Era inevitável, mas ainda assim, rolou um leve susto quando o primeiro dockside surgiu na passarela do Verão 2024 da Miu Miu. Confirmando seu retorno triunfal, The Row, Fendi e até a Loewe — que recentemente desbancou a colega italiana no posto de marca mais quente do mundo — lançaram suas próprias versões. Uma convergência de influências transformou esse resgate em algo natural: a fascinação pela estética old money, o apego por todo tipo de dad shoes (mais um da longa lista que vêm direto do guarda-roupa de pais e avós), além do desejo crescente por conforto por parte dos consumidores. Após anos dominados por loafers, tênis e, mais recentemente, sapatilhas, agora é o polêmico dockside quem pede passagem, se posicionando como a nova-velha alternativa de sapatos sem salto em alta.
Derivado do mocassim, a principal diferença é o solado emborrachado. O nome em inglês, “boat" ou "deck shoe”, já denuncia sua procedência. E como vocês sabem, eu não resisto a um pouco de história, então vamos lá para o momento #stealtheclass: idealizado pelo marinheiro Paul Sperry há quase 100 anos, sua criação foi fruto de uma necessidade funcional. Para se proteger dos frequentes tombos no convés do barco, Sperry teve a ideia de criar um sapato com solas emborrachadas e ranhuras. A inspiração veio ao observar como seu cachorro conseguia caminhar em superfícies molhadas, graças à textura das patas. Isso resultou no Sperry Top-Sider, lançado em 1935. O modelo rapidamente ganhou popularidade e se tornou favorito do pessoal mais privilegiado, aquela turma seleta que tem acesso a lanchas e iates em seus momentos de lazer, consagrando o dockside como o representante náutico do estilo preppy.
A presença no armário feminino era mais rara, mas isso mudou na década de 80. O design seguiu presente durante o minimalismo dos anos 90 até o início do milênio, eventualmente caindo no ostracismo e se mantendo firme apenas no closet de quem prezava por um clima mais conservador. Porém, em 2024, ele ganha ares modernos e novo fôlego através de inúmeras possibilidades de styling, como a gente mostra a seguir.
Na Miu Miu, a grande “culpada" pelo hype atual, a sugestão é usar sem meias e com tornozeleira colorida em uma vibe meio surfista, meio preppy.
Seu revival também conversa com outra tendência forte da vez, a camurça, já que o tecido é um dos mais comuns na composição do dockside.
Comodidade anda de mãos dadas com a tendência, e o fiel e prático conjuntinho de moletom pode ser opção. Substituindo o tênis pelo dockside, o resultado é mais cool e tira aquele aspecto de athleisure básico.
Justamente pelo nome de deck ou boat shoes, já dá para saber que eles funcionam em qualquer estação. No verão, vão super bem com shorts larguinhos e camisa oversized. Mais arrumado que um tênis, mas menos formal que um mocassim clássico, ele ocupa o meio do caminho entre o casual e o arrumado.
Em dias de meia-estação, é feito sob medida para jogar com jeans clarinho e mix de marrons, criando contraste entre os elementos leves e mais pesados, como a jaqueta de couro.
O dockside está em seu habitat natural no universo preppy, ao lado de camisas polo e suéteres. Portanto, para deixar o look mais interessante e fugir do óbvio, aposte em peças de apelo mais relax ou inesperado, como o jeans baggy e óculos de grau. O resultado remete ao nerd chique, mas mantém um toque despojado.
Camiseta grandona é representante do clima tomboy, já a saia balonê é romântica e girly. Quando temáticas contraditórias se unem, o dockside nos pés é o neutro perfeito para amarrar a produção.
Se o frio ainda impera enquanto você lê a pauta, a dica é colocar uma meia quentinha e um casaco aconchegante. Por serem visualmente mais delicados que os loafers, eles são mais harmônicos com peças ajustadas como o jeans skinny, outro item controverso que promete voltar aos holofotes em breve.