TBT: Antwerp Six

por Arthur Chini

Poucos designers têm uma reputação tão cultuada no fashion folklore quanto Ann Demeulemeester, Dries Van Noten, Dirk Bikkembergs, Dirk Van Saene, Marina Yee e Walter Van Beirendonck. A história já foi contada muitas vezes: em 1986, o grupo de designers recém-graduados na Antwerp Royal Academy of Fine Arts partiu apresentar algumas de suas criações em Londres, causando um impacto enorme no mundo da moda com suas criações avant-garde, completamente diferentes de tudo o que se havia visto até então. O termo Antwerp Six surgiu por que quase ninguém conseguia pronunciar o nome dos designers, e acabou entrando para o vocabulário fashion. O impacto dos belgas foi tão grande quanto o que os japoneses haviam feito alguns anos antes, com a Comme des Garçons e Yohji Yamamoto, que começaram a desconstruir todas as noções clássicas de moda e criação de roupas. 

Antwerp Six
Foto: Da esquerda para a direita: Marina Yee, Dries Van Noten, Ann Demeulemeester, Walter Van Beirendonck, Dirk Bikkembergs e Dirk Van Saene


Depois da primeira apresentação conjunta do grupo em Londres a fama já começou a se espalhar, e logo todo mundo queria saber o que esses seis jovens belgas estavam fazendo de tão incrível. Eles foram convidados a apresentar na Pitti, em Florença, e logo depois em Paris. Foi após a segunda apresentação em Paris que o grupo se dividiu, e cada um deles partiu para criar suas marcas homônimas. A importância dos acontecimentos de 1986 colocou Antuérpia no mapa fashion e criou espaço para novas gerações de designers belgas, como Raf Simons, Olivier Theyskens, AF Van Dervost e Kriss Van Assche. 

Antwerp Six
Foto: Rara foto do grupo tirada em meados da década de 80
Dries Van Noten
Dries Van Noten
Foto: Dries Van Noten Spring 2015 RTW

O designer do grupo que ficou mais famoso foi sem dúvida Dries Van Noten, principalmente por seu estilo mais acessível e de apelo universal. Dries sempre teve como landmarks os seus casacos de lã-fria, lenços, saias e calças volumosas, sempre bordados com enorme precisão e evocando culturas de regiões exóticas ao Ocidente, como Índia, Marrocos e Europa Oriental. Mesmo criando roupas para um público mais amplo, Dries mantém uma das teorias principais da Escola de Antuérpia em seu processo criativo: cada peça é pensada individualmente, e ele repudia a criação automatizada de coleções em cima de um manequim único. Ele busca bastante inspiração no mundo da arte, e o resultado sempre são estampas únicas que já viraram seu signature style

Marina Yee

Para Ann, outra designer do grupo que conquistou quase um culto de admiradores e seguidores, criar roupas é um processo poético. Uma das precursoras do estilo andrógino, Ann tem uma estética bem peculiar, emocional, que se encaixou perfeitamente no nicho de pessoas endinheiradas que buscam expressar sua personalidade através das roupas. Ao invés de criar modismos efêmeros, a designer sempre focou num estilo sóbrio: a maioria de suas peças são em preto, com uma silhueta desconstruída e inacabada, e prefere matérias-primas naturais e de altíssima qualidade, o que em parte explica o preço salgado de suas peças. A base seminal do estilo de Ann tras referências da estética punk, do gótico e da estética japonesa, com ênfase em uma sensualidade sutil. A coleção de verão de 1997 apresentada por ela em Paris é considerada uma das mais importantes e emblemáticas do mundo da moda, pois ajudou a modificar a silhueta extremamente sexy, que vinha desde o início dos anos 90, para algo mais leve e solto. Em 2013, Ann deixou a direção criação da marca, sendo substituida por Sébastien Meunier. 

Walter Van Beirendonck

Van Beirendonck é um designer único em vários sentidos. Suas criações são totalmente distringuíveis, suas coleções desafiam todas as noções pré-existentes sobre forma, cor, estampas e silhueta, com conceito e tecnologia inovadores. Ele é visto como um mestre por toda a nova geração de designers belgas, pois foi professor da Antwerp Academy of Fine Arts por mais de 17 anos, e foi o designer que mais investiu tempo e recursos na cidade. As roupas de Van Beirendonck são cheias de truques visuais, logos, slogans, personagens de desenhos animados e ficção científica, statements radicais e ideias fortes. É um tipo de moda que interage diretamente tanto com a pessoa que está vestindo, ao comunicar sua personalidade, quanto com o receptor, ao criar uma experiência visual única. Suas coleções são geralmente pequenas, e vendidas em sua flagship na Antuérpia e pouquissimos retailers ao redor do mundo.

Dirk Bikkembergs

A marca de Bikkembergs nasceu como essencialmente masculina. Ele começou criando calçados, que foram usados na famosa apresentação do grupo em 1986, mas em 1988 já apresentava uma coleção masculina completa em Paris. O designer foi um dos primeiros na cena da alta moda a usar a linguagem e o estilo do futebol para criar suas roupas, e ele praticamente inventou o termo sport couture para homens. Suas roupas são funcionais, high-tech, mas sem perder atenção a todos os aspectos de individualidade e construção, tão caros a todos os membros do Antwerp Six. Ele também criou uma das marcas de underwear mais cultuadas do mundo, e atualmente também apresenta coleções femininas.

Dirk Van Saene
Dirk Van Saene
Foto: Dirk Van Saene Fall 2008 RTW

Dirk Van Saene sempre foi o mais artístico do grupo. Ele falou certa vez que não precisaria estar no mundo da moda para desenlvover sua criatividade, e em muitas partes de sua vida se dedicou às artes plásticas, principalmente cerâmica. Ele começou a se envolver com a moda através de sua loja Beauties and Heroes, fundada em 1981 na Antuérpia, e já havia ganhado alguns prêmios antes mesmo da apresentação dos Antwerp Six em 1986. Depois que os outros designers do grupo estouraram, Dirk preferiu manter sua pequena escala de produção, por isso suas peças são raríssimas e muito difíceis de encontrar. Essa escolha foi para fugir da pressão do mundo da moda e seus calendários, o que, segundo o designer, comprometia seu processo criativo. Muitas das roupas de Van Saene são pintadas a mão, peça por peça, reproduzindo as estampas de quadros e cerâmicas do artista. Junto com seu parceiro, Walter Van Beirendonck, Dirk ainda vive na Antuérpia e vende suas obras de arte e roupas numa loja única no centro da cidade, a Walter.

Marina Yee
Marina Yee
Foto: Marina Yee

Marina Yee é a mais low-profile do grupo, e mesmo depois da visibilidade que o coletivo trouxe ela preferiu não criar uma marca comercial. Ela manteve por algum tempo a marca Marie, mas logo deixou o projeto de lado, e não teve uma presença constante no mundo da moda. Ela fez algumas collabs com marcas belgas, inclusive com Dirk Bikkembergs, e mantém um pequeno workshop na Bélgica, onde cria peças únicas, muitas vezes com materiais reciclados e retirados de peças vintage. 

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