banheiros, itens de higiene ou vive - por causa de algo que é fisiológico - situações de exclusão, vergonha e impotência, o princípio da dignidade está comprometido”, explica.
uma pesquisa de 2016 mostrou que no Brasil 22% das meninas de 12 a 14 anos não têm acesso a produtos menstruais
A Maria Silvia, idealizadora do projeto Sangria nos ofereceu alguns dados sobre pobreza menstrual. “Uma pesquisa de 2016 mostrou que no Brasil 22% das meninas de 12 a 14 anos não têm acesso a produtos menstruais. Já entre adolescentes de 15 a 17 anos, o número sobe para 26%. Segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para Infância), mulheres que não têm acesso à educação menstrual têm mais chances de viver uma gravidez precoce, sofrer violência doméstica e ter complicações durante a gestação.”
E para entendermos a gravidade do assunto é importante saber como ela afeta na vida das pessoas. A falta de acesso a instrumentos básicos de menstrual causa evasão escolar e profissional, estudantes podem perder até cinco dias de aula por mês apenas por estarem menstruadas, sem contar a população carcerária, uma das mais afetadas pelo problema. Segundo Maria, esta população costuma utilizar miolo de pão como absorvente, assim como pessoas em situação de rua.
_conheça os projetos
_sangria
A Sangria nasceu após um episódio de violência doméstica sofrida por Maria Silvia, que ela teve que ir a delegacia e houve um escape da menstruação sem estar na data correta de seu ciclo. No banheiro não havia papel higiênico e ali ela sentiu a potência do processo e percebeu que poder menstruar com dignidade não deveria ser um luxo.
Sangria é um projeto que fala sobre o corpo feminino e os tabus da menstruação, da posição das mulheres na arte e na política. Ela tem o objetivo de trazer informação a todos, “que a menstruação não seja mais um limitante em nossas vidas e sim fonte de potência e auto conhecimento. E que, todas nós, que sangramos todo mês de forma privilegiada, lutemos por aquelas que ainda encontram muitos obstáculos sociais”, finaliza Maria.
_herself
A Herself, com sede em Porto Alegre, atua desenvolvendo produtos tecnológicos para menstruação e oferecendo acesso à informação segura e de qualidade sobre o funcionamento dos corpos femininos através de duas frentes de atuação: a Herself e a Herself Educacional.
“A Herself investe na educação para mudar a relação com a menstruação e o próprio corpo. A iniciativa de expandir e democratizar o conhecimento sobre os ciclos menstruais já acontecia por meio de oficinas de bioabsorventes e foi oficializada em janeiro de 2020, no lançamento do primeiro curso on-line com foco na autonomia e na visão positiva sobre o corpo”, afirma Raissa, cofundadora.
Para combater diretamente a pobreza menstrual, além do impacto com conteúdo na internet, a empresa destaca os seguintes pontos:
> mais de 300 mil pessoas impactadas com produtos, cursos, livros, oficinas e leis aprovadas;
> 7,2 toneladas de resíduos que deixaram de ser descartados pelos produtos tecnológicos existirem;
> 43 mil assinaturas para petição pública em combate à pobreza menstrual;
> três propostas de lei em combate a pobreza menstrual com a participação da Herself na garantia da educação menstrual com o coletivo Girl Up;
> mais de três mil pessoas impactadas diretamente com educação menstrual;
> 145 mulheres impactadas nos institutos penais.
_como ajudar
O assunto é muito sensível, principalmente para nós que mensalmente convivemos com a menstruação, mas não nessas situações. Existem algumas maneiras que podemos ajudar mulheres que vivem a pobreza menstrual, além de oferecer informação correta e de fácil acesso. Algumas medidas indicadas por Herself são:
> doar protetores menstruais para mulheres que precisam. Você pode encontrar instituições que realizem o trabalho o deixar absorventes em sua bolsa e oferecer para mulheres e meninas em situação de rua;
> organizar uma rede de distribuição de protetores menstruais. Reúna suas amigas e conversem com sua comunidade, associações de bairro pra criarem pontos de colete de absorventes;
>compartilha e proponha reflexões nas redes sociais. Não podemos negar, a menstruação ainda é um tabu para muitas pessoas, por isso, falar sobre o assunto abertamente cria a percepção de que ele é realmente uma questão de saúde pública e essencial para todas pessoas que mesntruam.
> por ultimo, assine a petição contra a pobreza menstrual, do Cadê o absorvente? E compartilhe com mais pessoas.