A oferta de produtos nunca foi tão grande e a capacidade de se destacar no mercado de moda como uma marca independente, sem o apoio de um conglomerado de luxo ou grandes investidores, é um desafio quase impossível. Quase, já que Simon Porte Jacquemus conseguiu o feito e sua marca homônima, ainda comandada por ele sem nenhuma ajuda externa, não para de crescer e conquistar novos fãs.
Uma combinação de estética bem definida, talento para marketing fora do comum e, claro, uma visão única traduzida em campanhas, desfiles e peças que despertam desejo, é a fórmula imbatível do francês que, aos 33 anos, se tornou um dos maiores nomes da moda mundial. Mas como ele chegou até aqui? É isso que a gente te conta a seguir em tudo o que você precisa saber sobre Jacquemus.
Simon fundou a Jacquemus em 2009, aos 18 anos de idade. Batizada com o sobrenome de solteira da mãe Valerie, sua grande referência, que faleceu em um acidente de carro, a marca é uma ode às raízes do designer. Customizar e reinterpretar peças clássicas do vestuário, como camisa branca, chemise, blazer, e a própria ideia do estilo francês, é uma de suas especialidades e paixões, tudo sob as lentes ensolaradas de suas origens no sul da França.
Dono do seu próprio calendário, ele apresenta somente duas coleções por ano, sempre combinando menswear e womenswear, e exaltando elementos que já se tornaram marcas registradas de sua estética leve, evidenciada por tecidos naturais, toques artesanais, cartela de neutros e terrosos com intervenções vibrantes, e uma alfaiataria relax e fácil.
A vibe meio praiana, meio bucólica é indiscutivelmente moderna e desperta desejo pela beleza e pela acessibilidade. Apesar dos conceitos elaborados, suas criações usáveis e com preço competitivo, abaixo de outras rivais do mercado de luxo, fazem com que a Jacquemus seja também um case de sucesso comercial.
A simplicidade e o sex appeal natural de suas criações são um trunfo, mas o grande diferencial de Simon está na capacidade de contar histórias, conseguindo comunicar os códigos da marca através de uma combinação de elementos cuidadosamente pensados para exibir o universo Jacquemus como um todo. E o palco favorito para amplificar a mensagem é o Instagram, identificando precocemente o potencial da plataforma.
O designer, que ainda divide a conta pessoal com a marca, sabe tirar máximo proveito de seu alcance, orquestrando ações geniais que viralizam, provando que, além da inspiração, o faro para branding e a direção de arte têm papel fundamental.
Os produtos irreverentes, sob medida para chamar atenção, são lançados com imagens de tirar o fôlego, como o chapéu gigante, o cardigan cropped com fecho em formato do logo ou a bolsa "Le Chiquito". Esta, aliás, foi a responsável por dar o pontapé inicial na febre por tamanhos mini, fazendo com que a linha de acessórios crescesse tanto que hoje as bolsas da marca representam mais de 50% do lucro do negócio.
Mas não basta ser bom nas redes sociais. A criatividade do estilista extrapola os limites digitais e outro fator indissociável de seu sucesso é o tino para escolher locações espetaculares para seus desfiles. Da inesquecível passarela em meio a um campo de lavanda na Provence, passando por uma lavoura de trigo, um cenário meio lunar em dunas na França, um detour tropical para o Havaí, até o mais recente no palácio de Versailles, as escolhas são deslumbrantes e garantia de conteúdo compartilhável.
Calma que não acabou. Para explicar o fenômeno precisamos falar sobre as ativações comerciais com pop-ups especiais realmente diferentes de tudo que você já viu, gerando filas e esgotando produtos sempre que ocorrem, seja toda em pink e funcionando por 24 horas para o lançamento da bolsa Le Bambino, ou nos Alpes, como a atual, localizada em Courchevel, famoso destino de ski.
Em 2023, as campanhas usando tecnologia 3D foram as estrelas e renderam à Jacquemus o momento mais viral do ano: um vídeo divulgado no Instagram com carros em formato de bolsas gigantes passeando por pontos turísticos de Paris parou a internet, fazendo todo mundo acreditar que a cena era real.
Atacando por diversas frentes, a estratégia vencedora não para por aí. A collab com a Nike estreou na metade do ano com um tênis que se tornou best-seller e sinalizou um passo importante em seu plano de expansão. Uma linha de roupas de cama em parceria com a dinamarquesa Tekla veio logo depois.
A consolidação no segmento de calçados e menswear é a atual prioridade, e a marca recentemente debutou sua linha infantil. O próximo mercado a desbravar deve ser o dos cosméticos, fincando o pé no irresistível e lucrativo mundo das fragrâncias e beleza.
Ainda que de forma lenta para a pressa dos nossos tempo, é uma das grifes que anda evoluindo no quesito diversidade, colocando nas passarelas, além de celebridades como Kendall Jenner e Gigi Hadid, corpos e belezas distintas e mais plurais do que estamos acostumadas a ver no mainstream. Ainda não é o suficiente, mas é um começo.
Nos últimos tempos, rumores cada vez mais fortes apostam na ida de Simon para o comando da Givenchy, mas por enquanto, nenhuma nota oficial a respeito. Vale lembrar que, em 2022, o designer postou em sua conta do Instagram a seguinte frase: "Há 5 anos, Anna (Wintour) me perguntou se eu gostaria de trabalhar para uma grande casa. Eu respondi que eu já trabalho em uma grande casa: chamada Jacquemus". Com ambição e criatividade de sobra, a única certeza é que a trajetória de Jacquemus está apenas começando.