Steal The Book: E se eu parasse de comprar?

por The Look Stealers

Que atire a primeira pedra quem nunca comprou roupa como uma recompensa por ter atingido um objetivo, para dar aquela levantada na autoestima em um dia triste ou mesmo para tentar esquecer uma tristeza. Se você já fez isso, também deve saber que essa alegria dura pouco e ajuda a criar uma relação, muitas vezes, tóxica com a forma como consumimos. Em "E se eu parasse de comprar?" a autora traz diversos questionamentos sobre consumismo e moda.

Joanna Moura é publicitária, produtora de conteúdo e sentiu na pele os efeitos negativos que uma simples ida ao shopping para espairecer pode causar na conta bancária. Foi em março de 2011 que a Jojo se viu no fundo do poço com um armário abarrotado de roupas - muitas inclusive nunca usadas -, uma conta bancária pedindo socorro há tempos e a sensação de não ter nada para vestir, quando surgiu a brilhante ideia de parar de comprar por um ano, numa tentativa desesperada de colocar sua vida de volta nos trilhos.

Mas como garantir que aquela pessoa, viciada em compras, conseguiria cumprir esse desafio tão difícil? Ao longo dos próximos 366 dias daquele ano bissexto, ela se propôs a documentar sua saga em um blog chamado “Um ano sem Zara”. Dessa forma, seus amigos e família - para quem a Jojo foi obrigada a abrir o jogo sobre a sua situação - poderiam monitorar o que acontecia e ajudar para que ela atingisse seu objetivo. Na época, o blog viralizou e ela virou um exemplo para muitas pessoas que se identificaram com cada palavra e desabafo escrito nos posts diários que alimentavam o site.

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Foto: Joanna Moura (Reprodução/Instagram)


10 anos após o desafio, a Joanna lançou o livro “E se eu parasse de comprar?”, onde ela relembra o período sem compras, as dificuldades, a montanha-russa de sentimentos e a sua evolução. A leitura é fácil, você sente como se estivesse ouvindo uma amiga contar sobre sua vida e ao longo das 200 e poucas páginas, a Jojo nos dá uma aula de consumo consciente, ao mesmo tempo que nos faz refletir sobre a nossa relação com a moda, vícios, força de vontade e coragem.

Particularmente, acompanho a Jojo desde a época do blog, lembro que conheci ele um curso de imagem pessoal que fiz enquanto estava na faculdade de administração e mesmo ela sendo alguns anos mais velha, me identifiquei com muita coisa que foi compartilhada ali. Inclusive, fiz meu próprio desafio de passar 6 meses sem comprar nada e foi uma experiência enriquecedora. Acessar a página todos os dias para ver o que ela tinha a dizer e o look escolhido, me ajudaram a criar uma relação mais saudável com o meu próprio armário e ter uma conta bancária mais feliz -  o que me permitiu realizar sonhos que dependiam justamente de uma organização financeira que eu não possuía, por comprar muito mais roupa do que eu precisava.

Então se você está em busca de um livro gostoso de ler e, que ao mesmo tempo, te faz pensar, “E se eu parasse de comprar?” precisa entrar para a sua lista de leitura.  Por último, mas não menos importante, acompanhar a Jojo nas redes sociais é um sopro de ar fresco dentro da internet. Você não vai se arrepender!

Nós ainda tivemos a oportunidade de ter uma entrevista com a Joanna, em que pudemos entender mais sobre a história dela e todo o processo que ela conta no livro.

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Foto: E se eu parasse de comprar? (Reprodução/Instagram)

em 2011 - quando decidiu criar o blog - você tinha 27 anos, hoje você faria o mesmo desafio de novo? ou mudaria algo?

Eu acho que foi a solução que encontrei na época e que deu certo pra mim. Hoje eu estou em um outro momento da minha relação com o consumo. Passar meses sem comprar é uma parte normal dessa relação atualmente, então não vejo sentido me propor aquele mesmo desafio novamente. Agora estou mais focada em fazer compras inteligentes, que me representem, que durem e que funcionem com o que eu já tenho. 

o que mudou na sua maneira de viver depois da experiência?

Muita coisa! Para começar eu saí do vermelho e nunca mais me permiti entrar naquele buraco novamente, mas o processo de voltar a comprar também foi um aprendizado e, até hoje, essa relação exige que eu esteja vigilante para não cair nas armadilhas que eu caía naquela época. Fora isso, o blog me abriu os olhos para essa troca que a internet pode proporcionar, esse acolhimento de encontrar pessoas que estão passando ou já passaram pelo mesmo que você e aprender com as experiências delas. 

hoje você sabe quais foram os motivos que te levaram ao consumismo exagerado?

Eu falo bastante sobre isso no livro. Acho que quando a gente está lá no meio do olho do furacão, comprando o que pode e o que não pode, gastando mais do que deve, convivemos demais com a sensação de culpa. Toda vez que eu passava o cartão, ela vinha como uma avalanche. Eu ficava envergonhada, me sentia burra e incapaz, mas com o tempo fui entendendo que muitas das influências que me levaram a criar aquela dinâmica com o consumo vinham de fora. Existe uma pressão enorme para que a gente consuma, para que a gente se apresente de uma determinada forma. Crescemos lendo revistas, vendo filmes e séries que estabelecem o consumo como entretenimento, que colocam a moda e as tendências como uma chave mágica para nos tornarmos pessoas mais bem aceitas, mais amadas, mais bem sucedidas. E isso tudo tem um efeito muito tóxico. 

quais ensinamentos você aprendeu com a experiência de não comprar nada por um ano?

Foram muitos, mas acho que o principal foi compreender que não há roupa nova que cure a falta de amor próprio.

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Foto: Joanna Moura (Reprodução/Instagram)

para qual tipo de pessoa você recomenda tentar passar por esta experiência?

Eu não acho que faz sentido recomendar o que eu fiz para ninguém. Porque sei que funcionou pra mim por conta de um cenário bem específico. Talvez se eu tivesse feito a mesma coisa no contexto atual a experiência não me funcionasse. O que eu recomendo é que as pessoas reflitam sobre a relação que elas têm com o consumo. Ela faz bem pra você? Ou te traz culpa, sofrimento e vergonha? Ela está te privando de fazer outras coisas? De realizar sonhos? Se for o caso acho que o mais importante é pedir ajuda de amigos, de familiares e de profissionais. 

quão importante foi ter o apoio das leitoras do blog?

Foi essencial. Foi incrível encontrar uma comunidade de pessoas, especialmente mulheres que me entendiam, que sabiam pelo que eu tava passando. Me senti acolhida e cheia de motivação de seguir adiante. Cumprir o desafio não era mais só sobre sair do vermelho, era também sobre dar esperança para essas pessoas que me acompanhavam de que era possível mudar.

como funciona sua relação com o consumo hoje?

Hoje tenho uma relação mais equilibrada com o consumo, mas ainda me exige muita vigilância. Não me considero curada, ainda tenho ímpetos de comprar coisas que eu não preciso só pelo prazer de gastar, mas hoje eu conheço meus gatilhos e sei lidar melhor com eles. 

qual conselho você daria para quem quer ter um consumo mais consciente?

Antes de tentar mudar é preciso entender como se consome, então o que sempre proponho como primeiro passo é uma autorreflexão. Como você consome hoje? E como você gostaria de consumir? 

quais suas “regras” para comprar peças novas?

Eu sempre espero alguns dias antes de efetuar uma compra. Deixo coisas salvas no carrinho de compras uns dias para ver se realmente era amor ou só empolgação do momento.

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