Precisamos falar sobre: Simone Biles, pressão e desgaste emocional

por Giulia Coronato

Um dos assuntos mais comentados dos Jogos Olímpicos de Tóquio, definitivamente está sendo o afastamento de Simone Biles das competições solo da ginástica olímpica. A atleta revelação americana era uma das grandes apostas ao ouro em diversos segmentos da modalidade, mas acabou dando um passo atrás e desistindo das competições para priorizar sua saúde mental. Após assumir que a pressão e o estresse sofrido eram intensos demais e prejudicavam sua saúde desde o início de sua carreira. 

Apesar de ter sido visto como um ato de coragem pela maioria dos atletas olímpicos e por seus apoiadores, muitas pessoas - principalmente no Brasil - encararam a abdicação de Simone Biles como fraqueza e como desistência, e não como uma priorização de sua saúde física e mental. 

Apesar de ter voltado atrás em uma das provas que tinha escolhido não participar, todo o rebuliço em torno do assunto, nos faz questionar como, ainda hoje, a saúde mental e psicológica não é levada a sério e mesmo sendo capaz de nos prejudicar fisicamente, nosso emocional ainda é visto como secundário. 

_twisties

O que muita gente não entende, é que o estresse e a pressão colocados em cima de uma das maiores atletas do mundo, proporcionou efeitos concretos, fazendo-a colocar em risco tudo o que havia construído. Não era apenas medo de decepcionar alguém ou só exaustão - mesmo se fosse, já deveria ser motivo suficiente para ela parar. Mas, os sintomas psicológicos eram tantos, que causaram uma espécie de vertigem na atleta, que tira seu equilíbrio e a faz perder noção de espaço e de seu corpo durante seus movimentos. A desconexão entre cérebro e corpo como a que Biles sofreu tem um nome: twisties

Os twisties representam o momento em que nosso corpo deixa de corresponder aos estímulos do cérebro. Não é frescura, não é falta de treinamento, não é despreparo psicológico e mental. É um bloqueio que atinge não só atletas, como diversas pessoas que, de uma hora para outra, apresentam uma queda enorme de desempenho. O caso de Simone Biles era ainda mais grave, já que o twisties representava um risco da atleta perder o controle sobre o que seu próprio corpo fazia quando estava no ar, girando a até três metros do chão! O risco podia ser fatal. Apesar de atípico por ser tratado abertamente por uma atleta olímpica, é um caso clássico e infelizmente comum, quase como um burnout, o que nos faz questionar, será que uma profissão realmente vale nossa saúde física e mental?

A ginasta Aleah Finnegan disse: "Eu tenho twisties desde os 11 anos de idade. Não posso imaginar como deve ser assustador, se acontecer durante uma competição", afirmou a ginasta norte-americana, após o caso da outra integrante da sua federação. "Você não tem nenhum controle sobre seu corpo e sobre o que ele faz", explicou. No entanto, ela pontuou ser "difícil explicar a situação para alguém que não faz ginástica".

It girls - Simone Biles - Simone Biles - Inverno - Street Style - https://stealthelook.com.br
Foto: Simone Biles (Reprodução/Instagram)


Casos como esse nos mostram o que realmente está em jogo quando não cuidados e não valorizamos nossa saúde mental, e quais riscos isso pode impactar. Vivemos em uma sociedade onde a alta performance é a meta e representa uma vida bem sucedida, mas até que ponto isso vale a pena? E o que precisamos sacrificar para alcançar números acima da média? Cada vez mais, nossas profissões exigem esforços olímpicos, a pressão e a tensão na maioria das empresas é tão alta, que o trabalho se tornou a fonte principal de adoecimento psicológico na atualidade.

A tenista Naomi Osaka é outra atleta olímpica que falou abertamente sobre o desgaste do esporte em sua saúde. No último torneio de Roland Garros, Osaka decidiu não participar das coletivas de imprensa que acontecem após as partidas de tênis. O motivo? Cuidar de si mentalmente. 

Estamos vendo pela primeira vez atletas e pessoas públicas falando abertamente sobre saúde mental, e não há como medir a importância desse discurso sendo aberto! Quanto mais conversarmos e trocarmos, mais menos iremos nos adoecer e nos cobrar o impossível. O posicionamento de Simone Biles e Naomi Osaka tem muito mais importância do que qualquer medalha olímpica, pois ele nos lembra a necessidade de impormos limites quando se trata da nosso emocional e da nossa saúde psicológica, e o quanto poder um simples "não" pode carregar. 

Você também vai gostar

Utilizamos cookies de estatísticas de visitas para melhorar sua experiência de navegação. saiba mais em nossa política de privacidade.

Utilizamos cookies de estatísticas de visitas para melhorar sua experiência de navegação. saiba mais em nossa política de privacidade.

concordar e continuar