Precisamos falar sobre dívidas e educação financeira
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Precisamos falar sobre dívidas e educação financeira

Oi, meu nome é Giulia, eu tenho 22 anos e sou endividada. Nunca imaginei que explanaria isso para o mundo, mas sim. Me endividei há 3 anos atrás, com cartão de crédito e cheque especial, unicamente porque nunca tive uma educação financeira, não sabia controlar e organizar meu dinheiro e muito menos como funcionavam juros e taxas do banco. Eu sei que no momento você deve estar se questionando da minha inteligência e de como eu pude criar uma dívida (relativamente alta) logo no início da vida adulta, mas por incrível que pareça, isso é extremamente comum e só no meu ciclo de amigos, tem mais 4 pessoas na mesma situação que eu.

Tudo começou quando meu banco me ofereceu um cartão de crédito, com um limite super alto para quem na época tinha um salário de estagiária. Eu fiquei super animada, claro e lembro que passei esse primeiro mês com meu cartão, comprando várias coisas, saindo para jantar várias vezes na semana e somente me locomovendo de Uber. No final do mês, quando a fatura chegou em casa, eu lembro que chorei escondida no quarto pois não tinha dinheiro para pagar nem 1/3. Não contei para os meus pais, por pura vergonha, paguei o valor mínimo e segui com a vida. No mês seguinte, a fatura foi aumentando, e novamente eu paguei o valor mínimo, isso rolou por vários meses, até que chegou um momento que eu não tinha mais dinheiro nem para pagar o valor mínimo e foi quando eu usei meu cheque especial para pagar minha fatura do cartão de crédito. A partir daí você já pode imaginar, virou uma bola de neve, os juros (extremamente altos e abusivos, diga-se de passagem) me engoliram e quando eu vi, já tinha estourado o limite dos dois.

Só quem já passou por algo semelhante e se enrolou financeiramente puramente por falta de organização e educação financeira conhece a sensação horrível que é. Passei meses extremamente envergonhada e triste, mal dormia pensando e repensando como iria resolver minha situação. Não contei para absolutamente ninguém, muito menos para os meus pais, porque não queria que eles arcassem com isso. 

Quase 1 ano depois eu recebi uma carta do banco em casa, o valor da minha dívida tinha triplicado, meus pais descobriram, meu nome estava sujo e na minha cabeça minha vida tinha acabado aos 20 anos. Acredite, é assim que você se sente numa situações dessas. Acabei parcelando minha dívida e a pago até hoje. 

É claro que eu assumo minha porcentagem de culpa, eu fui totalmente descontrolada e irresponsável nos meus gastos e mereço sim pagar por aquilo que gastei. Mas se paramos para pensar em quão comum isso é, veremos que a falta de educação financeira é um problema sociocultural brasileiro. Saímos das escolas direto para as faculdades e depois para o primeiro emprego, tudo isso sem ter a menor noção de como "ser adulto" e organizar nossas finanças. Por isso é tão normal nos descontrolarmos com nosso primeiro salário ou primeiro cartão de crédito, como foi no meu caso. 

Se paramos para pensar em quão comum isso é, veremos que a falta de educação financeira é um problema sociocultural brasileiro.

Antes de tudo, tenha em mente que não é vergonha nenhuma ter dívidas e que sua vida não acabou. Você não precisa se esconder ou achar que é menos do que os outros por dever alguma coisa ou ter se enrolado financeiramente. Se você não consegue lidar ou solucionar isso sozinho, peça ajuda! E não precisa ser uma ajuda financeira, peça à alguém para te ajudar a se organizar, se planejar e juntar dinheiro. Eu por exemplo, pedi para uma amiga que trabalha no ramo financeiro, me ajudar a criar uma planilha de gastos. Saber lidar com dinheiro é indispensável para uma vida tranquila, longe de problemas. 

Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o número de endividados bateu recorde em Abril desse ano, chegando em 67%, ou seja, praticamente sete em cada dez brasileiros possuem dívidas ativas. É claro que isso se intensificou por conta da pandemia, mas antes o número já era alto, chegando a 60%. O Brasil é hoje, um dos países com o maior número de endividados no mundo e isso está diretamente ligado à falta de educação financeira, que deveria estar presente em todas as fases de nossa vida profissional e escolar. 

Por mais triste que seja, dívidas é a realidade da maior parte dos brasileiros e eu ainda estou longe de ser um exemplo de educação financeira. As vezes me pego extrapolando na fatura do cartão e gastando mais do que deveria, mas tento cada dia ser mais organizada e responsável. Tenho estudado cada vez mais assuntos em torno da vida financeira, pois independente de gostar ou não, eventualmente todo mundo vai precisar lidar com dinheiro e quando essa hora chegar, é bom você estar preparado, para não cair numa furada igual eu. 

Caso você não saiba como começar a se organizar ou colocar sua vida financeira nos eixos, existem diversas plataformas e perfis que podem te ajudar. O PUSH, em parceria com a Carol Sandler, do Finanças Femininas, lançou a série "Um PUSH na sua vida financeira". Clique aqui e confira a apresentação do conteúdo.

 

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