Ter um namorado é constrangedor ou o problema é não saber amar sem se anular?
Recentemente me deparei com uma matéria da Vogue que questionava se ter um namorado é constrangedor nos dias de hoje. A reflexão me deixou pensando sobre o porquê de estarmos tratando o amor, algo tão essencial à vida, como se fosse um sinal de fraqueza. Afinal, quando foi que amar virou sinônimo de vergonha?

Crescemos em uma sociedade em que o relacionamento sempre foi contado a partir da mulher. Era ela quem sonhava, esperava e acreditava que o amor poderia superar tudo. Durante muito tempo, o namoro foi o grande símbolo de validação feminina. Estar solteira era sinônimo de fracasso e estar acompanhada significava sucesso.
Mas o tempo passou e as mulheres mudaram, ainda bem. O casamento deixou de ser destino e passou a ser escolha. A mulher moderna entendeu que não precisa de um relacionamento para se sentir completa. Só que, nesse processo, surgiram novos extremos.
O discurso de que “homem nenhum presta” ou de que “namorar é ruim” virou quase um manifesto. E embora essa reação venha de uma dor legítima, ela também ignora que amar pode ser bom, desde que você não se perca dentro do amor.
Existe também um aspecto geracional nesse comportamento. Vivemos uma era em que o low profile é o novo ideal e expor um relacionamento nas redes soa vulnerável. Há quem tema a inveja, o azar, a exposição ou até a falta de reciprocidade — se ele não postou, eu também não posto.
Amar virou algo que precisa ser calculado, medido e editado. Mas amar, no fim das contas, é risco. Sempre foi. E se existe algo verdadeiramente moderno, é ter coragem de viver esse risco.

Dentro da nossa sociedade, principalmente a brasileira, ainda há uma expectativa silenciosa de que a mulher viva em função do homem. É a parceira que acompanha o jogo de futebol, que adapta seus planos à rotina dele, que coloca as vontades do outro na frente das suas.
Durante anos, fomos ensinadas a acreditar que o amor verdadeiro exigia esse tipo de dedicação total. E quando um casal decide passar um fim de semana separado ou preservar sua individualidade, muita gente estranha, como se o amor precisasse de vigilância constante para ser real.
Mas o amor também é espaço. Namoro há três anos e vivo um relacionamento saudável em que cada um preserva o que lhe é importante. Todo sábado meu namorado joga bola, e eu não estou lá porque esse é o momento dele, com os amigos dele, por exemplo.
Acredito que isso também ajuda a preservar o relacionamento, porque cada pessoa precisa ter um tempo para si, para viver suas próprias experiências e manter sua individualidade.
Do mesmo modo, ele respeita o meu tempo com as minhas amigas, com o meu trabalho e com a minha família. Temos rotinas separadas e, mesmo assim, caminhamos juntos. É isso que mantém o relacionamento leve, com saudade e com vontade de estar junto sem precisar estar sempre no mesmo lugar.
Ter um namorado não é o problema. O problema é abrir mão de quem você é para sustentar a ideia de amor que esperam de você.
O equilíbrio é o que torna o amor adulto possível. Um relacionamento saudável é aquele em que ambos mantêm suas individualidades, o trabalho, os amigos, a família e o tempo só. Quando cada um continua inteiro, o amor cresce sem sufocar.
O relacionamento para a mulher moderna não tem o mesmo peso que tinha décadas atrás. Ele não é meta nem prisão. É uma escolha consciente entre duas pessoas que sabem que a vida não começa nem termina no outro. E isso sim é o que torna o amor bonito (e ainda muito cool).
