Se em 2022 os “cores” nasceram nas redes sociais, e trouxeram novas estéticas e microtendências, em 2023, a origem do core do momento é um pouquinho diferente. Baseado na situação econômica mundial, o “Recessioncore” veio como o resultado que este tema desempenha na maneira que nos vestimos e nos relacionamos com a moda.
Segundo o relatório State Of Fashion, desenvolvido em parceria do Business Of Fashion com a McKinsey, um dos pontos de atenção para os próximos anos é o impacto deixado pelas crises política, econômica e sanitária que o mundo enfrenta desde 2020. O final da pandemia de COVID 19, levou euforia aos nossos closets!
Cores vibrantes, estampas, brilho, recortes, muitos acessórios eram mandatórios na hora de se vestir. A partir de agora, o que estamos vendo é o reflexo da recessão! De acordo com o mesmo relatório, a tendência é que as vendas do mercado de varejo de roupas sofra uma grande queda, quando comparado com o ano passado, desacelerando a indústria. Esse fato, acontece em decorrência de uma somatória de fatores, entre eles o aumento da taxa de juros e a hiperinflação. A consequência imediata é a diminuição do poder de compra do consumidor de classe média, que deve começar a ranquear suas prioridades quando o assunto é onde investir seu dinheiro.
Ainda dentro do tópico comportamento de consumo, é provável que algumas agendas guiem essa relação. A primeira é a sustentabilidade e a possível busca por produtos com significado, que traduzam a identidade pessoal. Um consumo mais saudável e consciente, pensado no futuro e no planeta como um todo. A segunda, que vai de encontro com esta, é a relação valor agregado x preço. Quando falamos de crise, existem dois comportamentos presentes, o primeiro é focado no preço, ou seja, quanto mais barato melhor. Já o segundo, mais ligado ao valor que aquele bem pode oferecer, um pensamento a longo prazo. A última agenda fica para o inconformismo com a realidade, um sentimento de impunidade e revolta que traduz o momento de crise.
Abrindo um parênteses nesse último, diversas vezes na história durante grandes crises nos deparamos com de contracultura. Em 2023, a narrativa vigente é essa revolta direcionada a elite e sua riqueza, que só cresceu nos anos de pandemia. Sendo muito provável, que essa ideia tome o conceito criativo dentro do entretenimento (alô, White Lotus). E aqui, podemos observar um paradoxo no mínimo curioso. Mesmo com a crítica e sátira em relação aos donos de grandes fortunas, ainda existe uma curiosidade em relação a esse lifestyle. Os herdeiros “old money” começaram a virar assunto entre a geração Z (nascidos entre 1995 e 2010), gerando conteúdos com muitos bilhões (rs) de visualizações no TikTok. A estética é luxuosa e discreta, nomeada “Quiet Luxury”, ou melhor o famoso: quem sabe, sabe. Peças bem acabadas, tecidos com ótima qualidade e marcas que a massa nem sabia que existiam. Virou cool ser nepo baby.
Traduzindo, na moda, a tendência é que comecemos a nos inspirar cada vez mais na década de 2010, deixando os anos 2000 e a nostalgia positiva de lado. Após a crise de 2008, o minimalismo voltou a se destacar, e é isso que aconteceu em diversas coleções durante a última temporada internacional. Vamos deixar o “dopamine dressing” de lado e tirar do guarda roupa os básicos essenciais, cores e modelagens clássicas e mais confortáveis.
Alfaiataria, oversized e padronagens clássicas, como xadrez e risca de giz, vem tomando as passarelas e os closets das fashionistas de plantão!
Inclusive, as marcas já estão se movimentando para colocar o pé no chão, substituindo grandes ícones maximalistas por conceitos mais despretensiosos. É como se saíssemos da era logomania e entrássemos na era “discrição acima de tudo”. O minimalismo também já tomou os red carpets, com celebridades quase sem acessórios, ou pelo menos sem os tradicionais diamantes no pescoço.
Enfim, do street style, aos tapetes vermelhos mais vigiados do mundo, a onda “menos é mais” vem tomando espaço, e mesmo nesse contexto pessimista, a moda continua rendendo. O look do caos é aquele essencial, clássico e sem grandes destaques. Afinal, como já diziam algumas teorias, quando o dinheiro diminui, os comprimentos aumentam.
Este texto foi produzido em colaboração com Sofismos.