Precisamos falar sobre: a tercerização do corpo da mulher e o caso Luisa Mell

por Andressa Almeida

Com o caso Luisa Mell podemos chegar a várias conclusões, e levantar várias questões, que por mais que pareçam antiquadas ainda se fazem presentes de diversas formas.

O que significa quando um homem, com quem você é casada há 10 anos, autoriza um procedimento estético, SUPER INVASIVO, no seu corpo sem a sua autorização? No mínimo, bem no mínimo, a normalização de achar que o corpo da mulher é um objeto, que é propriedade sua e logo pode fazer o que bem entender com esse corpo, sem nem consultar quem vive nele. Sim, muito bizarro. Porém, historicamente falando, não é novidade que os homens, por muitas vezes, se sintam no direito de invadir o corpo de uma mulher, seja da forma que for. Há menos de vinte anos atrás, por exemplo, a virgindade da mulher ainda era considerada direito do marido, isso mesmo, a virgindade era vista como parte do "seu patrimônio" e era levada em consideração na hora de aceitá-la como sua esposa, ou não.

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"Ao longo de seus 85 anos de vigência, o Código Civil de 1916 permitiu a anulação de inúmeros casamentos. Não existem estatísticas precisas, mas os livros de jurisprudência - que transcrevem apenas os casos mais relevantes - publicaram algumas centenas de casos." Fonte: Folha de Londrina, 14 de Agosto de 2001

Pois é, homens podiam exigir exames que comprovassem a virgindade de "suas mulheres" e, caso o exame constasse que a mulher não fosse virgem, por meio de seu hímem, o casamento poderia ser anulado.

Dentro desse tema me fiz alguns questionamentos. Já que tento sempre trazer aprendizados para minha vivência, e falo muito sobre autoaceitação, será que isto contribuiu para a normalização de opinarem sobre nossos corpos? E, uma vez que achamos comum pessoas comentarem sobre nossos corpos, acabamos repetindo o mesmo comportamento? E quando familiares fazem comentários (não solicitados) sobre nossos corpos, será que é porque historicamente nos impuseram essa condição de ouvir que existe um padrão que devemos seguir esteticamente? Com certeza não tem como separar uma coisa da outra.

No processo de autoaceitacão sabemos que, quando um familiar faz uma "ingênua" observação sobre nossos corpos, "para nosso próprio bem" ou "por amor", pode ser devastador. Mas aí, o que fazer diante disso? Como nos livramos dessa chuva de pitacos e como fazer com que isso não afete nossa saúde mental?

Acho que infelizmente, ou não, a resposta está no que a Luisa Mell fez. Pedir a separação. Sim, é muito difícil pois o motivo destas opiniões, e pitacos, sobre nossos corpos machucarem tanto é porque partem justamente de pessoas que consideramos importantes em nossas vidas. Mas, no caso, quem está valorizando mais esse "amor" e "consideração"? Penso que talvez devêssemos nos perguntar sempre o quanto de amor você está recebendo dessa pessoa que "TE AMA".

O buraco pode ser cavado e cavado que demoraremos para chegar ao fim, mas a questão é; até quando vamos permitir que nos invadam dessa forma, que autorizem até uma lipoaspiração em nossos corpos sem a nossa permissão? Na verdade acredito que hoje nem seja mais essa a pergunta, pois permitir a gente não permite, mas até quando vamos ter que tolerar homens e outras pessoas falando sobre nossos corpos? Até quando vamos achar que realmente existe um padrão a ser cumprido? Afinal, um padrão de "corpo perfeito" existe apenas no mundo das ideias e as possibilidades podem ser infinitas na imaginação, logo este padrão não existe de fato.

No discurso é fácil acharmos tudo isso um absurdo mas na prática ainda nos machucamos, nos punimos, nos culpamos e nos colocamos em situações de risco para alcançar esse "padrão". Até de menina virgem! 

E nós? Será que não devemos também nos divorciar do que acreditamos ser o ideal, assim como Luisa Mell? Tudo é relativo, logo, você pode ser bonita, perfeita, bela e gostosa como é agora.

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