Quão jovem é muito jovem para uma rotina de skincare?

por Inaê Ribeiro

Já fazem alguns meses que o TikTok foi tomado por pré-adolescentes do mundo todo compartilhando sua rotina de skincare. Retinol, ácidos, séruns e diversos hidratantes fazem parte do cuidado diurno e noturno das mini influenciadoras, que levam a sério o cuidado com a pele e foi justamente essa dedicação que levou ao debate: quão jovem é muito jovem para o skincare?

A Geração Alpha - crianças nascidas a partir de 2010-  nasceu com a internet. Os influenciadores digitais fazem parte de suas vidas desde a infância, logo, não é surpresa que agora estejam presentes no TikTok, desejando os produtos que estão bombando, mas a surpresa vem quando elas, que possuem cerca de 10 anos, passam a construir rotinas de skincare baseadas no que as meninas mais velhas estão usando. É justamente a combinação da idade com a influência que traz problemas mais profundos do que imaginamos.

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Foto: Natalia kyy (Reprodução/ Instagram)


A questão mais óbvia são os efeitos colaterais que uma rotina de skincare errada pode trazer à pele. Segundo a dermatologista Dra. Karen Korkes, “o grande perigo é que não existem estudos a respeito dos efeitos dos séruns e retinol no rosto da criança, que é composto por uma pele mais fina que a dos adultos. Pensando que o retinol é um ativo destinado à peles que apresentam sinais de envelhecimento, não faz sentido que ele esteja presente no skincare de meninas tão jovens.”

O uso de produtos errados, em excesso e, principalmente, sem recomendação médica, pode trazer diversos problemas para a derme, como oclusão dos poros, levando a formação de acne, por exemplo. Enquanto ainda existem produtos que trazem problemas mais específicos. Os ácidos, presentes em diversos produtos viralizados, se usados da maneira incorreta, criarão queimaduras, além de ressecar e machucar a pele. Por isso, os dermatologistas enfatizam a importância do cuidado na aplicação e seguir as recomendações médicas, algo que não está presente nos vídeos no TikTok.

A também dermatologista, Dra. Silvia Quaggio esclarece que não é necessário que as meninas eliminem totalmente a rotina de skincare, mas que equilibrem esse cuidado, levando em consideração a idade e tipo de pele, "escolhendo produtos adequados ao tipo de pele e usando-os com moderação. Se houver preocupações específicas, é aconselhável consultar um dermatologista para orientação. Equilíbrio na rotina de cuidados é a chave para garantir a saúde da pele adolescente."

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Foto: @rachcutiepie (Reprodução/ Instagram)

é preciso que o interesse pela beleza deixe de ser tratado como algo fútil e que, ao mesmo tempo, a gente ouça as necessidades das adolescentes

Mas além da parte estética é preciso também analisar os efeitos psicológicos que essa obsessão com uma rotina de skincare pode trazer. Há anos, meninas adolescentes - e mulheres de todas as idades - enfrentam as consequências que os padrões de beleza causam no corpo e principalmente na mente. Ansiedade, depressão, dismorfia corporal e facial, obsessões de beleza, automutilação e até mesmo suicídio, são apenas alguns dos fatores causados pela busca do algo inalcançável. É justamente isso que faz com que o debate seja necessário.

É preciso que o interesse pela beleza deixe de ser tratado como algo fútil e que, ao mesmo tempo, a gente ouça as necessidades das adolescentes, instruindo dos riscos para a pele e saúde mental que uma rotina de skincare errada pode trazer.

Claro que as redes sociais não são as únicas culpadas, o capitalismo possui um papel importante nessa construção e desejo. Nós já estivemos lá, desejando um produto que nossa amiga usou e amou ou que aquela influenciadora alegou ter mudado a sua vida. Entretanto, o causador do problema agora também sofre com as consequências. 

Nos EUA, iniciou um movimento chamado “Sephora Tweens”, crianças e pré-adolescentes invadiram as lojas da Sephora e passam horas utilizando todos os testers, fazendo misturinhas e deixando as embalagens sujas. Sim, os produtos em exposição de marcas como Drunk Elephant, Sol de Janeiro e Rare Beauty, estão sendo danificados pelas pré-adolescentes que buscam pelas embalagens fofas, ou testar as misturinhas e produtos que estão fazendo sucesso no TikTok.

@user372928483919

condolences to all sephora employees that have been bullied by them🙏🏼🙏🏼

♬ all american bitch - gray

A força da rede social é tão grande que atualmente ela é um dos maiores movimentadores do mercado de beleza. Em entrevista à Allure, uma vendedora da Sephora afirmou que grande parte dos consumidores chegam já em busca de um certo item que viralizou no TikTok, muitas vezes sem se importar se aquele item é destinado ao seu tipo de pele ou qual é a sugestão da vendedora. 

Mas qual é o pensamentos das pré-adolescentes? A Teen Vogue conversou com uma menina de 10 anos a respeito das visitas à Sephora e o fascínio da Geração Alfa pelos assuntos relacionados à rotina de skincare e maquiagem. “É apenas uma coisa que fazemos”, disse ela. “Entendi, as bonecas Bratz provavelmente eram populares quando você tinha 10 anos de idade. Mas eu sou uma criança [agora] e isso é popular. Este é o novo brinquedo que temos. Esta é uma nova geração, somos a Geração Alpha. E estou orgulhosa disso.”

Se para elas é apenas uma maneira de se divertir, para nós é um alerta. É necessário acompanhar o movimento de perto, para que a gente não crie mais uma geração de meninas obcecadas pela estética de uma forma nada saudável. Afinal, às vezes nem adultos compreendem os riscos de se seguir dicas de redes sociais, que dirá pessoas tão jovens que não possuem o discernimento para entender que nem sempre o que é compartilhado é verdadeiro ou foi criado apenas como uma forma de atingir engajamento.

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