O impacto de Marc Jacobs na moda é indiscutível, embora nem sempre seja totalmente reconhecido. O designer, cuja marca completa 40 anos de vida em 2024, atravessou várias fases ao longo da carreira. Graças à constante reinvenção, ele se mantém relevante até hoje. A seguir, contamos tudo que você precisa saber sobre Marc Jacobs.
Talento e criatividade são obrigatórios para obter sucesso, mas Jacobs possui um dom que o eleva ainda mais: um faro único que faz com que ele consiga identificar o zeitgeist e traduzi-lo de forma acessível e desejável em produtos. Conhecido pelo mix nova-iorquino cool com uma certa nostalgia, sua passagem por marcas como Perry Ellis e Louis Vuitton, além da própria marca, forma um legado e demonstra a importância de sua obra.
Formado em 1984 pela Parsons School of Design, uma das faculdades de moda mais prestigiadas do mundo, Jacobs conheceu seu futuro sócio, Robert Duffy, antes mesmo de se formar. No mesmo ano, apresentou sua primeira coleção. Embora tenha recebido o prêmio CFDA de novo talento em 1987, foi seu período na direção criativa da marca Perry Ellis que o colocou definitivamente no mapa.
Perry Ellis, a marca de sportswear americana, era conhecida pelo estilo mais clean e ficou sob o comando de Jacobs entre 1989 e 1992. Sua última coleção para a marca se tornou histórica, mas também foi o motivo de sua demissão.
Identificando a ascensão do movimento grunge, o estilista decidiu trazer a versão luxo da estética para a passarela: pensem em slip dresses de seda pura e flanelas made in Italy, com direito a Kate Moss e Naomi Campbell desfilando os looks. A coleção conquistou a crítica (ele ganhou outro CFDA), mas escandalizou os executivos da marca e muitos expoentes do grunge, que se sentiram ofendidos ao ver seu estilo reproduzido na alta moda.
Marc Jacobs, a marca, nasceu oficialmente em 1994, criada por Jacobs e Duffy. Mas foi em 1997, quando Bernard Arnault, CEO do grupo LVMH, o maior conglomerado de luxo do mundo, levou a dupla para a Louis Vuitton, que tudo mudaria novamente, dessa vez em uma escala monumental.
Na icônica casa francesa, onde ficou por 16 anos, Marc revolucionou não apenas a marca, moldando e modernizando a imagem de Vuitton, como também o mercado de moda como um todo.
Conhecida pelas bagagens de luxo, a LV não tinha prêt-à-porter nem uma linha de acessórios que oferecesse mais que produtos de viagem. Jacobs foi responsável por criar do zero a linha de roupas, além de lançar uma série de bolsas icônicas.
Visionário, Jacobs foi pioneiro em práticas que se tornaram comuns, como a colaboração entre moda e arte, trabalhando com artistas como Stephen Sprouse, Takashi Murakami e Richard Prince, criando uma ponte entre o nicho exclusivo da arte contemporânea e o mainstream. Os produtos, desejados até hoje, se tornaram itens de colecionador.
As colaborações não pararam por aí, abrangendo também o mundo pop, com estrelas do cinema e da música como Kanye West e Pharrell, que hoje é diretor criativo da divisão masculina da Louis Vuitton.
A identidade do prêt-à-porter da LV era irreverente e elegante. Entre os hits, destacam-se peças com gola Peter Pan, o uso das estampas clássicas da marca, como o quadriculado Damier em peças de vestuário, e até o conceito de pijama chique, que ganhou tração devido às coleções apresentadas por Jacobs. Mês passado, Zendaya usou um look direto do arquivo da Louis Vuitton, originalmente apresentado pela marca em 2013.
Os desfiles-evento em locações fantásticas, oferecendo verdadeiras experiências aos convidados, também são inesquecíveis.
Na marca própria, onde ele permaneceu paralelamente à direção da Louis Vuitton, ele é conhecido pelo estilo meio lúdico, meio retrô, emprestando um olhar bem-humorado a itens clássicos do armário. Em 2001, lançou a segunda marca, Marc by Marc Jacobs, investindo no conceito hi-lo, oferecendo produtos de todos os preços, de canetas e espelhos portáteis a peças de seda pura.
As campanhas de Marc Jacobs sempre deram o que falar, sendo irônicas e iconoclastas como o próprio designer. O casting sempre variado já incluiu sua eterna musa, Sofia Coppola, que inclusive teve uma colaboração com a LV durante o período de Jacobs na marca.
Chloe Sevigny, Dakota Fanning, Paris Hilton e até Victoria Beckham.
Do ponto de vista dos negócios, a dupla também foi estratégica, apostando alto no modelo direto ao consumidor, priorizando e-commerce e boutiques próprias. A entrada no mundo dos perfumes, com a fragrância Daisy, provou ser um sucesso e estabeleceu a força da etiqueta em mais um segmento. A linha de beleza viria logo em seguida.
Após sua saída da Louis Vuitton em 2013, muitas mudanças ocorreram. Em 2014, a parceria de Jacobs com Duffy, que durou 30 anos, foi encerrada, e em 2015, o grupo LVMH adquiriu a maior parte da Marc Jacobs. Com isso, a Marc by Marc Jacobs foi descontinuada, a maior parte das linhas foi eliminada, e atualmente existem apenas cinco lojas Marc Jacobs no mundo. No auge, a empresa chegou a ter mais de 250 lojas, além de linhas masculinas e infantis, uma livraria e produtos de maquiagem.
Em 2019, foi lançada a The Marc Jacobs, uma linha idealizada para reinterpretar os itens essenciais do armário segundo o olhar de Marc, incluindo a bolsa best-seller “The Tote Bag", bem como “from the marchive”, composta por reedições da marca. A coleção grunge para Perry Ellis foi uma das homenageadas com um replay.
Em 2020, o lançamento da Heaven by Marc Jacobs, focada no público da geração Z, introduziu o trabalho de Marc a uma nova geração. Inspirada na estética Y2K, a linha oferece versões de itens típicos da época, como baby tees e conjuntinhos no estilo Juicy Couture. As campanhas são estreladas por nomes como Bella Hadid e Devon Lee Carlson.
Atualmente, o estilista realiza desfiles anuais em Nova Iorque no mês de fevereiro, mas fora do calendário oficial da NYFW. A proposta é permitir que sua imaginação aflorar, explorando toda sua criatividade sem filtros. As peças apresentadas são vendidas exclusivamente na Bergdorf Goodman.
O futuro da marca ainda é incerto, com rumores de que o grupo LVMH esteja considerando a venda da Marc Jacobs.
Independentemente do que aconteça, o legado de Jacobs é indiscutível e merece ser celebrado. Aliás, a conta pessoal do designer no Instagram reflete bem sua persona extravagante e irreverente, e merece ser seguida. Por lá, ele compartilha desde dicas de livros e memórias até memes e looks do dia.
