Uma paixão, 3 mil óculos: conheça Chantal Goldfinger, a rainha do eyewear

por Karen Merilyn

Que os óculos são um dos acessórios mais legais que podemos usar, já falamos por aqui. Agora, imagine ter tantos óculos que você precisa de um closet só para ele, usar dois a três modelos diferentes por dia e ter as opções mais autênticas já existentes? Esse é o caso da Chantal Goldfinger, que é basicamente a rainha dos óculos. Em sua coleção há mais de 3.000 modelos, entre os de grau e os de sol. Uma paixão que começou despretensiosa, foi estimulada por uma aposta e hoje virou trabalho. 

Para saber tudo dessa história e conhecer um pouco da coleção de dar inveja a qualquer fashionista, nós conversamos com a Chantal sobre sua história com o acessório, o que tem de mais legal no closet de óculos, o estilo dela e como ela transformou os óculos em sua profissão. 

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Foto: Chantal Goldfinger (Reprodução/Instagram)


A paixão pelo eyewear é de família, não é por acaso que foi por causa do pai de Chantal que ela começou a se interessar pelo acessório. “Começou porque eu sempre quis usar óculos. Meu pai é usuário de óculos desde que eu me conheço por gente, sempre achei muito legal ele com aquele acessório e meu pai é super meticuloso. Ele é do tipo que tira os óculos para cumprimentar as pessoas, ele trata óculos que nem uma joia, sempre tratou. Eu sempre achei aquilo incrível”, contou. 

O primeiro par veio ainda na adolescência, quase como um ato de rebeldia em uma escola conservadora. “Eu era uma criança extrovertida e, de repente, quando eu entrei na adolescência, travei, sabe? Parei de falar, fobia social, não queria ver ninguém, essas coisas de adolescente. E aí, naquela época, eu estudava em um colégio super rígido, tinha uniforme para tudo, cabelo só podia ser cortado de tal medida, não podia usar um brinco maior do que uma argolinha. Bem quadradinho mesmo. E eu já era muito mais alta que as minhas amigas, já tinha um cabelo super cacheado, eu já me sentia diferente. E eu queria contar que eu era diferente, mas que eu era legal. Só que eu não podia fazer isso com moda, porque era uniforme. E daí eu pensei, se eu for atrás de um óculos, ninguém vai poder me mandar arrancar”. 

Mas, para conseguir os tão sonhados óculos, ela precisou tentar muito, inclusive “forçou” uma miopia, como costuma dizer. Reclamou com a mãe que não estava enxergando, dizia que estava com enxaqueca e até chegou a ir ao oftalmologista várias vezes. “Depois de quatro visitas no oftalmo sequenciais, ele virou pra mim e falou: ‘Chantal, se eu te der um óculos, você para de encher o saco de todo mundo?’ (risos) E eu falei: ‘Ah, eu acho que eu paro’. E aí ele me receitou esses óculos, fui com minha mãe comprar, e quando eu vesti essa armação, eu me senti tão protegida, sabe? Voltei a falar, levantar meu braço na sala de aula, interagir com as pessoas, porque aquilo para mim era uma proteção, mas enquanto era uma proteção, chamava atenção pra mim mesma. Era um óculos Gucci, azul, maravilhoso. E eu me sentia bem, porque eu via que as pessoas olhavam pra mim, o que eu queria, porque uma pessoa tímida tem dificuldade de sair da zona de conforto, mas eu também queria ser protegida para quando elas viessem falar comigo”, relembrou. 

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Foto: Chantal Goldfinger (Reprodução/Instagram)

A coleção de óculos só começou para valer alguns anos depois. Na época, Chantal tinha seis pares, que já chamavam atenção por onde passavam. E por conta de uma aposta ela começou a procurar óculos diferentes e compartilhar no Instagram os modelos que já tinha. “Comecei com essa história de óculos em 2015. Na época eu trabalhava na Globo, era produtora geral de novela, e aí eu fui descobrir que toda tarde o meu time fazia um bolão para saber a cor dos óculos que eu ia usar no dia seguinte, e eu achei isso bizarro. Falei ‘não, vou acabar com essa palhaçada, vou comprar um óculos bem diferentão e esses meninos vão perder o bolão e vão me dar o dinheiro, acabou’. Eu fui atrás de um óculos diferentão, não encontrei, fiquei super frustrada. Fui para a internet e não achei. Aí comecei o Instagram, mas era pra ser uma grande piada. Mas desde que o Instagram começou, fui me conectando com marcas, com designers, com criativos, e comecei a receber muitos óculos. Então não foi uma coisa que eu organizei, que eu planejei”, relembrou. 

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Foto: Closet da Chantal com mais de 3 mil óculos (Reprodução)

A partir daí, os óculos passaram a ocupar um grande espaço na vida — e na casa — de Chantal. “Conforme eu ia ganhando óculos, eu tinha que tirar a gaveta, sei lá, dos biquínis, das meias, sumir com eles, sei lá onde eu colocava, para colocar os óculos, para eles ficarem organizados. Chegou um determinado momento que eu tinha roupa espalhada pela casa inteira, no corredor, em quarto que não era meu, isso na casa dos meus pais. Começou a ficar uma zona, porque eu queria priorizar os óculos, por serem mais delicados. E aí que eu vi que estava meio caótico.” 

Foi então que ela decidiu se mudar para um lugar só dela, tendo como prioridade máxima ter um espaço para os óculos. Afinal, nesse ponto a coleção já passava dos 3.000 modelos. E foi assim que nasceu o closet de óculos. “É tipo uma ótica, assim, tem gavetas iguais em uma ótica, armários para guardar equipamentos, ferramental, estojo, etc. E eu separo eles por cor. Metade do armário é de grau e a outra metade é solar que também é graduado”, contou.  

No espaço tem até aparelho de limpeza, que é usado toda noite religiosamente. Afinal, os óculos precisam ser bem cuidados para durar a vida toda. “Para limpar eu tenho um ultrassom, onde eu coloco detergente neutro e água. Lavo eles no ultrassom toda noite. Aí durante o dia quando eles sujam só uso a flanelinha”.

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Foto: Chantal Goldfinger (Reprodução/Instagram)

Dentro do closet, como era de se esperar, tem milhares de modelos de todos os tipos e para tudo quanto é ocasião. “Tenho óculos para ginástica, para esporte, para esquiar, para festa, casamento, para de noite, tenho óculos mais esportivos, tenho pra tudo.” Mas, ainda assim, há alguns bem diferentões e divertidos que se destacam. “Tem uns feitos sob medida com pluma, que são bem diferentes, tem um enorme que imita fogo, que é uma bizarrice.” 

E na hora de escolher o modelo do dia, é todo um sistema para que haja uma rotatividade grande e todos sejam usados. E o critério para combinar é geralmente a cor. “Eu adoro misturar acessórios com óculos, então normalmente vou pela pela cor. Se o óculos é laranja, eu vou buscar um brinco laranja”, explicou.

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Foto: Coleção de óculos (Reprodução)

Com tantos óculos que daria para usar um por dia durante oito anos, dois meses e 17 dias sem repetir, Chantal garante que não tem um favorito — e que sua coleção só aumenta. “Isso aqui é tipo o coração de mãe, entendeu? Sempre cabe mais um. E eu tenho mesmo amor por todos eles, porque cada um tem uma história muito pessoal, cada um faz sentido em um momento específico da minha vida ou da história que eu quero contar. Como eu sou muitos personagens, cada óculos conversa com um deles, entendeu? Eu sou múltipla, então eu sempre tenho espaço para vestir um diferente”, garantiu. 

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Foto: Chantal Goldfinger (Reprodução/Instagram)

A partir de todo esse amor e expertise em óculos, não demorou muito para o hobby virar um trabalho. “Foi super orgânico, porque eu começava a contar as histórias, falar o que eu queria, o que eu gostava, o que eu achava e tal. E daí as marcas começaram a me procurar, falavam ‘Isso é interessante esse seu trabalho. Me explica aqui como é que a gente pode trabalhar junto’. E as minhas respostas eram sempre ‘eu não sei, me conta o que você quer que eu faça, vou ver se eu sei fazer’.” 

Agora, ela dá consultorias tanto para empresas, quanto para consumidores, além, é claro, de compartilhar muitas dicas no Instagram. “Hoje eu sou contratada para dar treinamentos em óticas. Eu dou bastante treinamento em ótica para o balcão, tanto pra falar sobre vendas, para falar sobre storytelling, para ajudar com a quebrar a objeção de vendas. E eu faço muito atendimento ao consumidor final, que não consegue achar um óculos que se sinta feliz, que não está satisfeito com o uso dos óculos. Então, basicamente, é um trabalho quase de educação do meio, sabe? De desmistificar os óculos, de mostrar para todo mundo que os óculos são um acessório legal. E eu desenho muitas collabs. Tem uma que eu estou desenhando com a Relic agora, que a gente vai lançar em Abril, que são umas peças assim, de chorar, de parar o trânsito”, explicou. 

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Foto: Chantal Goldfinger (Reprodução/Instagram)

Justamente por conta do trabalho, a coleção só cresce e não tem previsão de parar. E, segundo Chantal, é um orgulho que essa paixão tenha transformado tanto a vida dela. “Eu jamais imaginei ter uma coleção de 3.000 que não para de crescer. Eu não compro óculos hoje, eu recebo os óculos, muito lançamento dos designers, muito protótipo. Eu virei um nome na indústria de óculos, tanto aqui no Brasil quanto fora, uma referência mesmo para ir para uma indústria que eu não conhecia, que eu não pedi licença para entrar, que eu fui entrando assim meio sem saber o que eu ia fazer. Então me dá um certo orgulho de ver que eu consegui me inserir em um lugar onde eu tenho muita paixão. Eu morro de orgulho dessa Chantal dos seis óculos que viraram 300, que viraram 3.000, e de onde eu estou hoje. Me enche de orgulho de ver que eu consegui vencer a timidez usando os óculos e conseguindo levantar a bandeira de que eles são muito mais do que um aparelho fixo, eles são realmente um acessório que conta a história que tem poderes transformativos”, contou.

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Foto: Chantal Goldfinger (Reprodução/Instagram)

Considerando todo esse know-how quando se trata de óculos, não poderíamos deixar de pedir algumas dicas para quem precisa escolher um modelo. “Esteja confortável, fisicamente confortável, veja se ele não está te machucando no nariz, atrás da orelha… Mas mais do que isso, na hora que você colocou a armação, ele fez você se sentir mais alta, mais linda, mais bonita, mais poderosa? Se fez isso, então os óculos desempenharam sua função. Se ele está lá e está meio ‘mé’, assim, ‘ah, beleza, estou enxergando e está tranquilo’, eu acho que não é essa a função dos óculos. Eles têm que te enaltecer e trabalhar para você, te deixar mais maravilhosa ainda”. 

E se, depois de ver uma parte da coleção da Chantal, você ficou com vontade de ter um óculos autêntico como os dela, ela também tem um conselho. “Quem quer óculos diferentes, fuça, porque existem óculos muito legais, muito diferentes no Brasil. Você tem que procurar, você tem que ir atrás, insiste. Se você for em uma ótica e eles quiserem vender mais do mesmo, é transparente, tartaruga, preto, insiste, falando, eu quero ver cor, quero ver coisa diferente, e o que você pode fazer é sempre escolher um óculos de sol, que eles já são mais diferentes, pedir para o óptico tirar lente para você e ver você vai se ver com esse óculos, que é diferente e grandão, com lente de grau, para ver se você gosta ou não”, finalizou. 

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