Precisamos falar sobre a tendência das roupas virtuais

por Inaê Ribeiro

No final de abril uma polêmica tomou conta das redes sociais, a label italiana Gucci anunciou o lançamento de um tênis virtual e isso foi o suficiente para a abertura de questionamentos sobre as roupas virtuais. As tendências e novidades no mercado de moda são constantes e sabemos bem disso, e por mais que as peças digitais sejam novidade para muitas pessoas, a verdade é que elas já estão presentes no mercado já faz um tempo.

Em 2019, a marca holandesa The Fabricant leiloou uma das primeiras roupas virtuais por US$9.500 euros, cerca de R$60.000 reais, segundo a cotação atual. A marca, que é especialista em vestes e avatares virtuais, realizou uma pesquisa e constatou que 9% da população de países desenvolvidos compram roupas novas só para postar nas redes sociais. Se você estava achando que essa moda tecnológica não iria emplacar e não possuía mercado, essa já é uma informação para iniciar a mudança de pensamento.

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Foto: The Fabricant (Reprodução/Instagram)


O fato de pessoas comprarem roupas apenas para postar em redes sociais e existirem marcas que incentivam isso foram algumas das problematizações trazidas nas redes sociais quando a Gucci anunciou o lançamento de seu tênis. De um lado, temos pessoas que não concordam com esse consumismo apenas para postar foto, condenando tais atitudes. Do outro, pessoas analisando a promessa da moda virtual e os benefícios em questão ambiental dessas peças. Para entender de onde surgiu e para onde vai essa trend conversamos com a Expert do Futuro, Mariana Santiloni, da WGSN, empresa líder em tendências de comportamento e consumo. 

A indústria da moda é uma das que mais polui o meio ambiente e o incentivo ao consumo existe nesse mercado, não há como negar. As fast fashion há anos marcam presença incentivando um consumo de peças não tão duráveis e com tendências passageiras, tornando a vida útil das peças menor. Foi devido à elas que o discurso de moda sustentável ganhou cada vez mais espaço. 

a maneira de se comunicar com as pessoas muda, novas moedas digitais surgem e o desejo por inovação cresce

Ao mesmo tempo, o aumento de influenciadoras nas redes sociais mostrando o look do dia despertou ainda mais o desejo de consumo, mas aos poucos fomos entendendo se estávamos apenas querendo consumir aquela peça para tentar se encaixar em tal padrão.

Todos esses fatos trazem a ideia de que as roupas virtuais podem ser um auxílio na diminuição da poluição acontecida durante a produção de peças que serão usadas apenas uma vez para foto. Juntamente a isso, acontece o avanço da tecnologia, mudança na maneira de se comunicar com as pessoas, novas moedas digitais surgem e o desejo e inovação cresce. Considerando o último ano, que estivemos dentro das nossas casas devido à pandemia, o desejo de inovação aumenta ainda mais.

_afinal, o que são peças virtuais

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Foto: The Fabricant (Reprodução/Instagram)

nos acostumamos com os cenários ‘figitais’ - o mix entre físico e digital -, e abraçamos esta nova realidade.

O início da discussão abriu dúvidas com relação ao que são as roupas virtuais e como funcionam e, basicamente, são peças inseridas digitalmente em uma fotografia. Você adquire uma roupa on-line e envia uma foto que será manipulada virtualmente através de efeitos e softwares de animação e então terá sua "roupa" inserida na imagem desejada, mas lembrando que ela existirá apenas na foto. 

"Temos passado mais tempo em casa - mesmo antes da pandemia já víamos este movimento - e nos comunicando através de telas, assim a linha entre o mundo físico e digital fica mais tênue e o limite entre o virtual e o material deixa de importar", afirma Mariana Santiloni, "nos acostumamos com os cenários ‘figitais’ - o mix entre físico e digital -, e abraçamos esta nova realidade". 

Um exemplo disso são os filtros de Instagram, pessoas que antes não haviam conhecimento sobre realidade aumentada (VA), possuem agora fácil acesso e de uma maneira que está presente no seu cotidiano. "Os filtros do Instagram deixaram a realidade aumentada muito mais acessível. Segundo um relatório da Ericsson feito em 2019, 31% da população urbana usa a RA ou a RV toda semana", relata Marina. Nós, consumidores, queremos sim conhecer esse novo mundo e fazer parte e segundo Santiloni, as experiências e identidades virtuais amadureceram e aumentaram, redefinindo a expectativa do público.

O mercado e-commerce cresceu muito com a pandemia e a tendência é que esse mercado só cresça e a tecnologia seja responsável por quebrar barreiras físicas e permitir interações remotas de maneira mais simplificada. “A moda digital vai deixar de ser um movimento pouco convencional e se transformar em uma tática importante para atrair o desejo do consumidor por novidades conscientes", afirma a expert da WGSN.

_para onde vai

Quando abre-se a discussão sobre um assunto é comum a existência de opiniões diversas, como aconteceu com as roupas virtuais. Por mais que muitas pessoas acreditem que não é algo que deveria existir espaço no mercado, as peças estão disponíveis para compra e, ao que tudo indica, sendo o maior sucesso. "A marca de moda digital The Fabricant observou um aumento acentuado na demanda por suas roupas virtuais em 2020, ilustrando que o limite entre os mundos físico e virtual está se tornando menos claro e que as pessoas estão colocando cada vez mais atenção e personalidade em suas identidades virtuais", conta, "o sucesso da coleção ilustra a crescente importância do metaverso e a moda digital continuará a crescer conforme novas ferramentas vão se tornando disponíveis para aumentar o potencial criativo dos profissionais de design", explica Mariana Santiloni.

um lado da vantagem exposta por muitas pessoas é a diminuição na produção de lixo, já que muitos consomem peças apenas para tirar foto

A promessa, segundo Mariana, é que a moda de roupas virtuais continue crescendo conforme novas ferramentas nasçam e ofereçam mais espaço para a criatividade dos designers

Um lado da vantagem exposta por muitas pessoas é a diminuição na produção de lixo, já que muitos consomem peças apenas para tirar foto e é um hábito que desde o inicio das redes sociais existe. Unido à promessa de que o home office continuará sendo a realidade de muitas pessoas, mesmo após a vacina, as roupas virtuais ajudarão a se manterem sempre arrumadas para as vídeo chamadas. 

Já como desvantagens, muitos expõem que a existência dessas peças reforça a necessidade de fingir ser o que não é nas redes sociais. Uma das maiores críticas desses aplicativos é a comparação criada em torno de quem consome tais conteúdos e deseja possuir algo igual.

Mariana Santiloni acredita que as roupas virtuais vão se tornar apenas mais uma categoria para as marcas diversificarem as suas coleções, cabendo ao consumidor escolher o que acredita. 

Gucci Virtual 25 - tênis virtual Gucci - moda virtual - outono - brasil - https://stealthelook.com.br
Foto: Gucci (Reprodução)

_quem está fazendo

A responsável por bombar a discussão nas redes sociais foi a Gucci, que lançou o tênis intitulado Virtual 25, que pode ser adquirido no aplicativo da marca por US$ 12 dólares. Desenhado por Alessandro Michele, Diretor Criativo da marca, o tênis foi criado como parte da iniciativa "Gucci Sneaker Garage", destinado a tênis ecléticos e "itens digitais especiais”, como chama a marca. 

Mostrando que deseja participar cada vez mais do mercado de roupas virtuais, no final de maio a Gucci anunciou que venderia um modelo de bolsa através do jogo Roblox. Muito popular entre as crianças, a plataforma oferece um marketplace onde os seus usuários podem comprar e vender todo tipo de acessório para os seus avatares. Porém, um fato chamou a atenção dos consumidores: a peça virtual é mais cara do que a física. A bolsa real é vendida por $3.400, já o produto digital vendido no Roblox custa $4.415. O acontecimento tem amplificado ainda mais a discussão nas redes, principalmente pelo fato da peça só poder ser usada no jogo. 

No Brasil, a marca carioca Lucas Leão foi criada com o objetivo de trazer peças que unam pesquisa e inovação, ligando o vestuário à tecnologia. Em seu site a marca vende uma T-shirt física que possui uma tecnologia virtual. A peça vem acompanhada de uma tag e ao direcionar a câmera do celular para ela, utilizando o filtro disponível no Instagram da marca, é possível escolher entre quatro estampas, que serão mostradas através da tela.

_a influência no mercado

Um exemplo é a vitrine virtual autônoma, tecnologia desenvolvida pela SmartHint, sistema de busca inteligente e recomendação para e-commerce, que utiliza inteligência artificial para elevar a experiência de compra on-line. A tecnologia consiste em recomendar produtos de forma personalizada e automatizada em vitrines virtuais. Um exemplo é a "compra por look": quando uma pessoa clica em um produto, a IA identifica as imagens dos itens complementares, através de um reconhecimento de imagem, e sugere a compra deles em conjunto
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