Por que a moda nostálgica está tão em alta?

por Beta Weber

Quando pensamos sobre a moda nos anos 70, imediatamente vem à mente tons terrosos, boca de sino, punk e o início da era disco. Já nos anos 80, a entrada da mulher com força no mercado de trabalho remete à alfaiataria oversized e os excessos traduzidos em brilhos, cores vibrantes e maximalismo. Os anos 90 são sinônimo de minimalismo e movimento grunge, a primeira década do milênio responde pela cintura baixíssima, influência street, jeans bordados e silhueta ajustada. E quando falamos nos últimos anos? Busque listas sobre as maiores tendências dos 2010s e verá: chokers e dad shoes, cortesia dos anos 90, color blocking e vestidos bandage oriundos dos 80s… Fica claro que não há nada de novo e que nossa maior paixão parece ser a moda nostálgica, mas qual o motivo desse fenômeno e o que isso diz sobre a nossa geração?

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A moda nostálgica nos mantém na zona de conforto permitindo a celebração de valores que ainda cultivamos, identificação com épocas que sentíamos o futuro ainda otimista.

É verdade que a moda é cíclica e somos constantemente influenciados por décadas passadas, assim como ela também desempenha o papel de refletir a realidade atual, não podemos esquecer que outras tantas vezes serve para desafiar ou inspirar com conceitos e quebrar paradigmas. Se o estilo pessoal em sua melhor versão é um mix de nossas referências, vivências, desejos e personalidades, a moda também pode ser, mais que um copia & cola, uma reinvenção de tudo que fizer sentido, mas ressignificado para o momento presente. 

Nunca a ansiedade esteve tão alta nos jovens, o que é compreensível: danos incontornáveis ao meio ambiente, mercado de trabalho saturado e competitivo, maior solidão nas grandes cidades e claro, a atual pandemia mundial, geram incertezas constantes e nos levam a ansiar pelo familiar, pelo conhecido, em tudo, inclusive na forma que nos vestimos. A moda nostálgica nos mantém na zona de conforto permitindo a celebração de valores que ainda cultivamos, identificação com épocas que sentíamos o futuro ainda otimista, mas também, nos permite a reapropriação de coisas que em outros tempos carregavam estigma e hoje podem e devem ser interpretadas de formas distintas. 

O cenário presente oferece liberdade e a possibilidade de consumirmos e nos vestirmos de acordo com o que desejamos e valorizamos. Cabe à cada um eleger o melhor caminho. 

O principal trunfo e a grande mudança de comportamento na década atual está justamente na dinâmica de poder: a mudança mais fundamental está no fato que hoje, tendências são ditadas pelas ruas e pelos desejos dos consumidores que exigem mais praticidade, transparência, inclusão e representatividade das marcas, que por sua vez, não possuem mais a capacidade de ditar regras e precisam se adequar às demandas populares para que consigam sobreviver. Regras deixaram de ser interessantes no momento que a internet e a globalização garantiram acesso imediato à uma parcela maior de pessoas e democratizaram os formadores de opinião e a forma que consumimos.

Apesar da polarização extrema que enfrentamos em âmbito político e de costumes, no quesito moda, pluralidade é a palavra da vez. Nunca tivemos acesso à tanta variedade de itens, pontos de vista e propostas. Se por um lado, o excesso de escolhas nos confronta cara a cara com a modernidade líquida de Bauman e confere à produtos certo ar descartável, analisando por outra perspectiva, o cenário presente oferece liberdade e a possibilidade de consumirmos e nos vestirmos de acordo com o que desejamos e valorizamos. Cabe à cada um eleger o melhor caminho. 

A marca registrada será que nossas roupas refletirão nossos valores e crenças.

A principal tendência da nossa época não será estética, afinal já estabelecemos que a oferta abundante permite que você escolha o tipo de peça que se encaixa no seu gosto. A marca registrada será que nossas roupas refletirão nossos valores, crenças e além de querer se sentir bem com nosso reflexo, queremos nos sentir bem com a nossa consciência, priorizando a maneira que nos sentimos ao usar cada item, mais do que apenas se a imagem funciona para um look do dia no feed. 

Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades e eu escolhi uma sabedoria direto da cultura pop, via Homem-Aranha, para ilustrar a dicotomia que vivemos: entre memes, selfies, autonomia e a busca pela própria essência e nossas responsabilidades intrínsecas à potência e influência que conquistamos, o impacto no coletivo e no que virá a seguir está diretamente ligado à nossas ações, portanto, a dúvida que fica é: Qual legado queremos deixar e o que faremos para nos certificarmos que existirá um futuro? 

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