O aplicativo que bomba nos celulares de muitas pessoas, o Facetune, consegue não apenas editar as imagens no celular como também gerar 1001 sentimentos nos seus usuários. De felicidade até insatisfação, o app impacta nas percepções e sensações daqueles que o utilizam e nós precisamos conversar sobre isso! Sem julgamentos, mas, sim, QUESTIONAMENTOS.
Conversei com a Andressa Almeida, nossa colaboradora do Steal the Look, e Lucas Nacif, estudante de publicidade, para conhecer melhor os contextos e motivos que os fazem, ou já fizeram, utilizar o Facetune para, especificamente, realizar ajustes e algumas alterações em si próprios. Independente do que eles mudam em seus corpos, o importante nesse papo foi pensarmos no por que, não só eles, mas a sociedade atual faz e, por vezes, se mostra dependente disto. Vamos nessa?
O primeiro contato dos entrevistados com o aplicativo foi, resumidamente de surpresa - "parecia o aplicativo perfeito para as minhas neuras e, aspas, imperfeições, conta Andressa. Tanto ela, quanto Lucas afirmam que depois do conhecimento, começaram a usar o app sem parar: suavizar a pele, emagrecer, clarear regiões do corpo e até aumentar o coque de cabelo foram alguns dos exemplos.
Perguntei o que eles sentiam ao ver o resultado das edições e as respostas que obtive não foram das mais simplificadas - inicialmente a sensação era de alívio e satisfação, porém, com o tempo, ou até mesmo já num segundo instante, tal efeito (aparentemente) positivo, passava para algo mais complexo: frustração.
Em complemento, Andressa disse: "ficava um sentimento de 'poxa, queria ser assim na vida real' e isso é muito perigoso, pois sem perceber, isso reforça várias crenças sobre ter o corpo perfeito e inalcançável".
Não que o aplicativo seja um grande vilão, ele é apenas uma ferramenta. O perigo mora justamente na nossa cabeça, onde o app pode se tornar um gatilho para a insegurança e dependência de um mero filtro sobre a nossa imagem, trazendo a tona pressões de uma falsa ideia de padrão de beleza, como se isto naturalmente existisse e você, diferente de todo o resto, estivesse fora. Pedi, a eles que me compartilhassem algumas imagens que editaram e suas respectivas versões originais, para realizar um comparativo. Veja só:
Eu demorei um tempo para pontuar as diferenças. Algumas mudanças foram mais fáceis por estar com a foto lado a lado e outras tão sutis que só tomei conhecimento porque eles me falaram. Mas, no final de tudo sabe o que vi? Andressa e Lucas.
As alterações nas fotos, não são nem um pouco capazes de, no momento em que paro para pensar neles, eu ter minha percepção - sobre quem eles são e da beleza que vejo neles - mudada. Nós mesmos estamos tão atentos aos defeitos que não damos a atenção para o resto que talvez seja muito mais marcante para aqueles ao nosso redor.
Bom, os recursos do Facetune promovem, de fato, um conforto no âmbito do bem estar em algum momento ou vários, não podemos negar, e isso (na verdade tudo isto) não deve ser hankeando como o "prós e contras", a fim de chegarmos a uma conclusão se o aplicativo é benéfico ou maléfico para nós. Em verdade está tudo misturado e andando lado a lado. A fluidez dessas sensações negativas e positivas são transitórias e, sem a intenção nenhuma de discriminar o aplicativo ou as pessoas que o usam, o importante é deixar bem claro que não estamos sozinhos nisso. Não é só você que tem alguma coisa que gostaria de mudar, que prefere não evidenciar para os outros...
Diariamente, estamos em busca de nossas melhores versões, seja na edição de uma foto, no nosso trabalho, formas de relacionamento, atitudes... e isso é super válido! Buscar uma versão melhor de si próprio não é viver uma mentira, é entender que vivemos em processos constantes e devemos nos permitir e aceitar as descobertas que podemos ter nesse caminho. Aceitação nunca foi sinônimo de estagnação.
Andressa confessa que ainda fica brincando com o aplicativo para se ver de outras formas mas não posta mais nenhuma foto alterada em seu instagram em respeito a si mesma e por suas seguidoras pois quer dar força para não termos medo de nos aceitarmos e falarmos disto normalmente. Lucas diz que continua utilizando o aplicativo. Eu, continuo desejando que o questionamento continue e a beleza seja mais conversada e aberta pelo mundo, sem limitações ilusórias <3