Precisamos Falar Sobre: Mídias Sociais

por Carol Carlovich

Falar sobre Mídias Sociais não é fácil - mas é preciso. Em um mundo cada vez mais conectado, é difícil distinguir quais das infinitas atividades que desempenhamos no universo digital são a fonte de alguns sintomas críticos que temos desenvolvido nos últimos tempos. Ansiedade, comparação, cyber-bullying, FOMO (fear of missing out, ou medo de ficar por fora), depressão, stress e tantos outros efeitos colaterais podem estar diretamente ou indiretamente associados ao demasiado tempo que passamos conectados e nos dedicando a imprescindível "presença online". O assunto ganhou ainda mais corpo quando o Instagram anunciou a possibilidade de acabar com os likes - atitude que já está sendo testada em todo o território do Canadá. A empresa alegou que a métrica estava sendo desvirtuada pelos usuários e que o conteúdo deveria prevalecer sobre a ansiedade de alcançar (ou não) grandes números de visibilidade.

Segundo pesquisa realizada pela instituição de saúde pública do Reino Unido, Royal Society for Public Health, o Instagram é a rede social mais nociva à saúde mental dos jovens, que experimentaram um aumento de 70% nas taxas de ansiedade e depressão nos últimos 25 anos. O estudo mostra que as redes têm um grande impacto no sono, na autoimagem e nas relações interpessoais dos indivíduos que gastam mais de 2 horas diárias em frente às telas. Não é à toa: a “vida perfeita” compartilhada em feeds e stories faz com que, muitas vezes, nutramos expectativas distorcidas sobre nossas próprias realidades e, em última instância, esse perfeccionismo se une à baixa autoestima, desencadeando efeitos perigosos.

Mas, em uma sociedade conectada 24 horas por dia, 7 dias por semana, e em que as redes sociais são ferramentas importantes para quase todo tipo de comunicação, marketing e serviço, como podemos lidar com essas questões? Nosso time decidiu jogar a bola em campo e ouvir a opinião de leitoras, amigas e ate mesmo os nossos próprios posicionamentos quanto a questão. Reunimos todos aqui, esperando que você também embarque na discussão:

Há algumas semanas, nossa co-founder Manuela Bordasch chegou no escritório com uma notícia: havia tomado a decisão de comprar um telefone celular que estava muito longe de ser smart. Primeiro, todas nós achamos a história engraçada e particular, mas depois de alguns bons minutos discutindo o assunto em grupo, entendemos o que ela queria dizer quanto a "desconexão fora do horário comercial". Ela conta: “Fora me desconectar do mundo digital, pouquíssimas pessoas agora têm meu número pessoal. Tomei essa decisão pra estar mais presente na vida dos meus amigos e familiares, pois ao mesmo tempo que a tecnologia pode ser usada para o bem e pra te aproximar de pessoas distantes, ela tem o poder de te distanciar de quem está ali do seu lado. Infelizmente o whatsapp se tornou uma ferramenta extremamente invasiva e está cada vez mais difícil conseguir priorizar o que realmente é urgente e o que pode esperar até o outro dia.” 

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Foto: Steal The Look (Facebook)


Nossas leitoras também se juntaram ao diálogo e dividiram conosco - em um grupo fechado no Facebook, que criamos justamente para trocar ideias - experiências, relatos e sentimentos em relação as redes. Muitos depoimentos relatavam desconforto, ansiedade e a construção de um relacionamento distorcido com o Instagram, principalmente. Quase como uma obsessão, a presença online, segundo muitas leitoras, tornou-se sufocante. Mas algumas outras também contaram como conseguiram restaurar uma vivência saudável no mundo digital e como, de alguma forma, as pessoas que acompanham exercem uma boa influência em suas rotinas. Buscamos entender, a partir daí, o ponto de ruptura entre os fatores de inspiração, comunicação e conectividade e os tantos males que citamos aqui. Até que ponto as redes sociais funcionam como algo positivo? E a partir de que momento elas o deixam de ser?

Acreditamos que, em meio a tantas opiniões, é importante considerar sempre uma prioridade as experiências particulares. E é de igual importância para nós, usuárias das redes sociais e muitas vezes dependentes delas em nossos trabalhos, não termos medo de nos dar um tempo para refletir sobre qual conteúdo é valido ou não para nós. Mais do que isso, precisamos ponderar com muito cuidado o que este ou aquele conteúdo gera em nós. Lembrar que as fotos, vídeos, stories que são publicados passam por seleção e filtros é imprescindível para entender que "a vida perfeita", as festas, eventos, mimos, almoços saudáveis e idas à academia não são, em muitos dos casos, o que parecem ser. 

A verdade é que todos nós filtramos nossas experiências antes de publicá-las online. Manter isso em mente enquanto estamos rolando o feed e consumindo experiências alheias nos ajuda a fugir da comparação com algo que, na verdade, foi fabricado especialmente para aquela plataforma. E é claro que selecionar e filtrar os melhores momentos das nossas realidades não é uma atitude ruim - é apenas a lógica do espaço digital. No entanto, já temos encontrado muitos perfis que exploram a possibilidade de compartilhar vulnerabilidades, dificuldades, detalhes menores de um dia a dia comum que todos nós compartilhamos, como um atraso para uma reunião, uma espinha indesejada ou um almoço no McDonalds. Particularmente, tenho percebido que, quanto mais "vidas reais" eu acompanho, menos sinto a ansiedade de viver uma vida perfeita.

Acredito que há muitas - das mais diversas - soluções para essas questões. Há quem prefira se distanciar, deslogar das suas contas e passar um tempo offline para realinhar seus pensamentos, o que é extremamente válido. Há quem faça a famosa "limpa" nos perfis que acompanha e escolhe permanecer apenas com os quais se identifica, os que transmitem algo válido e benéfico. Há quem queira dialogar e conversar sobre como podemos melhorar nossa vivência digital de uma forma saudável, sem que nosso bem estar seja prejudicado. Acho que, particularmente, faço parte de todos esses grupos, cada um em um dia diferente. No entanto, percebemos como time que a solução que aparenta ser mais razoável é a da reeducação digital. Assim como uma reeducação alimentar, que se dá a longo prazo e sem muitas restrições, é necessário que nós, usuários das redes, reaprendamos a consumir aquilo que nos nutre e nos supre nas quantidades certas. Claro que ás vezes vamos ingerir conteúdos não tão bons. Afinal, essa é a vida real. Mas no geral, temos que reaprender a colocar dentro de nós aquilo que faz bem à nossa saúde mental - acima de tudo. Nem de mais, nem de menos: na quantidade exata para que tenhamos uma vida mais leve e mais integralmente vivida.

Precisamos, realmente, falar sobre as mídias sociais, e haveriam ainda muitos outros tópicos a serem discutidos. Esperamos que a nossa conversa não pare por aqui e que esse canal que estabelecemos com as nossas leitoras - e que olha, acontece por meio das plataformas digitais! - seja um meio saudável de comunicação, crítica, inspiração e compartilhamento. 

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