Hoje, dia 29 de agosto, é Dia da Visibilidade Lésbica, data muito importante no calendário #LGTQIA+ e que chama atenção para a invisibilidade e agressões sofridas por mulheres lésbicas no Brasil. Segundo dados levantados por pesquisadoras da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em um documento intitulado Dossiê sobre Lesbocídio, entre os anos de 2000 e 2017 (recorte utilizado na pesquisa), houve um aumento de 2700% no número de mortes de lésbicas no país - crimes cometidos e motivados pela orientação sexual.
De acordo com o dossiê, no ano 2000, foram registrados dois casos de lésbicas assassinadas. No ano de 2017, esse número subiu drasticamente para 54. O documento também mostra que 57% dos lesbocídios ocorreram com mulheres de até 24 anos e 83% dos agressores são do sexo masculino.
Mas o que é lesbofobia e por que esse dia é tão importante? Lesbofobia é a discriminação sofrida por mulheres lésbicas, que é diferente da homofobia pois, além do preconceito sofrido pela orientação sexual, essas mulheres também são vítimas do machismo. Entre as violências mais comuns, estão:
- O apagamento da sexualidade; fetichização ou objetificação do relacionamento entre mulheres;
- Negligência na área da saúde, algo que fica evidente quando vemos a falta de opções para o sexo seguro ou mesmo despreparo de ginecologistas para atender mulheres que se relacionam com mulheres;
- Agressões físicas ou psicológicas;
- Estupro corretivo, termo que se refere ao estupro que tenta “corrigir” a sexualidade da mulher lésbica.
Essas violências são evidentes em frases constantemente ouvidas por essas mulheres. As famosas: “Só é lésbica porque nunca transou com o homem certo”, “Quem é o homem da relação?”, “Posso participar?” ou “Posso ficar olhando?” e por aí vai. E vale ressaltar que essas violências são ainda mais fortes quando falamos de mulheres negras, periféricas, transexuais.
Durante muito tempo, o movimento LGBT focava muito nos homens gays e apagava as outras letras e vivências: isso não foi diferente com as lésbicas. Tanto que, a mudança na sigla de GLS para LGBT foi justamente uma tentativa de trazer o L para frente e deixá-lo mais visível.
Até a publicação do Dossiê não haviam muitos dados sobre o lesbocídio. O termo foi proposto como forma de advertir contra a negligência e o preconceito da sociedade brasileira com mulheres lésbicas. Alguns dados que o dossiê apontam são:
- Ao menos 126 lésbicas foram assassinadas no país entre 2014 e 2017;
- Só em 2017, foram 54 casos — um aumento de mais de 237% em relação a 2014;
- 2017 foi também o ano em que foi registrado o maior número de casos de suicídio (19);
- Além disso, 71% dos crimes aconteceram em espaços públicos;
- 43% dos assassinos eram pessoas desconhecidas para as vítimas;
- 83% das mortes foram causadas por homens.
Esse levantamento foi feito a partir de dados coletados em redes sociais, sites e jornais e outros veículos de mídia. Por isso, o grupo de pesquisa ainda ressaltou que esses números ainda são distantes da realidade, já que não existem dados ou informações oficiais voltadas a questão do lesbocídio.
Resumindo, além do machismo estrutural que toda mulher sofre, a orientação sexual das mulheres lésbicas soma ao preconceito e as tornam ainda mais vulneráveis, estatísticas que nem ao menos são oficiais ou precisas. E é por isso que o mês da visibilidade lésbica é tão importante e precisa ser reforçado e lembrado. O feminismo é necessário não só por direitos igualitários, mas para combater estatísticas que nem são apuradas oficialmente porque não têm visibilidade suficiente.